sexta-feira, 6 de março de 2015

VELHOS AMIGOS NOVOS ARRANJOS

VELHOS AMIGOS NOVOS ARRANJOS 

 Sá & Guarabyra, Flávio e Claudio Venturini e 14 Bis se juntam no show Encontro marcado, em que fazem releituras de sucessos como Caçador de mim, Dona e Espanhola


Ailton Magioli
Estado de Minas: 06/03/2015



Flávio Venturini, Vermelho e  Hely Rodrigues (na frente) com Sergio Magrão, Luiz Carlos Sá, Gutemberg Guarabyra e Claudio Venturini (atrás), durante ensaio em um estúdio na capital (Gladyston Rodrigues/EM/D.A. PRESS)
Flávio Venturini, Vermelho e Hely Rodrigues (na frente) com Sergio Magrão, Luiz Carlos Sá, Gutemberg Guarabyra e Claudio Venturini (atrás), durante ensaio em um estúdio na capital


Sá & Guarabyra, Flávio e Claudio Venturini, Sergio Magrão, Vermelho e Hely Rodrigues, do 14 Bis, olharam-se um para o outro com a interrogação evidente: “Por que não havíamos pensado nisso antes?”, relata Luiz Carlos Sá, de 69 anos, o decano da turma, que, sobre a reação que tiveram ao ouvir a proposta de se reunir em um show. A ideia do Encontro marcado, que inaugura sua turnê amanhã à noite, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, partiu dos empresários Carlos Alberto Xaulim (Cadoro Eventos) e Gegê Lara (Nó de Rosas Produções).

O show já havia se anunciado outras vezes. A primeira, quando Zé Rodrix (1957-2008) convocou todos para duas apresentações. “Foi praticamente um show de cada um”, recorda Sá, lembrando que a experiência voltaria a se repetir no ano passado, porém em um show fechado para uma empresa, em Belo Horizonte, além de passagens por uma casa de shows da capital mineira.

O atual formato, com todos em cena cantando simultaneamente, foi escolhido para esse show, que terá pérolas como Espanhola e Caçador de mim, respectivamente de autoria de Flávio Venturini e Gutemberg Guarabyra e Sergio Magrão e Luiz Carlos Sá, cantadas pela primeira vez, ao vivo, pelos próprios compositores.

PALCO A movimentação de palco foi uma das principais preocupações da turma. “São praticamente todos tocando o tempo todo”, diz Luiz Carlos Sá, lembrando que o encontro inaugural de alguns desses músicos remonta aos anos 1970, no célebre Teatro Opinião, do Rio, quando, prestes a estrear a primeira temporada musical, o então recém-formado trio Sá, Rodrigues & Guarabyra procurava baixista e baterista para completar a formação de piano e dois violões. A escolha recaiu então sobre Sergio Magrão, egresso do Grupo Faya, que acompanhou Zé Rodix em carreira solo, e Luiz Moreno, o Morenão, respectivamente.

Com o fim do trio e a decisão de permanecer em duo, Sá & Guarabyra tiveram de formar uma nova banda para acompanhá-los, recrutando o guitarrista Sérgio Hinds e o violonista Cezar Mercês, oriundos de O Terço. Aos dois se juntariam ainda, por indicação de Milton Nascimento, o tecladista Flavio Venturini.

De Belo Horizonte, a turnê de Encontro marcado seguirá para Juiz de Fora (14 de março), Uberaba (20 de março), Patos de Minas (21 de março) e Divinópolis (9 de maio). Posteriormente, o show prosseguirá em turnê Brasil afora. O repertório é basicamente dedicado aos clássicos de carreira dos sete amigos para comemorar 40 anos de sucesso. Encontro marcado irá ganhar os formatos de CD e DVD, já gravados em parte no Estúdio Minério de Ferro, da banda Jota Quest, em Belo Horizonte.

“O interessante é que nós partimos para rearranjar as canções”, conta Luiz Carlos Sá, salientando que foi uma necessidade diante do fato de que os tons de cada um veem-se modificando ao longo dos anos. O caçula da turma, Cláudio Venturini, que já vem tocando com praticamente todos os companheiros desse show, desde os 14 anos, diz que “é um encontro muito natural, que, na verdade, só não havia se consolidado em show, ainda”.

Recém-chegado da Itália, onde fez algumas apresentações, Flavio Venturini comemora a oportunidade de cantar ao vivo canções como Caçador de mim, o que ele havia feito apenas em estúdio ou em vocais do 14 Bis. “Sugeri que não tivéssemos banda em cena, para que, juntos, todos tocássemos e cantássemos a música um do outro”, observa o cantor, lembrando que, durante o encontro da turma proposto por Zé Rodrix, o autor de Casa no campo acabou não participando de um dos dois shows.

Para o baixista Sergio Magrão, “é tudo junto e misturado”. “A banda-base é o 14 Bis mais Sá & Guarabyra nos violões e vocais e Flávio Venturini no teclado”, explica o músico, lembrando que o mais interessante deste Encontro marcado é o fato de todos eles terem uma história juntos. “Eu, por exemplo, comecei tocando com Sá & Guarabyra, com os quais tenho parcerias como Caçador de mim. Já Flávio Venturini fez Espanhola com Guarabyra”, acrescenta. Os fãs terão oportunidade de ouvir novos arranjos para esses e outros hits, como Dona, Criaturas da noite e Sobradinho.


ENCONTRO MARCADO
Amanhã, às 21h, e domingo, às 19h,
no Grande Teatro do Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Classificação:
livre. Ingressos: Plateia I – R$ 80 (meia) e
R$ 160 (inteira); Plateia II – R$ 70 (meia) e
R$ 140 (meia); Plateia Superior – R$ 60 (meia)
e R$ 120 (inteira), nas bilheterias e www.ingresso.com.

 Ah, são eles! - Márcio Borges


Yes, nós temos Beatuca. Somos todos Beatles, uai, que eram Rolling Stones, como bem pontuou Ronaldo Bastos. Meninos que também eram Yes, eram Genesis e tantos ídolos, tantos gênios a cultuar e admirar.

Mas que eram antes de tudo Brasil, de Cartola a Jobim. Da Tropicália ao cateretê. Do candomblé ao além. Eram o Clube Universal de Todas as Esquinas.

As pedras rolaram.

No Maracanãzinho, naquela noite da Travessia, enfeitada de uma linda Margarida, Bituca e Guarabyra já eram amigos e tornaram-se célebres juntos, praticamente na mesma hora. Luis Carlos Sá, também amigo do Bituca desde aquela época, era jovem jornalista-violonista, lá na sua Zona Norte carioca, de onde mantinha olhos e ouvidos ligados no que se fazia de bom no mundo – e certamente aqueles malucos Beatles mineiros eram algo que se fazia de bom no mundo.

Sá, em tudo e por tudo, é quase um mineiro. Na verdade, sofreu metamorfose, virou um. Sempre ouviu muito bem o chamado de nossas sereias musicais.

Essa minha conversa de Beatles é porque um dia, há muitos anos, Milton e a galera do Clube – nós – foram chamados pela imprensa de Os Beatles brasileiros. Não sei se fomos tanto, mas digo que um mesmo espírito beatlemaníaco e roqueiro há muitos anos baixou em nós todos, do irmãos Venturini ao Vermelho, ao Magrão e Hely, do Bituca ao meus irmãos caçulas.

Baixou e ficou. Juntos, criamos um estilo inclassificável, além dos rótulos. Mas também inconfundível, que todo mundo reconhece na hora: “Ah, são eles!”. E o que isso tem a ver com o show desses meus amigos de fé? Tudo, meu caro, tem tudo a ver. É a prova de que aquele espírito criativo, revolucionário, iconoclasta e rebelde da nossa linda juventude frutificou neles, tornou-se coisa permanente, deu crias maravilhosas e se espalhou tempo afora.

É só ir lá, para ver, ouvir e confirmar.

Márcio Borges, compositor, letrista e escritor, autor de Os sonhos não envelhecem – Histórias
do Clube da Esquina

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