segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Escola que cobra mensalidade de até R$ 500 é a que mais cresce em SP


Matrículas nessas instituições aumentaram 147% desde 2001; nas demais, alta foi de apenas 15% 
Expansão de colégios de baixo custo na cidade confirma a crescente demanda da nova classe média por educação

lalo de almeida/folha imagem
Evelyn Zanni, com suas filhas júlia (à esq.) e Bianca, na escola onde as meninas estudam
Evelyn Zanni, com suas filhas júlia (à esq.) e Bianca, na escola onde as meninas estudam


DANIELA ARAI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando Juraci e Nelson Silva vieram morar em São Paulo, há 40 anos, não tinham trabalho registrado, moravam de aluguel e ganhavam "bem pouquinho". Como a maioria dos vizinhos no Grajaú, zona sul, não tinha condições de pagar um colégio particular para as duas filhas.


Hoje, eles têm casa própria, carro, televisão e uma neta matriculada em escola privada. A renda mensal familiar é de R$ 3.000. "Não somos ricos, mas temos condições."


Essa é a história de muitas famílias que ascenderam à classe média e passaram a matricular seus filhos em escolas particulares.
Segundo pesquisa Datafolha de janeiro deste ano, a classe média cresceu de 57% para 63% do total da população do país, entre 2001 e 2011, enquanto a porcentagem dos excluídos caiu de 33% para 28%.


Levantamento em 962 escolas da capital, por meio do guia "Escolha a escola", da Folha(www.folha.com.br/educacao), revela que as instituições que mais cresceram nos últimos dez anos foram aquelas que cobram mensalidades de até R$ 500.
Elas tiveram um aumento de 147% nas matrículas desde 2001. Nos colégios que cobram mais que isso em pelo menos uma das suas etapas, a alta foi de apenas 15%.


Nesse período, as matrículas na rede pública caíram 14%. Segundo a amostra, 38% dos alunos da rede privada estão em escolas que custam até R$ 500 por mês.


A análise também revelou que 47% dos colégios com mensalidade nessa faixa de preço foram abertos nos últimos dez anos, sendo que, entre os que cobram mais de R$ 500, a proporção é de 23%.


ESCOLA DO BAIRRO


O Instituto Nossa Senhora das Graças, no Parque Edu Chaves, zona norte, é um exemplo dessa expansão. Com mensalidades entre R$ 258 e R$ 492, o colégio veio atender "a uma necessidade do bairro", segundo a proprietária, Darléia dos Santos.
Criado em 2000, o Ingra tinha 85 matrículas. Hoje, são 750, um aumento de 782%. Segundo ela, a maioria dos alunos até o quinto ano está no colégio desde o infantil. A partir do sexto ano, 40% das novas matrículas são de alunos vindos da rede pública.
Foi o caso da filha mais velha da professora Evelyn Zanni. Júlia, 13, estudou na rede pública até o 4º ano, quando foi para colégio particular.


Sua irmã, Bianca, 8, já começou na rede privada. Achei que as oportunidades seriam melhores. Quero que elas façam faculdade e intercâmbio no exterior", planeja Evelyn.


 Para educadores, rede privada não garante qualidade

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que rede privada não é sinônimo de uma educação de qualidade.
Álvaro Chrispino, professor da Federal do Rio, diz que o desejo pelo ensino privado está associado a um "imaginário em que é mais bem visto quem tem filho na escola privada e plano de saúde".


Ele esclarece, porém, que a migração para o setor privado não significa necessariamente um salto qualitativo. "Nós temos escolas públicas de qualidade, assim como privadas de má qualidade."


Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, defende que trocar a escola pública pela privada de baixo custo pode ser um mau negócio. "Além de não significar qualidade, implica em um grande esforço orçamentário para as famílias", afirma.
Para Priscila Cruz, da ONG Todos pela Educação, outros fatores interferem nessa decisão. "As famílias entendem que os seus filhos vão estar menos expostos à violência."


Mas ela também adverte: "Não é o fato de uma escola ser particular que define a sua qualidade. Há excelentes professores em ambas as redes. Muitas vezes, são os mesmos professores da rede pública que atuam nas privadas mais baratas", explica.

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