sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Bilbo é o Michael Corleone da Terra-Média", brinca ator


Desventuras em série
Estreia de primeiro capítulo da trilogia "O Hobbit" encerra atropelos de uma produção que durou sete anos e custou US$ 1 bilhão
folha de são pauloRODRIGO SALEMENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
"O Hobbit" (1937) foi escrito por J.R.R. Tolkien (1892-1973) como contos de ninar para os seus filhos, mas a adaptação do livro para o cinema tirou o sono de muita gente desde que os direitos foram vendidos, em 1969, para o extinto estúdio americano United Artists.
Era o início de uma sequência de incidentes que pode ter chegado ao fim hoje, com a estreia de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", primeiro filme da trilogia que termina em 2014 e custou US$ 1 bilhão.
A confusão tomou forma em 1976, quando o produtor Saul Zaentz adquiriu parte dos direitos da obra. O grupo seria comprado cinco anos depois pelo estúdio MGM.
Após o sucesso de "O Senhor dos Anéis", adaptação de outra obra de Tolkien, que rendeu quase US$ 3 bilhões, a Warner decidiu, em 2005, produzir o "O Hobbit" -cuja história se passa 60 anos antes. Mas o estúdio só podia filmar a história. Os direitos de distribuição ainda eram da MGM.
Em 2006, quando as duas empresas entraram em acordo, Peter Jackson, diretor de "O Senhor dos Anéis", processou a New Line, selo da Warner, requerendo fatia maior dos lucros dos filmes.
Jackson foi demitido da New Line. A MGM, preocupada com a reação dos fãs, pressionou e recontratou o cineasta, mas como produtor.
Guillermo del Toro ("Hellboy") foi anunciado como diretor de "O Hobbit" em 2007. Três anos depois, o filme ainda não havia recebido o sinal verde, pois a MGM não tinha dinheiro para bancá-lo.
Del Toro decidiu sair e Jackson reassumiu a direção. "Senti que o filme não aconteceria", diz ele à Folha. "Eu me preparei emocionalmente para não fazer o filme."
Dois meses antes de rodar na Nova Zelândia, Jackson enfrentou uma greve de atores, liderada por um sindicato australiano que reclamava de infrações aos direitos dos envolvidos na produção. A situação só foi resolvida com a intervenção do governo local, temendo perder uma de suas maiores atrações turísticas.
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GANDALF (SIR IAN MCKELLEN)
O mago não é tão poderoso quanto na trilogia anterior, mas entra em mais cenas de ação
GOLLUM (ANDY SERKIS)
Vivendo no interior das Montanhas Sombrias, a criatura perde o Um Anel que o deixa invisível e um certo hobbit encontra a jóia
BILBO BOLSEIRO (MARTIN FREEMAN)
Apesar de o conhecermos mais velho em "O Senhor dos Anéis" e com a cara de Ian Holm, Bilbo é um jovem e acomodado hobbit que parte em uma aventura para ajudar 13 anões a recuperar seu reino perdido para o dragão Smaug


EPOPEIA HOBBITIANA
1969
Tolkien vende os direitos de "O Hobbit" e "O Senhor dos Anéis" para o estúdio United Artists, comprado depois pela MGM
1976
O produtor Saul Zaentz adquire os direitos de produzir um filme baseado nas duas obras
2006
Após "O Senhor dos Anéis", a New Line/Warner, dona dos direitos de filmagem de "O Hobbit", entra em acordo com a MGM, que possui os direitos de distribuição. Por causa de um processo, Peter Jackson é demitido
2007
As três partes entram em acordo e Jackson assume como produtor, deixando Guillermo del Toro na direção
2010
Por causa dos atrasos, Del Toro deixa o projeto. Jackson reassume.
A Federação Internacional de Atores aconselha aos atores sindicalizados da Nova Zelândia a não trabalhar em "O Hobbit"
2011
As filmagens de "O Hobbit" (em duas partes) começam na Nova Zelândia
2012
Os produtores anunciam que agora será uma trilogia O PETA acusa a produção de maus tratos de animais a um mês da estreia

    "Bilbo é o Michael Corleone da Terra-Média", brinca ator
    Inglês Martin Freeman, da série "Sherlock", quase não conseguiu fazer "O Hobbit" por causa dos adiamentos
    Inicialmente planejado para ser feito em duas partes, "O Hobbit" virou uma trilogia no meio das filmagens
    Divulgação
    A comitiva de anões em cena de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", de Peter Jackson
    A comitiva de anões em cena de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", de Peter Jackson
    DO ENVIADO A NOVA YORKA maldição de "O Hobbit" não ficou apenas no aspecto financeiro.
    Após o primeiro-ministro neozelandês, John Key, avalizar lei que desobriga produções cinematográficas de terem atores sindicalizados, garantindo o filme no país, o diretor Peter Jackson foi internado com uma úlcera.
    Em março de 2011, com o cineasta recuperado, "O Hobbit" entrou em produção.
    No meio de toda a confusão, o elenco não sabia qual seria seu futuro.
    "Eu pensei que não faria mais o filme, porque havia um conflito de agenda", revela Martin Freeman, dono do papel de Bilbo.
    "Peter mudou as filmagens por minha causa e fiquei muito feliz em obter o papel."
    Sir Ian McKellen, que retorna no papel do mago Gandalf, sentiu o mesmo. "Eu já estava listando as coisas negativas para me acostumar com a ideia", brinca o ator.
    "O Hobbit" não só foi feito, como os produtores resolveram transformar dois filmes (o plano inicial) em três -ao contrário de "O Senhor dos Anéis", "O Hobbit" só é um livro de 300 páginas.
    "Não foi por ganância", afirma Philippa Boyes, roteirista e produtora do filme.
    Freeman conta que não se sentiu enganado por, de repente, protagonizar três filmes. "Quem faz dois, faz três. Eu preciso confiar em Peter", conta o inglês.
    "Bilbo é o Michal Corleone da Terra-Média. Ele termina completamente diferente de como começa", diz Freeman, em referência as mudanças sofridas pelo protagonista da trilogia "O Poderoso Chefão".
    MAUS TRATOS
    Contudo, antes de pensar nas sequências "A Desolação de Smaug" (2013) e "Lá e De Volta Outra Vez" (2014), Peter Jackson ainda lidou com acusações de maus tratos com animais.
    "É um absurdo. Nenhum animal foi machucado", rebate o diretor.
    "Isso parece orquestrado. Mas não vamos chorar como bebês. Não vão nos derrubar", exagera Philipa.
    Nem mesmo se explorarem as referências a fumo de ervas e consumo de cogumelos que aparecem no longa?
    "É minha culpa", diverte-se o diretor Peter Jackson. "Tenho um senso de humor sacana."

      Segundo filme revelará dragão e novas criaturas
      DO ENVIADO A NOVA YORK
      Como o título "A Desolação de Smaug" entrega, o segundo capítulo da trilogia "O Hobbit" mostrará o encontro da comitiva de anões e Bilbo com o dragão Smaug no interior da Montanha Solitária.
      "Podemos dizer com certeza que teremos um pouco de ação com dragão no próximo filme", brinca a roteirista e produtora Philippa Boyens.
      O mago Gandalf terá sua história paralela amplificada em relação ao livro. "Ele some três vezes no texto, mas só sabemos o que aconteceu em relatos. Mostraremos os eventos em tempo real", diz Philippa.
      O segundo filme terá novos personagens, como Beorn (Mikael Persbrandt), um humano que se transforma em urso; Dáin (Billy Connoly), primo de Thórin e rei anão das Colinas de Ferro; a elfa Tauriel (Evangeline Lilly); e o guerreiro Bard (Luke Evans), além do retorno de Legolas (Orlando Bloom) à série.

      NOVAS CARAS
      Conheça os personagens que estreiam na Terra-Média
      THÓRIN (RICHARD ARMITAGE)
      O rei anão lidera a comitiva rumo à Montanha Solitária, onde encontra-se o reino perdido de Erebor, tesouros e um dragão em seus escombros
      RADAGAST (SYLVESTER MCCOY)
      Um dos cinco magos da Terra-Média. Sua área de atuação é a natureza, que passa a ser ameaçada pela volta de um antigo mal
      AZOG (MANU BENNETT)
      O orc que decapita o avô de Thórin em uma batalha em Moria, volta para perseguir o anão
      GRÃO ORC (BARRY HUMPHRIES)
      O monarca fanfarrão que comanda os goblins e orcs nas profundezas das Montanhas Sombrias

        CRÍTICA FANTASIA
        Trilogia começa repetindo o que já foi testado e aprovado
        CÁSSIO STARLING CARLOSCRÍTICO DA FOLHAHá filmes como religiões. Pô-los em questão equivale a cometer heresias. "O Hobbit" faz parte da espécie de "O Senhor dos Anéis" ou "Batman" -funciona à base de adesão. Seus admiradores não são apenas fãs, são fanáticos.
        Por isso, tanto faz se o primeiro título da nova trilogia de Peter Jackson se resume a oferecer mais do mesmo. Seus devotos já decidiram que o filme é o maior espetáculo da Terra e ponto final.
        Quem não faz parte dessa legião, mas não resiste a um blockbuster, vai pagar caro para ver. Corre, porém, o risco de ficar com a impressão de "já vi este filme".
        Apesar do subtítulo, "Uma Jornada Inesperada" é uma produção muitíssimo esperada pelo público que, na década passada, engordou os senhores de Wall Street com quase US$ 3 bilhões para "O Senhor dos Anéis".
        Para não pôr em risco a fidelidade desses espectadores, a nova parte da saga começa como uma repetição do que já foi testado e aprovado.
        A evocação do "era uma vez", a aventura do aprendizado, a apresentação cômica, e depois trágica, dos novos companheiros, misturada à reaparição de personagens como Gandalf, servem para fortalecer o vínculo, forjar o sentimento de pertencer a uma ordem de iniciados.
        É fundamental também conquistar os recém-chegados ao mercado, um espectador que não chegou a ver a primeira trilogia no cinema. Para esse público, sobretudo, é preciso recomeçar, usar o recurso da "prequel" (história que conta a origem do filme anterior) para agregar elementos guardados e, desse modo, fortalecer o mito.
        O problema desse tipo de estratégia é definir um limite entre repetição e saturação. Para escapar da redundância, "O Hobbit" aposta em efeitos visuais ainda mais espetaculares por meio da tecnologia HFR, cujo maior volume de imagens pretende amplificar o encantamento.
        Não vão faltar aqueles capazes de ver cada partícula em meio ao turbilhão de ações. Nós outros, servidos com simples olhos humanos, muitos já gastos ou defeituosos, teremos de enfrentar longuíssimas 2h46 para chegar à conclusão de que o resultado ficou aquém da imaginação.

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