quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

MÚSICA » Obra aberta (Mario Adnet ) - Ailton Magioli‏

O compositor e maestro Mario Adnet volta ao repertório de Villa-Lobos. Novo disco reuniu os cantores Edu Lobo, Milton Nascimento e Monica Salmaso. Letras ganharam destaque especial 

Ailton Magioli
Estado de Minas: 05/12/2012 
De volta ao universo com o qual havia trabalhado no disco Coração popular, há uma década, o arranjador, cantor, compositor e maestro carioca Mario Adnet brinda os fãs de Heitor Villa-Lobos com o que classifica de visita mais madura ao repertório do autor: o CD Mario Adnet – Um olhar sobre Villa-Lobos, recém-lançado pelo selo Borandá.
“Villa foi um compositor sem fronteiras”, constata Mario, recorrendo ao próprio homenageado, que dizia que suas músicas eram cartas escritas à posteridade, mas sem resposta à vista. “Engraçado... Desta vez, fui mais respeitoso à obra dele ainda, porque não desconstruí nada”, diz Adnet, que reuniu um time de primeiríssima linha para interpretar a música genial do autor das Bachianas.

Com a ajuda da filha, Joana Adnet, Mario diz ter escolhido as faixas quase intuitivamente. O repertório é cantado por ele e a irmã, Muiza Adnet (Realejo/ Seresta nº 12, com poesia de Alvaro Moreyra); Paula Santoro (Tristorosa, com poesia de Cacaso); Edu Lobo (Trenzinho do caipira/ Tocata bachianas brasileiras nº 2, 4º mov., com poesia de Ferreira Gullar); Mônica Salmaso (Dança – Martelo – Bachianas brasileiras nº 5, 2º mov., com poesia de Manuel Bandeira); e Milton Nascimento (Aria – Cantilena – Bachianas brasileiras nº 5, 1º mov., com poesia de Ruth Valadares Correa). Peças instrumentais também integram o CD, que conta com o violonista Yamandu Costa, entre outros.

Caipira Edu Lobo foi o primeiro artista popular a gravar Trenzinho do caipira, em 1978, no disco Camaleão, depois de descobrir a poesia dessa composição dentro do Poema sujo, de Ferreira Gullar. “Peguei a orquestração original de Villa, adaptei-a apenas aos sopros que tinha para gravar e não ficou muito diferente”, relata o maestro. Para ele, em gravações de orquestra a peça geralmente ganha muitas percussões, escritas pelo próprio autor. “Às vezes, elas se sobrepõem a detalhes melódicos e harmônicos que a gente não ouve. No original, tem sopros e violinos, mas eu os tirei e botei a voz do Edu”, informa.
Atento a esse e a outros detalhes da obra de Heitor Villa-Lobos, Mario Adnet lembra que a peça gravada por Milton Nascimento é a mais famosa. “Só que todos conhecem a parte que Marisa Monte cantou no encerramento das Olimpíadas de Londres”, comenta Adnet. Ele salienta o fato de a letra ser nitidamente um poema, musicado pelo maestro diferentemente da letra musical. “Milton Nascimento cantou muito bem, exatamente como eu havia imaginado. Foi uma coisa diferente, sublime”, elogia Mario.

Cacaso A cantora Paula Santoro – que Adnet conheceu em 1988, na casa do escritor mineiro Cacaso – não por acaso comparece na faixa Tristorosa, que ganhou letra do próprio poeta. “Foi a forma que encontrei de lincar nossa amizade àquele momento”, justifica.

Já a presença de Mônica Salmaso se deve à antiga amizade. “Ela é uma irmã querida. Temos afinidade musical muito grande”, diz Mario Adnet, que sempre propõe desafios à cantora. “Até o fim, ela não sabia se ia dar certo”, diverte-se. Monica cantou o 2º movimento da mesma Bachiana (nº 5) gravada por Milton Nascimento.

Dentro do câmpus
Apesar das constantes tentativas que fez no Brasil, o sonho de Mario Adnet de levar a música para a universidade vai ocorrer nos Estados Unidos. O maestro embarca hoje para aquele país. Domingo, ele vai reger o concerto de fim de ano na Universidade de Mont Clair, em Nova Jersey. “O programa terá peças minhas, de Moacir Santos, de Baden Powell e de Tom Jobim”, antecipa Mario, contando que os ensaios vêm ocorrendo há meses. “Abre-se uma porta muito importante, o que venho tentando aqui no Brasil”, diz. Concertos como esse, afirma Mario Adnet, representam uma forma de plantar a semente da música no universo universitário.

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