segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Alimentos biofortificados-Paula Takahashi‏

Vencedora do Prêmio Capes 2012, pesquisa da Federal de Lavras busca enriquecer plantios com fertilizantes bons para o solo e para melhorar produtos de consumo humano e animal 

Paula Takahashi
Estado de Minas: 14/01/2013 
Em nome da produtividade no campo, os níveis de nutrientes nos alimentos foram deixados de lado, prejudicando milhões de pessoas vítimas de desnutrição em todo o mundo. Na tentativa de reverter esse quadro, pesquisadores apostam alto na chamada biofortificação de alimentos, que pretende aumentar o teor dessas substâncias fundamentais para a alimentação humana e animal, por meio do manejo da adubação de culturas agrícolas. Em Minas Gerais, pesquisa inovadora na área, realizada por equipe de estudiosos da Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi reconhecida pela comunidade acadêmica ao vencer o Prêmio Capes de Teses 2012.
De autoria do engenheiro-agrônomo e doutor em ciência do solo Sílvio Junio Ramos, a tese “Biofortificação, variação genotípica e metabolismo envolvendo selênio em alface e brócolis” revela a importância de investir na elaboração de fertilizantes enriquecidos que, além de garantir o aumento da produção agrícola, ofereçam maior teor de nutrientes para os alimentos. “Isso está sendo implementado nos Estados Unidos, Canadá, China, Inglaterra, Turquia, Finlândia, Austrália e Índia. O desafio agora é produzir fertilizantes para a adubação das lavouras que sejam capazes de aumentar a produção agrícola e proporcionar teores suficientes de minerais essenciais nos alimentos produzidos no Brasil”, afirma o especialista.
Conhecida como biofortificação agronômica, realizada por meio de adubação, a técnica deve ser complementada com a versão genética, que envolve o melhoramento vegetal. “Há parceria entre a Embrapa e a Ufla para a seleção de cultivares que tenham maior potencial de absorção dos nutrientes fornecidos por meio desses fertilizantes. Por isso as duas linhas de pesquisa devem caminhar juntas”, acrescenta Sílvio. Com variedades mais propensas a extrair os nutrientes oferecidos por adubos enriquecidos, melhores serão os efeitos na alimentação humana.
O pesquisador explica que seus estudos para o doutoramento foram direcionados à alface e ao brócolis, modelos da pesquisa, mas outros alimentos certamente poderiam ser usados com o mesmo intuito. “Esse foco tem que ser expandido para culturas agrícolas que têm maior impacto na alimentação, como arroz, feijão, trigo, soja e as forrageiras, essas duas últimas principalmente para a alimentação animal”, observa. O avanço para o enriquecimento dos alimentos da cesta básica já é feito pelo pesquisador em parceria com Luiz Roberto Guimarães Guilherme e Valdemar Faquin, ambos professores da Federal de Lavras.
ESSENCIAL PARA A SAÚDE A escolha do selênio – micronutriente mineral com poderosa ação antioxidante –  pode ser justificada. Estima-se que as deficiências nutricionais envolvendo esse nutriente atinjam 15% da população mundial. A principal causa estaria na baixa disponibilidade do elemento na maioria dos solos cultiváveis, que não são fertilizados adequadamente. Solos do cerrado brasileiro, onde hoje se concentra a maior parte da produção agrícola do país, em especial de grãos, já se mostraram pobres em selênio. “A cultura colhida ali também será deficiente”, garante Sílvio.
A carência do mineral está relacionada à incidência de certos tipos de câncer, anomalias morfológicas, doenças cardiovasculares, entre outras. O pesquisador lembra que a biofortificação agronômica com selênio já é realidade na Finlândia desde 1980. No texto da tese, ele explica que, para elevar o teor desse elemento na carne, leite, produtos lácteos e agrícolas, o mineral foi incorporado aos fertilizantes do país numa proporção de 10mg por quilo. O resultado é uma clara redução nas taxa de doenças cardiovasculares e de certos tipos de câncer na população desse país.

Rede nacional potencializa ideia 
Publicação: 14/01/2013 04:00
A Universidade Federal de Lavras (Ufla) mantém uma rede de pesquisas interdisciplinar de âmbito nacional, chamada Rede Agrometais, que conta com parcerias de outras universidades e recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Segundo o professor Luiz Roberto Guimarães, uma das linhas de pesquisa da Agrometais está relacionada à qualidade e segurança dos alimentos produzidos no campo, que inclui a avaliação de elementos-traço essenciais como zinco, ferro e selênio em insumos agropecuários, áreas cultivadas e produtos agrícolas.
Nessa linha de pesquisa, vem sendo realizado um trabalho em parceria com a Embrapa que busca o enriquecimento de mandioca com zinco, ferro, selênio e pró-vitamina A. “Estamos começando a fazer a seleção das espécies. Já identificamos algumas que têm capacidade de armazenar mais os elementos”, antecipa Luiz Roberto. O próximo passo é realizar o plantio das variedades mais propensas à absorção dos nutrientes para verificação do desempenho no campo. Em 2009, a Embrapa já havia anunciado a mandioca Jari, com maior teor de pró-vitamina A, conhecida como betacaroteno. O resultado foi proveniente de uma série de cruzamentos entre a variedade aipim.
Os avanços não param por aí. O projeto BioFORT, coordenado pela Embrapa e com objetivo de trabalhar pela biofortificação de alimentos no Brasil, já tem resultados em outras variedades além de uma mandioca com 40 vezes mais vitamina A que a comum. A meta da Embrapa é produzir variedades de abóbora e milho com altos teores de carotenoides e outros precursores de vitamina A; arroz, feijão-caupi, trigo e feijão com grande concentração de ferro e zinco – o último também com grande resistência à seca –; e mandioca e batata-doce mais ricas em betacaroteno. Até o momento, já foram desenvolvidas 10 cultivares, dos quais três de mandioca e uma de batata-doce com maiores teores de betacaroteno, três de feijão-caupi e três de feijão comum mais ricos em ferro e zinco.
Para levar as mudas para o campo, está em andamento o projeto Alimentos Biofortificados, que começa a se expandir nos estados do Nordeste e Sudeste. Segundo informações do BioFORT, as unidades de multiplicação de mudas de batata-doce estão sendo instaladas em escolas agrícolas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Maranhão e Ceará com objetivo de formar técnicos agrícolas que serão os multiplicadores das tecnologias da Embrapa nas localidades onde moram, atendendo as demandas dos produtores da região pelas variedades biofortificadas. (PT)

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