segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

O cérebro de Obama
Governo americano investirá US$ 3 bilhões num "projeto genoma" para desvendar os 100 trilhões de conexões que compõem a mente humana
O governo dos EUA deve anunciar em março um plano para revolucionar o estudo do cérebro humano. Segundo cientistas familiarizados com a proposta, haveria investimentos de mais de US$ 3 bilhões nos próximos dez anos.
A ideia é não apenas encontrar novas terapias para doenças psiquiátricas e neurológicas como também mergulhar mais fundo no conhecimento da mente humana. E, quem sabe, até desvendar alguns dos mistérios que cercam a consciência e o livre-arbítrio.
Embora os detalhes ainda não sejam conhecidos, a proposta centrará esforços em mapear com minúcia rigorosa a atividade cerebral. Isso, em princípio, permitiria aos pesquisadores compreender melhor as complicadas interações entre os cerca de 100 bilhões de neurônios que, conectados entre si, formam os 100 trilhões de sinapses da mente humana.
Esse projeto de mapeamento, que chegou a ser mencionado pelo presidente Barack Obama em seu discurso sobre o Estado da União, soma-se a outros que prometem revolucionar o entendimento da mente. Em especial, ao "Blue Brain Project", financiado principalmente pela Suíça, que pretende, por engenharia reversa, recriar as funções do cérebro "in silica" -ou seja, em circuitos de computadores.
São cada vez mais frequentes as apostas de governos de países industrializados em projetos de "Big Science". Isto é, iniciativas de grande escala que envolvem a administração e o Tesouro públicos, as universidades e a comunidade científica para cumprir um objetivo específico.
Esse modelo teve início na Segunda Guerra Mundial e resultou no desenvolvimento do radar e da bomba atômica, por exemplo. Depois, serviu para colocar o homem na Lua e, mais recentemente, produziu o sequenciamento do genoma humano e a confirmação da existência do bóson de Higgs.
Houve também projetos menos exitosos, como o plano de descobrir a cura do câncer, lançado pelo presidente americano Richard Nixon nos anos 1970. O objetivo, como se sabe, não foi alcançado.
Ainda assim, seria um equívoco classificar aquela iniciativa como fracasso. Parte do muito que se sabe hoje sobre a biologia do câncer saiu de estudos ali semeados. Mesmo quando a meta declarada não é atingida, o esforço gera subprodutos que não serão descartados.
Esse potencial torna a "Big Science" especialmente atraente para políticos: ela permite prometer num só discurso o avanço do conhecimento e a geração de tecnologias e empregos. E definir os limites dentro dos quais o investimento público de bilhões vale a pena nunca foi uma ciência exata.


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Ética sem desconto
Ficou longe de ser, como pretende o corregedor nacional de Justiça, Francisco Falcão, um "marco para o Judiciário brasileiro". Ainda assim, há que reconhecer certo avanço na resolução aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça que disciplina o patrocínio para eventos de magistrados.
A medida impede que juízes participem de encontros promovidos ou patrocinados por empresas, quando o transporte ou a hospedagem forem subsidiados por entidades privadas com fins lucrativos. Abre-se exceção para palestrante, presidente de mesa, moderador, debatedor ou organizador.
Além disso, a resolução proíbe que magistrados recebam prêmios, auxílios ou contribuições de pessoas físicas ou jurídicas.
As iniciativas vão na direção correta. Aliás, chega a ser constrangedor que o CNJ precise editar uma resolução para repetir interdições que, explícita ou implicitamente, já figuram na Constituição e no Código de Ética da Magistratura.
No entanto, a medida era necessária. São frequentes as notícias de que magistrados são acomodados em hotéis de luxo para encontros patrocinados por entidades com processos nos tribunais.
Em dezembro, a Associação Paulista de Magistrados distribuiu, durante uma festa para mais de mil pessoas, brindes oferecidos por empresas públicas e privadas. Entre os mimos havia automóveis, cruzeiros, viagens internacionais e hospedagem em resorts, com direito a acompanhante.
Juízes não deveriam se permitir esse tipo de benesse. Dúvidas, ainda que remotas, sobre a imparcialidade de seus julgamentos apenas contribuem para macular a imagem da Justiça.
Melhor andaria o CNJ se a decisão tivesse sido radical -como na proposta original da ministra Eliana Calmon. Mas, numa concessão classista, o órgão autorizou o patrocínio a eventos promovidos por tribunais, conselhos de Justiça e escolas oficiais da magistratura. Nesses casos, a subvenção não pode ultrapassar 30% dos gastos totais.
A cota é indefensável. Primeiro, porque pode servir de brecha para que a resolução termine descumprida. Depois, por questão de princípio: como justificar que 30% de relação imprópria seja tolerável?
Se, como assegura o ministro Joaquim Barbosa, presidente do CNJ, a proibição total virá no futuro, então por que a medida já não fixou prazo para a transição?
Será lamentável se Barbosa, que granjeou respeito como relator do mensalão, não alavancar esse capital pessoal para pôr fim a maus costumes na sua classe.

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