quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Penicilina deu impulso à revolução sexual, diz estudo

folha de são paulo

Cura para a sífilis iniciou comportamento mais liberal já nos anos 1950
Conclusão de pesquisa localiza mudança comportamental antes da popularização da pílula nos anos 1960
RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULONa década de 1960, a pílula anticoncepcional quase que eliminou o risco de gestações indesejadas, criando a era do "amor livre" e a revolução sexual no Ocidente -frutos também de mudanças culturais.
Mas um novo estudo mostra que a tal revolução começou anos antes, graças ao uso disseminado da penicilina para combater a sífilis -doença venérea que chegou a ser proporcionalmente tão letal quanto a Aids seria depois.
Os dados coletados pelo economista Andrew Francis são persuasivos. Francis, professor da Universidade Emory, de Atlanta, no sul dos EUA, publicou sua análise na revista científica "Archives of Sexual Behavior".
CURA FÁCIL
É simples. A penicilina reduziu muito o risco de morrer de sífilis. Quem pegava a doença podia ser facilmente curado. E quanto maior e melhor a chance de fazer sexo "arriscado", fora do casamento, com estranhos, na adolescência, mais as pessoas procuravam a atividade.
Francis, um economista, compara a atitude das pessoas com a clássica lei da oferta e da procura. O custo da mercadoria baixou? As pessoas compram mais. Também vale para o sexo.
Em uma década, entre o fim dos anos 1940 e os anos 1950, a incidência de sífilis caiu 95% e a mortalidade pela doença despencou 75%, enquanto as taxas de nascimentos de bebês concebidos fora do casamento, a gravidez na adolescência e a incidência da gonorreia -indicadores usados pelo pesquisador para detectar o comportamento sexual mais liberal- subiam nos EUA.
Francis também compara a epidemia de sífilis com a de Aids. "Estudos recentes relatam que o desenvolvimento da terapia antirretroviral pode ter levado alguns homens que fazem sexo com homens a se preocupar menos com a transmissão do HIV e, portanto, a se tornar mais propensos a comportamentos de risco", diz o economista.
Para Francis, essa mudança de atitude pode ter surgido por esses homens acharem que o risco de transmissão é menor por causa da terapia antirretroviral ou pela crença de que contrair o HIV não é mais temível porque os remédios prolongam a expectativa de vida das pessoas infectadas com o vírus.
O economista diz que a penicilina pode ter tido um efeito similar no comportamento sexual e, portanto, a propagação do HIV década atrás pode ter sido facilitada pelo colapso da sífilis.
Apesar de o trabalho só ter usado números dos Estados Unidos, Francis acredita que suas conclusões se aplicam a outros países.
"Certamente o colapso da sífilis por causa da penicilina é um fator importante por trás da mudança de comportamento sexual outras regiões", disse o economista à Folha.



SÍFILIS
São Paulo tem cinco novos casos por dia
Dados do Instituto Emílio Ribas de São Paulo indicam que é o sexo oral desprotegido o atual vilão na transmissão da doença. A cada dia, cinco casos novos de sífilis são confirmados, a maioria entre homens de 40 a 43 anos. Entre novembro e dezembro de 2011, 369 casos foram confirmados.

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