sexta-feira, 8 de março de 2013

DISCO » Troca de afagos gera belo clássico‏


Estado de Minas: 08/03/2013 

Os minutos que marcaram o trajeto do ônibus entre o terminal de embarque e a aeronave, onde se encontraram casualmente na ponte aérea Rio-São Paulo, no ano passado, foram suficientes para que Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, o Guinga, de 62 anos, quebrasse a barreira da inibição e dissesse a Francis Hime, de 63, que tinha vontade de fazer um disco com ele. Algumas reuniões na casa de Francis e surgiria Francis e Guinga, disco da Biscoito Fino que já nascia um clássico.

Afinal, não é todo dia que se tem a oportunidade de reunir em estúdio dois compositores e instrumentistas do primeiro time da MPB, cuja admiração mútua contribuiu para que o produto fosse ensaiado e gravado nos intervalos de agenda da carreira solo de cada um. “E ainda tivemos sorte, porque Olivia Hime, mulher de Francis e diretora artística da gravadora, viabilizou o projeto”, reconhece Guinga. Para ele, além de compositor muito inspirado, Francis Hime é um romântico. “Um Tchaikovsky da música brasileira”, empolga-se, salientando ainda o viés nacionalista e as lides eruditas da obra do novo parceiro.

Além de A ver navios, com letra de Olivia Hime, e Doentia, com melodia também composta pelos dois e letra de Thiago Amud, Guinga e Francis traz, entre as inéditas, Cambono, afrossamba de Guinga e o mesmo Thiago Amud. No mais, eles optaram por juntar composições próprias em pares, de forma que uma determinada canção de Guinga tivesse a ver com certo tema de Francis Hime, e vice-versa. Assim foram-se formando os encontros das músicas Nem mais um pio e Passaredo; Saci e Parintintin; Noturna e Minha; e A noiva da cidade e Senhorinha.

Mas Guinga e Francis Hime também gravaram faixas de apenas uma canção, como no caso de Saudades de amar, de Francis e Vinicius de Morais, que Guinga canta acompanhado do piano de Francis, e Mar de Maracanã, de Guinga e Edu Kneip, em que Francis canta acompanhado do violão de Guinga. Para Francis Hime, a música de Guinga é de grande originalidade. “Ele descobre caminhos melódicos e harmônicos surpreendentes, que vão fundo na emoção. Aliás, ele é um poço de emoções”, afirma o cantor e compositor, para quem o trabalho com o novo parceiro flui com naturalidade.

“Guinga me deu a primeira parte de A ver navios e a segunda parte me veio logo, logo. E Doentia foi da mesma forma. Adoro o jeito de ele cantar, como um autêntico seresteiro”, elogia Francis.

Resistência


A despeito do momento de relativa baixa da MPB no rádio e na TV, o violonista carioca diz não ser daqueles que julgam o passado sempre melhor. “Ainda que haja uma visível deterioração da qualidade da música, paralelamente à mediocrização do consumo, Vinicius de Morais já reclamava da mesma coisa há 50 anos”, afirma Guinga, para quem os verdadeiros artistas sempre vão encontrar uma certa resistência da grande mídia. Para ele, “o não entendimento da arte profunda é constante e não é e hoje. Fora o fato de que tudo isso nos obriga a criar mais e melhor”, conclui Guinga.

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