segunda-feira, 25 de março de 2013

Livro reúne cartas e diários escritos por 16 jovens durante a Segunda Guerra Mundial

folha de são paulo

FOLHATEEN
Guerra dos meninos
THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”Relatos de guerra sem nenhum glamour de filme de Hollywood. Sem heróis e quase nenhum final feliz. É o que encerram as páginas de "Éramos Jovens na Guerra", nas prateleiras das livrarias.
As autoras, a americana Sarah Wallis e a russa Svetlana Palmer, radicadas na Inglaterra, pesquisaram por dez anos e reuniram em um volume trechos de cartas e diários de 16 adolescentes escritos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Editados em ordem cronológica, os textos montam um relato do conflito no dia a dia das pessoas, quase sempre longe dos campos de batalha, mas com o sofrimento que se espalhou pela Europa.
São jovens alemães, russos, ingleses, franceses, poloneses e até americanos e japoneses. Todos conviveram com violência, fome, saudade, dor e desesperança.
Eles estavam dos dois lados da guerra e suas histórias mostram como o decorrer do conflito foi mudando a visão do mundo de cada um.
Soldados no início orgulhosos de suas fardas e armas vão aos poucos abrindo os olhos para a estupidez de um confronto sem sentido. Outros sentem o cerco cada vez mais agressivo que sofrem por causa de sua etnia.
Nesta página estão trechos de três autores. O russo Yura Ryabinkin, de 15 anos, passa fome e fica doente quando sua família, vivendo num apartamento frio, começa a receber apenas uma ração diária de pão. Seu compatriota Vasily Baranov, 18, é agredido e escravizado em um campo de concentração.
Longe de um sofrimento atroz como o dos rapazes, a francesa Michele Singer, 17, ainda tem tranquilidade para admirar os galantes soldados italianos que entram em seu país. Uma adolescente normal, num cenário que se deteriorava a sua volta, sem que ela percebesse.
Apenas três dos garotos que têm seus textos compilados no livro sobreviveram até o fim da guerra. Por isso, alguns relatos são interrompidos de uma forma abrupta.
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YURA, 15, RUSSO
23.out.1941 - Tão fraco que mal consigo me mexer. Mamãe diz que meu rosto começou a inchar. É tudo por causa da falta de comida. Eu não cuido muito bem de mim. Durmo vestido, lavo um pouco o rosto pela manhã, deixei de lavar as mãos com sabão, não mudo a roupa. Toda noite eu vou dormir e sonho com pão, manteiga, ervilhas e batatas. Só consigo pensar que, quando acabar a noite, daqui a 12 horas, receberei minha ração de pão. Fiquei mais fraco, minha mão treme quando escrevo. Meus joelhos estão tão fracos que eu não consigo dar um passo sem cair.
MICHELINE, 17, FRANCESA
6.ago.1943 - Tem um oficialzinho italiano realmente adorável hospedado no hotel. Pensei nele a noite toda. Ainda não conversei com ele e de repente fiquei me perguntando: por que não? Eu sempre achei que meu primeiro amor seria um piloto inglês, este oferece o prazer adicional de ser uma surpresa e fazer rolar por terra todas as minhas teorias. Ele parece tão triste, com seus lindos olhos azuis. Minha imaginação desembestou, e tenho sonhado com os planos mais estapafúrdios para dar um jeito de conhecê-lo.
VASILY, 18, RUSSO
3-5.set.1943 - Dois de nós recebemos um tapa na cara e fui me deitar rangendo os dentes de dor. Eles estão sempre rindo de nós, acham que somos sujos e incultos. O capataz espancou um sujeito porque assoou o nariz no chão. Sua risada e suas zombarias estão me matando. Estou começando a me detestar e a me perguntar se sou realmente um porco, como eles dizem. Só queria estar de volta a minha boa e velha casa, junto aos dois salgueiros e ao lindo e frondoso álamo. Nunca mais voltarei a ver minha casa, nem mesmo haverá um corvo que leve para lá os meus ossos.

    Anne Frank escreveu o relato mais famoso
    DO EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”"O Diário de Anne Frank", um dos livros mais traduzidos no mundo -lançado em 93 países- é o mais conhecido relato de guerra pelos olhos de um adolescente.
    Annelisse Maria Frank (1929-1945) era uma garota alemã de origem judaica que passou dois anos escondida com sua família em um cômodo secreto de um edifício comercial em Amsterdã, na Holanda, entre 1942 e 1944.
    Ela manteve um diário até ser presa e enviada para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.
    Depois, ela e a irmã Margot foram transferidas para o campo de Bergen-Belsen, na Alemanha. Elas morreram ali em março de 1945, de tifo. Anne tinha 15 anos. Margot, 19.
    A publicação póstuma de seus relatos sobre o dia a dia dos judeus perseguidos pelos alemães tem reconhecidas suas qualidades literárias pela crítica especializada.
    O diário, que Anne ganhara no seu 13º aniversário, foi recuperado por seu pai, Otto Frank. Único sobrevivente da família, ele voltou a Amsterdã depois da guerra e conseguiu publicar o livro na Holanda em 1947. Depois seria editado na França e na Alemanha, em 1950, e nos Estados Unidos, em 1952.
    A história da garota enclausurada teve seis adaptações para o cinema. A mais famosa é de 1959, com a atriz americana Millie Perkins.

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