sexta-feira, 21 de junho de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo
Além da linha vermelha
Ao menos na retórica, o presidente americano, Barack Obama, aumentou a pressão sobre o ditador da Síria, Bashar al-Assad.
O governo dos Estados Unidos afirmou na semana passada que o regime sírio cruzou uma "linha vermelha" ao usar armas químicas contra os rebeldes. De 100 a 150 pessoas teriam morrido em ataques com o gás sarin (agente paralisante que dificulta a respiração).
Em resposta, um conselheiro de Segurança Nacional dos EUA anunciou que o país aumentará a ajuda aos insurgentes sírios. Ainda em 2012, Obama havia dito que passar daquela linha seria inaceitável.
Embora não esteja claro como esse auxílio será incrementado, parece certo que o tom mais assertivo de Washington é um aviso para Vladimir Putin, presidente da Rússia e principal aliado de Assad.
Em maio, as duas potências haviam acordado a realização de uma conferência de paz sobre a Síria, mas o encontro continua sem data marcada. A indefinição favorece Assad, que tem obtido vitórias contra os revoltosos, e Putin, fornecedor militar de Damasco.
Nesta semana, Obama e Putin tiveram encontros tensos na reunião de cúpula do G8. Por pressão da Rússia --único membro do grupo a apoiar o regime sírio--, o documento sobre os confrontos não fez menção direta a Assad. Houve apenas a promessa vaga de incentivar uma solução negociada.
Com o conflito aparentemente longe de terminar, cresce a expectativa quanto ao novo apoio militar americano em favor dos rebeldes. Zonas de exclusão aérea poderiam funcionar, mas a venda direta de armas aos insurgentes tornou-se uma operação arriscada.
Se armas leves resultariam inócuas diante do arsenal sírio, as pesadas poderiam cair em mãos erradas. Uma das forças na fragmentada oposição a Assad tem vínculos com os terroristas da Al Qaeda.
Sem um acordo, o fracasso diplomático se traduz em mais mortes nas zonas de confronto. Segundo estimativa da ONU, já são 93 mil vítimas desde que os combates começaram, há 27 meses. Um ano atrás, eram 10 mil mortos.
Mais de duas décadas após o fim da Guerra Fria, Moscou e Washington poderiam empenhar-se mais para dissolver conflitos em que se posicionam de lados opostos --a exemplo da promessa de redução do arsenal atômico feita anteontem por Obama em Berlim.
    EDITORIAIS
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    Ressaca monetária
    Dólar sobe no mundo todo após anúncio de reviravolta do Fed, e efeito no Brasil se agrava com as deficiências da política econômica de Dilma
    Se o governo Dilma Rousseff antes perdia o sono com o "tsunami monetário" --como caracterizava o fluxo de entrada de capitais resultante da política do Fed (banco central americano) de inundar o mercado com recursos--, sobram agora razões para se preocupar com a retração da onda.
    Os sinais de reversão da maré estão à vista de todos. Há mais otimismo com a recuperação da economia americana, que deve crescer 2% neste ano e talvez bem mais que isso em 2014. Com a melhora, o estímulo monetário deixaria de ser necessário.
    O Fed já navega nessa direção. Seu presidente, Ben Bernanke, disse que as compras de títulos no mercado --hoje no ritmo de US$ 85 bilhões ao mês-- serão contraídas em breve e suspensas até meados de 2014. Para prevenir sobressaltos, disse que a retirada será gradual e que a taxa de juros deve permanecer perto de zero até 2015.
    O mercado financeiro não tem paciência com detalhes. Quando identifica mudanças como essa, antecipa as consequências: menos recursos no mercado global, juros em alta nos EUA e valorização do dólar perante outras moedas, especialmente de países emergentes.
    No caso do Brasil, há o fator agravante da política econômica errática, em particular na questão da austeridade fiscal, que prejudica a imagem do país. Acentua-se, com isso, o temor pela perda de valor dos investimentos aqui realizados, o que provoca a saída de dólares e a consequente desvalorização da moeda nacional.
    A cotação do real frente ao dólar fechou em quase R$ 2,26, ontem, mesmo após o Banco Central comprometer US$ 3 bilhões para conter a desvalorização. Foi o pior nível desde abril de 2009, quando a crise internacional estava no auge.
    Um sintoma da deterioração do cenário foi o adiamento da oferta de ações da Votorantim Cimentos na Bolsa, que deveria levantar até R$ 10 bilhões. É notável o contraste com a situação de abril passado, quando a BB Seguridade conseguiu captar R$ 11,4 bilhões.
    Salvo uma improvável grande decepção com a economia americana, nos próximos anos haverá um enxugamento do capital farto em circulação pelo mundo.
    O Brasil está mais preparado que no passado para enfrentar a turbulência: tem US$ 375 bilhões em reservas, e a dívida em dólar do governo foi eliminada, entre outros fatores. Mas aproveitou mal a liquidez externa: não aumentou a taxa de investimento, não ajustou as contas públicas como deveria e não reforçou a competitividade da economia para enfrentar a saída de capitais.
    A alta do dólar encarece importações e incentiva aumentos de preços domésticos, realimentando a inflação. O Banco Central se vê forçado a elevar ainda mais os juros. Nesse mar revolto, vai a pique o otimismo postiço do governo federal nos últimos anos.

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