sábado, 22 de junho de 2013

Gordurinhas para tratar diabetes-Daniel Camargos‏

Pesquisa da Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte, pretende extrair células-tronco do tecido adiposo e, in vitro, separar as produtoras de insulina e testar sua capacidade de controlar a glicemia


Daniel Camargos

Estado de Minas: 22/06/2013 

Na indesejada gordura retirada de uma cirurgia de lipoaspiração pode estar a cura para uma doença que atinge mais de 12 milhões de brasileiros: o diabetes. O caminho, porém, depende de muita pesquisa e uma delas será feita em Belo Horizonte, pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Um laboratório está sendo montado para receber um equipamento capaz de extrair células-tronco do tecido adiposo. A máquina vai ser instalada no Hospital Vila da Serra e o excedente de células-tronco será repassado para a fundação desenvolver o estudo.
A diretora de pesquisa da Funed, Esther Margarida Bastos, diz que inicialmente o trabalho vai ter foco na terapia definitiva para o diabetes. “Essa doença faz mais vítimas que o câncer de mama e o HIV juntos, mas também pretendemos tratar outras patologias no futuro.” O objetivo, segundo Esther, é que com a validação do laboratório as descobertas possam ser usadas para tratamentos do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisadora responsável pelo projeto Alessandra Matavel explica que quando a célula-tronco é colocada de volta no tecido ele gera novas células. Porém, no caso do diabetes, se a célula-tronco for injetada no pâncreas (que é lesado pela doença) pode provocar uma pancreatite. “A ideia é fazer uma diferenciação in vitro para as células produtoras de insulina”, comenta Alessandra. A pesquisa será iniciada com ratos e o objetivo é testar se as células-tronco conseguem controlar a glicemia (nível de açúcar no sangue).

De acordo com a pesquisadora, células-tronco do tecido adiposo podem ser encontradas em qualquer fase da vida e seu uso não está associado a questões éticas e religiosas e ainda é um procedimento autólogo, ou seja, são usadas células do próprio paciente. “Elas podem ser facilmente retiradas do corpo por meio de lipoaspiração ou cirurgia abdominal, sendo imediatamente disponíveis para utilização no próprio paciente ou para a diferenciação in vitro”, destaca. Segundo ela, estudos também demonstram que essas células são capazes de inibir o processo de rejeição pelo organismo, além de modular o processo inflamatório, propiciando uma melhor cicatrização.

Doutora em bioquímica e pós-doutora em pesquisas com células embrionárias, Alessandra Matavel detalha que as células-troncos ainda não são usadas no tratamento de diabetes. “Precisamos de um ponto de partida e acredito que o diabetes é uma das doenças crônicas que mais oneram o SUS”, acredita. O tratamento convencional com injeção de insulina demanda seu uso pelo resto da vida e a alternativa do transplante de ilhotas encontra barreiras na escassez de doadores e na utilização de imunossupressores para evitar o risco de rejeição.
“O tratamento com células-tronco do próprio paciente, transformadas em ilhotas produtoras de insulina e com nenhum risco de rejeição, aumentaria enormemente a qualidade de vida dessas pessoas, além de reduzir custo para o sistema de saúde. Seria uma terapia definitiva”, afirma Alessandra.

O projeto conta com o apoio do Hospital Vila da Serra, do Banco do Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A empresa GID Brasil vai fornecer para a Funed os equipamentos de laboratório para a realização de pesquisas com as células-tronco extraídas da gordura. O tecido será retirado e processado no Vila da Serra por meio de uma cirurgia de lipoaspiração; em seguida, as células-tronco serão encaminhadas para a Funed onde será realizado o processo de caracterização e diferenciação em células produtoras de insulina.
Segundo Esther Bastos, a plataforma que será disponibilizada para a Funed já é usada em outros países para terapias de reconstrução corporal pós-trauma ou câncer, para cicatrizar feridas complexas causadas por diabetes e radioterapias, queimaduras, artrites, rejuvenescimento; entre outras. O diretor médico da GID Brasil, Sérgio Duval de Barros Vieira, destaca que a gordura é um dos maiores reservatórios de células-tronco do organismo e que estudos já realizados no exterior revelam que um grama do tecido adiposo produz aproximadamente 250 mil células-tronco, quantidade muito superior ao número de células-tronco isolado a partir de outras fontes do corpo humano. “Aproximadamente 220 mil cirurgias estéticas de lipoaspiração são realizadas no Brasil a cada ano, produzindo rotineiramente grandes volumes de valiosos tecidos”, cita.

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