quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sinal alentador e Apreensão na Turquia nos Editoriais da FolhaSP

folha de são paulo
Sinal alentador
Alta da produção industrial em abril traz certo ânimo, após sucessão de números negativos; nada que suscite muito entusiasmo, porém
Depois da decepção do primeiro trimestre, quando o PIB subiu apenas 0,6% contra o período anterior, traz certo alento a alta de 1,8% da produção industrial em abril, com relação a março.
O dado sobre a atividade da indústria superou todas as projeções, que apontavam aumento de 1%. Revelou bom desempenho em especial no segmento de bens de capital, que teve crescimento de 3,2%. É um indicativo de que o investimento pode se firmar no segundo trimestre.
Outro ponto positivo: esse crescimento na produção de máquinas, insumos e equipamentos, diferentemente do início do ano, não ficou concentrado só em caminhões e implementos agrícolas.
Tiveram bom desempenho também as máquinas industriais (5,4%) e a energia elétrica (3,9%), entre outros. No caso de insumos para a construção civil, que entram na conta do investimento, o crescimento foi de 1,9%. Em outros segmentos a alta foi menor, mas ainda respeitável. Bens de consumo duráveis, não duráveis e intermediários cresceram 1,1%, 0,9% e 0,4%, respectivamente.
A dúvida é o que virá por diante, pois os sinais disponíveis não são animadores. O índice de confiança da indústria da Fundação Getúlio Vargas permanece deprimido e aponta para estagnação na produção. Verifica-se o mesmo na confiança dos consumidores.
É possível, porém, que o segundo trimestre traga alguma aceleração do PIB. Ainda assim, tem sido inevitável uma revisão para baixo do resultado deste ano.
A pesquisa com analistas divulgada semanalmente pelo Banco Central mostrou queda na projeção do PIB, de 2,93% para 2,77%. Alguns consultores já projetam alta mais próxima de 2%. A expectativa é de melhoria gradual ao longo do ano. Mas não há razões à vista para prever uma aceleração abrupta do crescimento.
A inflação alta deprimiu o poder de compra e moderou o consumo, com o alto endividamento das famílias. É essa constatação, aliás, que parece motivar a recente disposição do BC de puxar as rédeas da taxa de juros. Levará algum tempo até que se perceba progresso.
Do lado do investimento, muito depende da confiança dos empresários, ainda ressabiados com os arrancos da política econômica e a persistente pressão de alta dos custos internos. O ambiente internacional adverso tampouco ajuda.
Algo positivo, com provável impacto no crescimento, mas só em 2014, seria o governo Dilma desencalacrar as concessões privadas de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias até o final do ano. No presente, é a sua melhor cartada para reacender o ânimo empresarial.
    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Apreensão na Turquia
    A recente onda de protestos na Turquia expõe a tensão sempre subjacente entre setores seculares do país e o governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de crescente orientação islâmica, religião de 99,8% da população.
    Instalado no poder por eleições livres em 2002, o AKP era até há pouco tido como um exemplo, no Oriente Médio, da conciliação entre democracia e islã. Apesar da boa imagem no exterior, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan sempre despertou desconfiança nos setores mais seculares da Turquia. Enfrenta, agora, o maior teste de suas intenções.
    A República da Turquia foi fundada na década de 1920, após a dissolução do Império Otomano, sob a liderança do comandante do Exército, Mustafa Kemal Atatürk. O primeiro presidente da nação, com apoio militar, unificou territórios otomanos de língua turca e impôs a secularização do novo país.
    Na última década, com o declínio da tutela militar sobre a vida política, o governo do AKP aumentou paulatinamente a influência da religião na vida pública. Ao mesmo tempo, procurou abrir a Turquia para o Ocidente. Nesse período, o país --integrante da Otan-- passou a negociar sua adesão integral à União Europeia e registra bom desempenho na economia (crescimento de 2,6% no PIB de 2012 e estimados 3,4% neste ano).
    Os protestos começaram com uma manifestação contra obras em área verde adjacente à famosa praça Taksim, em Istambul, principal cidade do país. A violenta reação policial, com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, engrossou a torrente de insatisfação.
    Os manifestantes passaram então a denunciar um crescente autoritarismo de Erdogan e a atribuir-lhe uma "agenda oculta" de completa islamização do país. As recentes restrições ao consumo de álcool em público e à realização de abortos são citadas como exemplos dessa alegada tendência.
    Os protestos resultaram em três mortes e mais de mil feridos. Em suas manifestações iniciais, o primeiro-ministro atribuiu os distúrbios a extremistas da oposição. Ontem, seu governo moderou o tom com um pedido de desculpas do vice-premiê, Bülent Arinç.
    Com votações cada vez mais expressivas nas três eleições que venceu, Erdogan almeja reformar a Constituição para dar mais poderes à Presidência e, em seguida, candidatar-se ao cargo. Essa ambição continuísta contrasta com a reputação adquirida no estrangeiro pelo político que apoiou a Primavera Árabe e o levante contra o ditador sírio Bashar al-Assad.

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