sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vencedor do Pritzker exalta o simples

folha de são paulo
Silas Martí
Eduardo Souto de Moura gosta de pés firmes, plantados no chão. Sua arquitetura parece se alastrar na horizontal e se articula sempre por ângulos retos -um vocabulário "duro e geométrico".
Vencedor do Pritzker há dois anos, o maior prêmio da arquitetura, ele acaba de desenhar com Álvaro Siza, também vencedor do Pritzker e seu conterrâneo do Porto, um pavilhão temporário, de linhas bem retas, que será erguido no parque Ibirapuera, para a Bienal de Arquitetura de São Paulo, em outubro.
Nacho Doce - 28.mar.2011/Reuters
Lateral de arquibancada de estádio construído por Souto de Moura em Braga, em Portugal
Lateral de arquibancada de estádio construído por Souto de Moura em Braga, em Portugal
Mas antes, Souto de Moura vem ao país amanhã para dar uma palestra no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, na próxima quinta, quando fala sobre a relação entre os espaços construídos, o tempo e a memória.
É da lembrança do modernismo, aliás, que Souto de Moura extraiu sua linguagem minimalista na arquitetura.
Ele buscou essa contenção formal, idolatrada em tempos de austeridade, nas transparências e ângulos retos de Mies van der Rohe, alemão morto em 1969 que se radicou nos Estados Unidos e construiu prédios também austeros, como o Seagram, em Nova York, e casas que agarram a linha do horizonte, quase coladas à paisagem.
"Sempre tive um grande fascínio pela obra do Mies", diz Souto de Moura, em entrevista à Folha. "Quando decidi ser arquiteto, queria um ar fresco. Na época, precisávamos construir um país moderno depois de uma ditadura fascista, e ele tinha uma linguagem concisa e direta, baseada no sistema construtivo e no uso dos materiais."
Souto de Moura fala dos anos 1970, no pós-Revolução dos Cravos, em que despontou a escola do Porto, um movimento que redefiniu as bases da arquitetura moderna com os pés bem fincados na cidade do norte de Portugal.
"É uma cidade que tem afinidade com as coisas mais econômicas, simples", diz o arquiteto. "Tem uma tradição na arquitetura de ser menos representativa, menos ligada ao poder, e mais ligada ao chão, estável, sem grandes malabarismos estruturais."
Nessa pegada pé no chão, Souto de Moura fez o desenho das estações do metrô do Porto, espaços fluidos, de planos finíssimos de vidro e concreto que desaparecem na malha urbana da cidade, destacando o casario ao redor.
"Essas estações foram pensadas caso a caso", diz Souto de Moura. "Não são máquinas pousadas ali, a ideia era promover cada lugar."
NÓRDICO E TROPICAL
É também nesse ponto que seu modernismo de base nórdica, de um alemão como Mies van der Rohe, parece fundir com a modernidade que observou no Brasil, de arquitetos como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, famosos por desenhos de prédios que juntam sem medo os espaços de fora e de dentro.
"Quando vi a arquitetura de São Paulo, fiquei rendido ao Artigas", diz Souto de Moura, sobre o autor do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. "Gosto do modernismo brasileiro, que livra as quadras e os lotes, elevando os prédios sobre pilotis. É a natureza com a arquitetura dentro."
Souto de Moura levou essa lição a sério no estádio de futebol que construiu em Braga, no norte de Portugal. Instalada numa antiga pedreira, a estrutura é toda aberta, com áreas atrás do gols com vistas rasgadas da paisagem.
Seu projeto no Ibirapuera, aliás, é uma reação, não menos aberta e fluida, à modernidade tropical de Oscar Niemeyer, uma caixa ortogonal que contrasta com as curvas da marquise do parque e com os contornos orgânicos da mata e do lago no entorno.
Num caso parecido, quando Souto de Moura e Álvaro Siza desenharam juntos um pavilhão temporário para a Serpentine, em Londres, o resultado foi o contrário. Em vez das formas quadrangulares de sempre, criaram uma estrutura que lembrava uma espécie de tartaruga gigante.
"Todos disseram que era um projeto esquisito para ser meu ou do Siza, mas isso é porque é nosso, não é só de um nem do outro", diz o arquiteto. "Trabalhamos bem juntos porque ninguém quer provar nada ao outro. É como um jogo de xadrez, só que sem xeque-mate."
EDUARDO SOUTO DE MOURA
QUANDO palestra amanhã, às 16h
ONDE Museu da Casa Brasileira (av. Brig. Faria Lima, 2.705;
tel. 0/xx/11/3032-3727)
QUANTO grátis (250 pessoas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário