terça-feira, 2 de julho de 2013

Minha história: 'Há um abismo que separa mulheres e tecnologia'

(...) Depoimento a
YURI GONZAGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

Atualizado em 05/11/2012 às 11h28.
Levar mais mulheres brasileiras para o campo científico-tecnológico. Com esse objetivo e a experiência como embaixadora no Instituto Anita Borg por mulheres e tecnologia é que a estudante de doutorado Larissa Romualdo Suzuki, atualmente na Inglaterra, pretende voltar para o Brasil.
Arquivo Pessoal
"[Larissa Romualdo Suzuki]":http://www0.cs.ucl.ac.uk/staff/L.Romualdo/, pesquisadora da University College London quer trazer projetos por mulheres e tecnologia ao Brasil
Larissa Romualdo Suzuki, pesquisadora da University College London quer trazer ao Brasil projetos semelhantes aos que faz parte, com o intuito de aproximar mulheres e tecnologia
A hoje pesquisadora da University College London recebeu o aceite de 12 instituições de ensino superior nacionais e internacionais para seu projeto de doutorado, além de sete bolsas de estudo, incluindo uma do Google, empresa que também a convidou para um estágio científico.
*
Não sou de família rica. Nasci em Ribeirão Preto, onde estudei nos colégios Orlando Jurca, Santos Dumont e Otoniel Mota --todos públicos. Meus irmãos estudavam computação. Foi isso que despertou em mim o interesse por tecnologia.
Terminando o Ensino Médio, entrei em uma faculdade privada para estudar ciências da computação. Já trabalhava, mas tive que financiar meu curso por meio do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil, do Ministério da Educação).
Em outras palavras, fui eu quem pagou minha faculdade. Na verdade, quem paga --porque até hoje as parcelas não terminaram (risos).
Uma vez dentro da Mauá, fiz uma prova para iniciação científica e passei. A "bolsa" era uma dedução de 20% na minha mensalidade.
Formei-me em uma turma de mais de 30 pessoas, entre as quais eu era a única mulher, e decidi seguir na pesquisa. Fiz alguns processos seletivos e consegui entrar em um mestrado em engenharia elétrica pela USP, no campus de São Carlos.
No mestrado, tinha bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, também do governo federal) e fazia estágio, trabalhando como professora assistente.
Na USP, percebi uma certa resistência --e até desprezo-- por parte de alguns docentes. Não sei se por então ter saído de uma faculdade particular ou por outros motivos que não faço ideia. Na verdade, acredito que muitos duvidaram da minha capacidade intelectual e que eu completaria meu curso.
Mas essas pessoas que me desestimulavam eram insignificantes para a ciência. Os que me incentivavam, que não eram poucos, sempre foram pessoas extraordinárias dentro da academia.
Terminei o meu mestrado, que era sobre diagnóstico médico por imagem, e dei início a um doutorado com linha de pesquisa semelhante na FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP).
Sou apaixonada por computação. É maravilhoso saber que podemos usá-la para o bem da humanidade, como para diagnosticar câncer.
VIRADA
Eu tinha começado meu doutorado na faculdade de medicina havia três meses quando recebi o "sim" da universidade em que estudo atualmente, a University College London, e de outras 11 instituições britânicas para fazer doutorado.
Também fui selecionada nos processos de seis bolsas de estudo. Tive de recusar todas elas, menos a que usufruo atualmente, concedida pelo EPSRC (Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas, na sigla em inglês).
Meu doutorado, sobre integração de sistemas de cidades, é feito em conjunto com a Imperial College London. Ambas as instituições são universidades públicas de pesquisa.
Fui extremamente bem recebida nas instituições daqui da Inglaterra. O meu orientador,Anthony Finkelstein --que também é decano, uma espécie de reitor da universidade--, por exemplo, faz questão de me corrigir quando o trato formalmente em uma conversa. "Não me chame de "professor Finkelstein": meu nome é Anthony!", ele diz.
Recebo 16 mil libras esterlinas por ano (cerca de R$ 4.300 por mês) mais um adicional por dar aulas.
Neste ano, fiz um curso de docência pela Academia Britânica de Educação Superior. Sempre tive facilidade em ensinar. Comecei a lecionar aos 16 anos, dando aulas de música. O meu sonho é ser professora de uma universidade federal brasileira.
MENINAS E CIÊNCIA
Meu objetivo é também levar ao Brasil os projetos que existem aqui (Reino Unido) e nos EUA para atrair mulheres para a tecnologia.
Sou embaixadora do Instituto Anita Borg por mulheres e tecnologia, para o qual trabalho ajudando a promover eventos e difundir suas ideias.
Nos eventos, que juntam milhares de pessoas, muitas mulheres apresentam seu trabalho. A ideia é mostrar para quem está começando que qualquer uma pode ter uma carreira brilhante na área.
As meninas olham uma mulher com dois filhos e que é do alto escalão de uma empresa como a Cisco, por exemplo, e pensam "nossa, é mesmo possível".
Trabalhar com computação, encarando durante o dia inteiro uma tela, é pesado. Mas não acho que seja por isso que haja tão poucas mulheres na área de tecnologia. As meninas crescem acreditando que videogames, computadores não são para elas. Isso precisa mudar.
Ajudei a fundar uma associação por mulheres e tecnologia dentro da minha faculdade, com a ajuda de uma supervisora administrativa. Qualquer instituição ou projeto que tenha objetivo semelhante pode contar com o meu apoio.
Está na hora de o Brasil ter algo nesse sentido: levar meninas, crianças mesmo, à computação, para que mais tarde elas se tornem parte do progresso científico-tecnológico do país.
GOOGLE
Já depois de um tempo dentro do Anita Borg, recebi uma bolsa do Google para apoiar meu trabalho como promotora do Instituto.
Fui uma das dez estudantes de doutorado que ganharam essa bolsa (entre 40 bolsas oferecidas, também para estudantes de mestrado e de graduação). Seis engenheiros do Google avaliaram a proposta de cada uma das candidatas e só as melhores levaram.
A empresa deixou claro que eles dão oportunidade para pesquisadores que se dispuserem a estudar o Google e seus serviços para um eventual trabalho aprofundado.
Estou estudando um pouco do que faz o Google. Eles me ofereceram outra bolsa, dessa vez de estágio como pesquisador, para o ano que vem. Acho que vou aceitar.
Mas ainda estou lutando para terminar meu doutorado, que é difícil.

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