quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Eduardo Almeida Reis-Democracia‏

Que culpa têm os vizinhos do governador para ter suas calçadas e suas ruas transformadas em praças de guerra?


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 19/09/2013 



Democracia

Setenta anos depois do Manifesto dos Mineiros, documento que honrou as melhores tradições de Minas Gerais, temos tido diversas manifestações de mineiros e de outros patrícios na maioria dos estados deste país grande e bobo. Muitas são democráticas, é certo, mas precisamos separar as que são realmente democráticas das outras, que já são maioria. É justo que o povo do Rio de Janeiro esteja farto dos desmandos do governador Sérgio Cabral Filho. Falei desmandos, quando poderia ter dito coisa muito pior. Daí a interditar o acesso ao apartamento em que o governador mora com a sua atual família, prejudicando a vida de centenas de vizinhos que não têm nada com os seus desmandos, vai uma grande distância. Que culpa têm os vizinhos do governador para ter suas calçadas e suas ruas transformadas em praças de guerra: gás lacrimogêneo, spray de pimenta, pedradas, pauladas, rojões, tiros com balas de borracha e mesmo com balas de metal? E o quebra-quebra nas imediações: agências bancárias, lojas comerciais, postes? 

Também é muito justo que os moradores nas margens de diversas rodovias federais e estaduais mineiras reivindiquem a construção de passarelas, que lhes permitam atravessar as pistas sem risco de atropelamento. Daí a interditar a rodovia por 10, 12 horas, por meia hora que seja, vai uma grande distância. As pessoas que estão passando por ali têm compromissos, horários, médicos marcados, conexões com aeroplanos. Não é justo nem democrático que percam seus compromissos comerciais, suas consultas médicas, suas conexões, porque os moradores de Congonhas, de Ewbanck da Câmara e de outras localidades reivindicam a construção de passarelas.


Chicana
Do francês chicane, nos melhores dos nossos dicionários chicana é “sutileza capciosa em questões judiciais” ou “dificuldade criada, no curso de um processo judicial, pela apresentação de um argumento com base num detalhe ou num ponto irrelevante”. É muito de espantar que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que não é flor que se cheire, fique ofendido quando um colega diz que ele está fazendo chicana em determinado julgamento, como de fato estava: é contumaz chicaneiro. Pelo menos cinco articulistas conhecidos criticaram o presidente do STF por ter dito que o colega fazia chicana. Eventuais virtudes nas biografias dos cinco, somadas, não chegam aos pés da história de vida do doutor Joaquim Benedito Barbosa Gomes. Papel e tinta custam dinheiro, cascalho, erva, capim. Pena que o capim seja gasto para veicular  asneiras dos tais cavalheiros: no episódio em tela, melhor fariam se pastassem a graminácea.

Confusão
A mídia tem feito confusão com as palavras companheiro e namorado. Aquele cavalheiro David Miranda, que em boa hora foi preso para averiguações no aeroporto de Londres, não é companheiro do advogado/jornalista que abastece o jornal The Guardian de informações roubadas pelo traidor Snowden: é namorado. Vivem juntos e se curtem, se adoram, se cheiram, se amam. Companheiros são Aloysio Mercadante e José Eduardo Cardozo no admirável ministério Rousseff, onde contam ainda com o notável companheiro Crivella, ministro da Pesca. Namorados são casais de homens, casais de mulheres e casais daqueles que se usavam no tempo de antigamente, compostos de homem e mulher. É claro, como também é lógico e evidente, que David, namorando o jornalista, participa de suas atividades profissionais. Não teria cabimento que o norte-americano, ao escrever suas matérias, vendasse os olhos e aplicasse fones de ouvido no seu amor, para não tomar conhecimento dos assuntos que veicula. Resumindo: não gosto de perder tempo com tolices. A gloriosa polícia britânica obrou muitíssimo bem. E tem mais uma coisa: nossa imprensa precisa parar de perder tempo com os brasileiros presos no exterior. Os brasileiros beiram 200 milhões de almas e a esmagadora maioria não é flor que se cheire. Portanto, detenções de nove horas para averiguações são legais e embasadas, como disseram os ingleses. Em rigor, o doutor David Miranda só interessa ao seu namorado. Que sejam felizes.

O mundo é uma bola
19 de setembro de 1356: João II de Valois, o Bom, rei da França, é capturado pelos ingleses na Batalha de Poitiers. Filho de Filipe VI da França, João casou-se aos 13 anos com Bona de Luxemburgo, filha de João, o Cego, rei da Boêmia, com quem teve nove filhos. João II foi um dos reis franceses mais envolvidos na fase inicial da Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Em 1559, uma tempestade mata 600 pessoas nos naufrágios de navios espanhóis ao largo de Tampa, Flórida. Em 1861, Oliveira (MG) é elevada à categoria de município pelo fato de contar com o distrito do Morro do Ferro, terra da família Romano. Em 1909, a Guarda Suíça do Vaticano volta a vestir-se nos conformes do Michelangelo estilista. Em 1956, lei autoriza Juscelino Kubitschek a transferir para Brasília a capital do Brasil. Em 1985, um terremoto de 8.1 na escala Richter mata 9,5 mil, fere 35 mil e deixa 100 mil desabrigados na Cidade do México. Foi “outro dia” e ainda tem gente que gosta de fazer turismo na capital mexicana. Hoje é o Dia do Teatro e do Ortopedista.

Ruminanças
“Não há nada mais fútil, mais falso, mais vão, nada mais necessário que o teatro” (Louis Jouvet, 1877-1951).

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