quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Eduardo Almeida Reis-Tolices‏

Enquanto envolvido com o texto, às voltas com as melhores palavras aqui ou ali, eventualmente acolá, não penso bobagens 



Eduardo Almeida Reis


Estado de MInas: 05/09/2013 


É inevitável que todo pensante remoa besteiras. Uns mais, outros menos, todos pensam tolices. É por isso que gosto de escrever: enquanto envolvido com o texto, às voltas com as melhores palavras aqui ou ali, eventualmente acolá, não penso bobagens.

Ainda hoje à tarde, depois de uma siesta caprichada, ocorreu-me o seguinte pensamento: será que os animais padecem da síndrome de Coughlan? Como sabem os leitores que consultam a Wikipedia, a Coughlan’s syndrome ou anosgarmia é um tipo de disfunção sexual em que a pessoa não alcança o orgasmo, mesmo com estimulação adequada. É muito mais comum entre as mulheres e especialmente rara nos jovens.

Como saber se os touros, os pernilongos, os sapos-cururus têm orgasmos? Claro que há o instinto natural de transmitir os genes, mas a pergunta é a seguinte: será que touros, pernilongos, sapos-cururus e suas respectivas senhoras têm aquela efervescência de sentimentos, a excitação incontrolável do espírito que ocorre na maioria dos homens e em 60% de suas companheiras?

Leia 60% ou 59%, que também podem ser 23% ou 64%: estudei o assunto há tanto tempo, que já não me lembro dos números presumivelmente exatos. Desconfio da existência de máquinas que, instaladas nas cabeças dos cururus e dos touros, possam transmitir as emoções da espécie durante o ato. Difícil deve ser acoplar um elétrodo (forma preferível de eletrodo) na moleira de um pernilongo, mas com a nanotecnologia nada é impossível.

Deixei fora da pesquisa o cavalo, porque assisti à transmissão dos genes do Califa, garanhão manga-larga marchador da fazenda de um amigo em São Brás do Suaçuí, no ano de mil novecentos e antigamente. O castanho Califa era trazido da cocheira, posto com a égua no cio, fazia o que era preciso fazer e se deixava ficar, feito morto, sobre a companheira durante alguns minutos.

Nas raras vezes em que alguém resolveu levar a égua de volta para o pasto, o digno Califa caiu duro no chão, patas esticadas, olhos fechados e leve sorriso nos lábios, que também atendem entre os equídeos, di-lo a ezoognósia, pelo nome de lábios. Mais que a transmissão de genes, as coberturas do castanho eram espetáculos assistidos por todos os moradores da fazenda, empregados e suas famílias, mulheres, sogras, filhos, noras, genros e netos. Creio desnecessário dizer que já estudei ezoognósia.

Baixo nível
Mário e Fernando Vieira de Sá – pai e filho, agrônomo e veterinário portugueses – escreveram um livro sobre vacas leiteiras que muito me divertiu e diverte. Já no primeiro capítulo disseram-se convencidos da inutilidade do seu trabalho “dado o alto grau de baixo nível do nosso povo, cujo índice mais verídico é o analfabetismo”. Em seguida, recomendaram que as paredes do estábulo tivessem resistência suficiente para suportar o seu próprio peso, como se tivesse cabimento fazer parede para desmoronar com o seu peso. E o negócio vai por aí com o retireiro vestindo fato-de-macaco branco nas operações de mungidura, o que significa dizer macacão branco para ordenhar as vacas.

Dia 28 de agosto, no episódio Natan Donadon, lembrei-me dos doutores portugueses dado o alto grau de baixo nível os senhores deputados federais, cujo índice mais verídico é o analfabetismo. No Senado as coisas são iguais ou piores. Fazer o quê? Fechar o Congresso é ditadura. Fechar e convocar eleições democráticas dentro de dois meses, proibindo que todos voltem a ser candidatos pelos próximos 40 anos, seria uma injustiça, porque há duas dúzias, ou três, que prestam.

Tudo bem: sejamos injustos e nenhum dos atuais e seus suplentes poderá candidatar-se nos próximos 40 anos. Sabe qual seria o resultado? Apareceriam outros iguais ou piores, porque o problema é basilar: educação, civismo, vergonha na cara.

O mundo é uma bola
5 de setembro de 1494: Portugal ratifica o Tratado de Tordesilhas. Em 1567, nepotismo escandaloso: Mem de Sá, homem de bem, guerreiro valente, doa a Ilha do Governador, tomada aos índios temiminós, ao seu sobrinho Estácio Correia de Sá. Donde se conclui que o Aeroporto do Galeão pertence aos descendentes dos guerreiros temiminós, que nele terão imenso trabalho para consertar as escadas rolantes, os elevadores, as esteiras e os banheiros, de olho na Copa 2014.

Em 1877, o guerreiro Cavalo Louco, prisioneiro, é morto à baioneta por um guarda de Camp Robinson. Respeitado ameríndio sioux, lutou contra o governo americano para preservar as terras e tradições dos dakotas. Crazy Horse em inglês teria 37 anos quando foi espetado pelo guarda. Ta-sunko-witko em língua dakota, literalmente “seu-cavalo-é-louco”, liderava a tribo Oglala Lakota e sua história não me interessa a mínima, salvo pelo fato de estar precisando de assunto para preencher o mundo é uma bola de hoje.

Em 1940, Hitler ordena ataques prioritários a Londres e outras cidades. Em 1970, terroristas do Setembro Negro matam 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos. Em 1966, a Nasa lança a nave Voyager 1. Outro dia, tivemos notícia da Voyager 2, que continua viajando e tirando fotos. Em 2000, Tuvalu é admitido como estado-membro da ONU. A partir do momento em que Tuvalu foi considerado estado-membro com 12 mil habitantes e o lema “Tuvalu mo te Atua”, capital Funafuti, a ONU se desmoralizou de vez.

Em 1638 nasceu o rei Luís XIV, de França, que foi a óbito em 1715. Circulam na internet desenhos dos instrumentos inventados pela medicina da época para livrá-lo de uma fístula anal, que muito o incomodava. Cirurgia sem anestesia.

Ruminanças
“O Estado sou eu” (Luís XIV, 1638-1715).

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