domingo, 1 de setembro de 2013

Elio Gaspari

Como a raiva reelegerá Dilma

A recuperação da popularidade do governo da doutora Dilma foi audaciosamente prevista pelo marqueteiro João Santana, durante o rescaldo das manifestações de junho, quando ele disse que tudo não passava de um desabafo temporário. A doutora, que tivera 57% de aprovação, tomara uma vaia de estádio e caíra para 30%. Acredita-se que já retornou à faixa dos 40%.
Santana tinha motivos para acreditar na força de Dilma. Não foi ela quem aumentou as tarifas de transporte (pelo contrário, torceu o braço dos prefeitos Eduardo Paes e Fernando Haddad para baixá-las).
Enquanto a doutora tocava o expediente, a oposição dedicou-se a fortalecê-la. É uma oposição que converte crentes.
Seu primeiro alvo foi o programa Mais Médicos, que trouxe profissionais estrangeiros. Em vez de discutir também a reserva de mercado que as associações médicas estimulam, as pegadinhas do programa Revalida ou a burocracia das universidades federais, partiram para baixarias e ameaças. Uma equipe de repórteres da “Folha de S. Paulo” descobriu um rombo no programa: em 11 cidades de quatro estados, prefeitos pretendem demitir médicos brasileiros que estão em suas folhas, trocando-os por estrangeiros que serão pagos pela Viúva federal. “Mais médicos” onde não os há é uma coisa. Menos médicos brasileiros, bem outra. Basta lançar o programa “trocou, dançou”.
A desqualificação dos cubanos tem um ingrediente de ingenuidade. O Raúl Castro não está mandando para o Brasil médicos que flanavam por Havana. Ele já enviou 113 mil profissionais para 103 países e fez da iniciativa uma fonte de dólares. São quadros selecionados, com formação política. Em tempos passados, cubanos iam para guerras onde morreram pelo menos três mil deles. O governo trabalha com a certeza de que o programa trará benefícios. A oposição, com o desejo de que dê tudo errado.
No caso da solidariedade que deram ao diplomata que desovou o senador boliviano no Brasil, esqueceram-se de pedir uma avaliação da sua conduta aos notáveis que estão entre seus quadros. Disputam a bola atrás da linha de fundos, pois pode-se detestar o PT, mas, no dia em que um encarregado de negócios fizer o que acha melhor, a diplomacia vira bagunça.
Dilma vai para a reeleição (isso se não for preciso tirar Lula do banco de reservas) porque o PSDB tem mais ressentimentos que planos e mais queixas que projetos. Em 2010, o PT teve 55,7 milhões de votos. Desse jeito, a oposição corre o risco de sair da eleição de 2014 com os mesmos 43,7 milhões de 2010, satisfeita por ter conseguido que esse eleitores ficassem com muito mais raiva dos comissários.
A Câmara pode criar o anexo dos condenados
A situação em que ficou o deputado Natan Donadon pode ser absurda, produto dos piores instintos do plenário da Câmara, mas é o jogo jogado. Seus pares acharam que ele não ofendeu o decoro do Parlamento. Por ser um criminoso, ficará na penitenciária da Papuda.
Há precedentes de diversos países, e nos Estados Unidos chegou-se a situações ainda mais esquisitas. Dois deputados foram reeleitos enquanto estavam na cadeia. Um deles, depois de solto, assumiu a cadeira e deu o voto que garantiu a Presidência a Thomas Jefferson. Um terceiro, Jay Kim, condenado a um ano de prisão domiciliar em 1988, ia ao Congresso com uma pulseira eletrônica, sabendo que sua rotina seria de lá para casa.
O que parece ser uma monstruosidade poderia ser uma solução. Se os parlamentares ladrões condenados pelo Supremo Tribunal forem para a Papuda, fica estabelecido que todos os brasileiros são iguais perante a lei. Deputado em regime fechado não faz mal a ninguém. A Câmara pode até construir o anexo 5 para a carceragem.
Um sábio
Quando começou o julgamento do mensalão, e nove em dez pessoas temiam que o STF fizesse uma pizza, um conhecedor da Casa avisou:
“Haverá uma farta distribuição de condenações. Muitas com penas superiores a dez anos.”
Esse sábio acha que os recursos infringentes, capazes de aliviar a vida dos comissários e de seus tesoureiros, morrerão na preliminar:
“Meu palpite é uma maioria de seis a cinco ou sete a quatro, mantendo as penas.”
Alguns interessados já sentiram o cheiro da brilhantina e mudaram seus domicílios para Brasília, onde começou uma pequena reforma na penitenciária da Papuda.
Para os condenados a regime semiaberto, será um conforto. Irão da Papuda para a Câmara, e dela para a cela. Já a turma do regime fechado safa-se das condições a que são submetidos os demais cidadãos no presídio do Tremembé.
Não aprendem
Um pedaço do comissariado petista namorou a ideia de salvar o comissário João Paulo Cunha do regime fechado por conta de sua condenação pelo STF a nove anos e quatro meses de reclusão.
Recordar é viver
O risco de um asilado vir a suicidar-se não é fantasia.
Depois da deposição de João Goulart, seu secretário particular, Eugenio Caillard, pediu asilo ao embaixador do México, Vicente Sanchez Gavito.
O diplomata negou-lhe o pedido, e, na mesma hora, Caillard ameaçou matar-se, pulando para a janela da sala em que conversavam. Gavito não quis arriscar e asilou-o.
Semanas depois, Caillard matou-se na embaixada, com barbitúricos.
Garibaldi no Brasil
Está chegando às livrarias “Garibaldi na América do Sul: o mito do gaúcho”, do jornalista Gianni Carta. É o resultado de oito anos de trabalho em oito países. Republicano, corsário e namorador, antes de ser o herói da unificação da Itália, Giuseppe Garibaldi foi um subversivo na América Latina, metido na Revolução Farroupilha. Carta estudou o mito que envolveu o personagem, construído, entre outros, pelo romancista francês Alexandre Dumas.
Para quem acompanha as atuais vicissitudes da diplomacia brasileira, vale relembrar o episódio em que o ministro brasileiro em Montevidéu chamou-o de “pirata” e pediu que fosse expulso do Uruguai. Garibaldi foi à legação brasileira e desafiou-o para um duelo. O ministro (João Francisco Regis) não aceitou, sustentando que representava o governo de seu país e não duelaria com um delinquente. Depois a diplomacia brasileira amansou-se.
Cadê o Amarildo?
Sabe-se que o major Edson Santos poderá deixar o comando da UPP da Rocinha.
Só não se sabe:
1) Onde está o pedreiro Amarildo;
2) Com que frequência as câmeras da PM pifam. (As da UPP pifaram na hora de registrar a saída de Amarildo.)
3) Com que frequência as viaturas da PM rodam com os GPS desligados. (Os da UPP não funcionavam naquele mesmo dia.)
Às duas últimas perguntas, o secretário José Mariano Beltrame pode responder. É só querer.
Ócio
Nos quatro próximos domingos, o signatário usufruirá o programa Mais Ócio, financiado pela Bolsa Nada.
daqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário