sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Carlos Herculano Lopes-Tempo de viver‏

Carlos Herculano Lopes - carloslopes.mg@diariosassociados.com.br



Estado de Minas: 25/10/2013 






Conversando há pouco tempo em Araxá com alguns amigos, entre eles o jornalista e cronista Humberto Werneck, que escreveu vários livros, como o clássico O desatino da rapaziada, no qual fala da caminhada de um grupo de escritores entre as décadas de 1920 e 70, em Belo Horizonte, entre eles os famosos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” (leia-se Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Carlos Drummond de Andrade e Otto Lara Resende), em determinado momento o foco do assunto voltou-se para este último.

“Otto era uma figuraça”, disse Werneck; verdade consumada, com a qual toda a mesa concordou. Da mesma forma que ninguém discordaria se o elogio tivesse sido feito a qualquer um dos cavaleiros, ou a Guimarães Rosa. Irmão de Acílio Lara Resende, outro filho de São João del-Rei que sabe das coisas, a Otto foram atribuídas muitas frases famosas. A ponto de Nelson Rodrigues, na peça Bonitinha, mas ordinária, sugerir ter sido ele o autor da máxima de que o mineiro só é solidário no câncer. Vá saber.

 Qualquer dia destes, quando me encontrar com o desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, que não participou da conversa em Araxá, mas também é de São João del-Rei, quero saber a sua opinião. Desculpa das melhores para a gente se encontrar, já que há tempos estamos combinando uma cerveja.

O certo é que, enquanto a conversa entrava noite adentro, animada por um e outro chope gelado, devidamente acompanhado por generosas lasquinhas de queijo canastra, Humberto Werneck, que também é mineiro, de Belo Horizonte, mas vive há muitos anos em São Paulo, lembrou-se de outra frase legada a Otto Lara Resende. A de que a idade ideal para um homem morrer é aos 57 anos. Mas com uma ressalva: se Deus, ou a dama de negro, não se dignarem a vir buscá-lo quando chegar esse momento da vida, só resta ao mesmo aproveitá-la.

Estou contando tudo isso é para dizer que, quarta-feira passada, por uma dessas graças do destino, ao qual fico devendo um agrado, cheguei aos 57 anos. Filho do farmacêutico prático Herculano de Oliveira Lopes, que há tempos se foi, e da professora Iracema Aguiar de Oliveira, vim ao mundo na graciosa cidade de Coluna, no Vale do Rio Doce, sertões sem-fim destas Gerais, em 23 de outubro de 1956.

Foi um ano privilegiado em que, só para ficar em três exemplos, Juscelino Kubitschek de Oliveira assumiu a Presidência da República; Guimarães Rosa publicou Grande sertão: Veredas, e Fernando Sabino, um dos Quatro Cavaleiros, também brindou a literatura brasileira com o seu O encontro marcado.

Entre sustos e muitos erros, mas sempre lutando para não deixar a peteca cair, já vivi mais do que meus avós. Também, antes de completar essa idade, perdi muitos amigos do coração, que acabam fazendo uma falta danada. Mas como cheguei aos 57, e pretendo ficar por aqui mais um bom tempo, agora só me resta seguir o conselho de Otto Lara Resende e aproveitar a vida. Alguém pode me ensinar a receita?

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