sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Crônica e poesia HUMOR E LIRISMO

O Globo - 08/11/2013

Dois dos principais nomes de suas gerações, Antonio Prata e Gregorio Duvivier lançam novos livros
nesta semana, com textos marcados por um olhar poético e bem-humorado sobre o cotidiano

MAURÍCIO MEIRELES
mauricio.meireles@oglobo.com.br

Um deles está entre os
principais nomes da
crônica da nova geração.
O outro está entre os principais
nomes de... Bem, o outro
joga nas 11: teatro, televisão,
roteiro de humor, crônica
e poesia. O que une os dois,
ainda que cada um o pratique
a seu modo, é o humor.

O cronista Antonio Prata e o
humorista Gregorio Duvivier
lançam nesta semana seus
novos livros, ambos pela
Companhia das Letras. O primeiro
publica “Nu, de botas”,
um conjunto de 24 textos de
memórias de infância com
um pé na realidade e outro na
fabulação. Já o segundo mostra
seu lado menos conhecido
do público, o de poeta, com
“Ligue os pontos — Poemas
de amor e Big Bang”.

Gregorio Duvivier é um poeta
bissexto, mas elogiado por gente
como Paulo Henriques Britto,
espécie de guru intelectual e artístico
para seus alunos do curso
de Letras da PUC-Rio. O novo
livro é uma volta de Gregorio
à poesia, cinco anos depois de
ter lançado sua primeira coleção
de poemas, “A partir de
amanhã eu juro que a vida vai
ser agora” (7Letras).

Nos novos poemas, Gregorio
apresenta o Rio de Janeiro sob
um olhar lírico, com referências
a lugares como a Avenida
Niemeyer, a praia de São Conrado
e a Floresta da Tijuca.
Sempre com um pé no humor.

— Gosto de fazer poesia de
humor, porque não
desperdiço nenhuma
ideia. Se ela for mais
iconoclasta e popular,
vai para o Porta
dos Fundos. Se for
mais jornalística, vai
para a minha coluna
(na “Folha de S.Paulo”).
Se for mais lírica,
vira poesia. Humor e
poesia são muito parecidos.
Os dois revelam
verdades escondidas
— diz ele.

O novo livro é
cheio de referências
da geração de Gregorio,
que tem 27 anos:
iPhone, Pokémon, o
funk carioca, entre
outros.

— Eu gosto de autores
que têm referências malucas,
que não são canônicas.
Cada geração tem o seu Pokémon.
Infelizmente, o Doug Fanie
fez mais parte da minha vida
do que o Fernando Pessoa.
O lugar da poesia não é na Academia
Brasileira de Letras,
mas na academia de ginástica...
Mentira! — diz Gregorio,
rindo. — É que eu acho que a
poesia tem que falar da vida
terrena. A academia de ginástica,
a praia, a rua.

Já o livro de Antonio Prata
traz histórias hilárias de sua
infância em uma vila
no Itaim Bibi, em
São Paulo — algumas
reais e outras
com um pé na ficção.
Uma delas,
“Waldir Peres, Juanito
e Pölöskei”, já havia
sido selecionada,
no ano passado, para
a edição da
“Granta” com uma
seleção de jovens escritores
brasileiros.

— É difícil dizer
como essa obra surgiu,
mas acho que
foi em 2004, quando
escrevi um livro
institucional para a
escola onde estudei
do maternal à préescola.
Fiquei dois
meses ali, assistindo às aulas
com as crianças. Muitas ideias
já surgiram ali — diz Prata,
36 anos.

Para chegar ao produto final,
Prata reescreveu muito
cada um dos textos. Teve que
cortar, como afirma, memórias
de infância que só interessavam
a ele, para deixar as
que tivessem interesse como
história. Com um olhar que
também é, muitas vezes, poético,
“Nu, de botas” mostra
uma criança descobrindo o
mundo, com causos do quintal
de casa, os amigos, o divórcio
dos pais, as férias na praia
e a descoberta do sexo.

Até o palhaço Bozo, que
marcou gerações com seu
programa de T V, ganhou as
páginas do novo livro, numa
história em que o narrador e
seus amigos ligam para o
programa a fim de pedir uma
bicicleta — mas não sabem o
próprio endereço. Ou mesmo
o que seja um bairro.

Como nos poemas de Gregorio,
as referências à cultura
de massa aparecem aqui e ali.
Prata só não sabe enquadrar
muito bem os textos do livro
em um gênero. Eles são híbridos
de contos, relatos de memória
e crônicas. Todos com
humor, esse sim um gênero
menosprezado, diz.

— O grande preconceito
não é com a crônica, mas com
o humor. Ele não é levado a
sério. O humor exige uma
compreensão, e as pessoas
valorizam mais o que não entendem,
porque acham profundo
— diz Prata.

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