quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Eduardo Almeida Reis » Globalização‏

Não compro jornal para ler que o cronista Fulano ou a cronista Fulana acham que goiabada cascão é ótima sobremesa, mas tem o defeito de engordar


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 21/11/2013


Em matéria de globalização, a notícia de que um grupo investidor da Indonésia vem de comprar 70% do time da Internazionale, de Milão, é das mais espantosas. Antes dela, pensei que a mais assustadora fosse a informação de que em Nanuque, MG, município quase lindeiro da Bahia e do Espírito Santo, um cavalheiro de BH comprou cabeçada para cavaleiro nosso amigo, que só monta em burros e mulas para percorrer sua fazendinha.

Cabeçada bacanérrima, cheia de tiras de couro e peças de metal, como se quer dos arreios para cavalgar mula castanha e macia, ao contrário da brasileira que inspirou o seu nome, besta e coiceira como ela só. Chegando à fazendola, o presenteado foi instalar o freio na cabeçada e encontrou o selo Made in Vietnam.

A Indonésia, lema Bhinneka Tunggal Ika (Igualdade na diversidade), bandeira civilizada, duas faixas horizontais, vermelha por cima, branca por baixo, sem os verdes e os amarelos característicos dos países do Quinto Mundo, é o maior arquipélago do planeta, somando 17.508 ilhas e 1.904.569 quilômetros quadrados, o 15º país em extensão territorial.

Com 237 milhões de habitantes, renda per capita de US$ 3.464 (109º), IDH 0,629 (121º) e o 18º PIB nominal, a Indonésia não me parece país em condições de investir num time do futebol italiano. Há vários times europeus comprados por investidores russos e árabes, mas indonésios? Basta lembrar que o IDH do Maranhão é 0,683 e a Indonésia ainda não teve a fortuna de produzir um Lobão.


Em pauta

Ulisses Demócrito Horta de Siqueira, herói que tentou me ensinar português, dava aulas em vários colégios cariocas, um dos quais tinha carimbo “Atrazado” para anotar os minutos de atraso do excelente mestre. Recorro ao zê do carimbo para comentar o programa Em pauta, do canal GloboNews, edição de terça-feira 15 de outubro. O apresentador, que hoje usa um anel no anular da mão esquerda, depois de usá-lo durante anos no dedo médio, introduziu três dos comentaristas habituais: Mara Luquet, que andara duas horas presa no trânsito infernal de São Paulo, Eliane Cantanhêde de Brasília e Jorge Pontual de Nova York exibindo original combinação de gravata e paletó da mesma lã. Pontual é adepto do espanto fashion, inventando cada roupa que vou te contar.

A partir daí, os três devem ter ficado feito bobos diante das respectivas câmeras, porque o programa se concentrou nas arruaças do Rio e de São Paulo, que, como sempre, começaram pelas manifestações pacíficas e ordeiras para terminar em puro banditismo de mascarados.

Parece-me, e o leitor concordará comigo, que aquela não deve ser a pauta do Em pauta. E é a segunda ou terceira vez que a direção do programa nela reincide, deixando os três comentaristas, maquilados, feito bobos, durante 60 minutos, sem aparecer na telinha. Não digo que o problema seja deles, porque também é meu, bobo que sou quando tento assistir ao programa.


Em cima do muro

Trabalhei alguns anos para grupo italiano, que procurava terras no Brasil visando a produzir e exportar “carne de qualidade”. De nossas andanças em aviões fretados, o que mais impressionava a italianada – donos, assessores, zootecnistas e amigos milionários convidados – era a mania brasileira de murar, verbo transitivo direto entrado em nosso idioma no século XIV. Casas modestíssimas na periferia de cidades modestas: todas muradas. Terrenos periféricos sem qualquer construção além dos muros. Os italianos urravam: “Guarda il muro!”.

Pelo que tenho visto, essa murofilia (de muro + filia, pospositivo, do grego phílos,é,on 'amigo, querido, queredor; agradável, que agrada') tomou conta da mídia impressa mesmo em jornais expressivos, através de cronistas badalados, que não têm opinião, são incapazes de aprovar ou condenar alguma coisa, vivem em cima do muro – e têm espaço, salário, leitores.

Não compro jornal para ler que o cronista Fulano ou a cronista Fulana acham que goiabada cascão é ótima sobremesa, mas tem o defeito de engordar, se bem que gordura seja formosura, o que não impede que magreza também o seja. É preciso que esta gente seja convencida de que o jornal impresso, hoje, deixou de ser lido pelo noticiário que todos recebemos através da tevê, da internet ou do rádio. O importante, agora, é que a equipe de articulistas, cronistas, editorialistas & cia. tenha opinião, mesmo que discrepe da nossa. Caso contrário, pode ser politicamente correto, mas é insuportável.


O mundo é uma bola


21 de novembro de 1237: após cinco dias de cerco, Ryazan é conquistada pelos mongóis liderados por Batu Khan. Nascido em 1205, Batu foi o fundador do Khanato da Horda de Ouro, que você talvez conheça como Khanato de Kipchak, termo que vem dos turcos kipchak nas forças mongóis. Filho de Jochi, Batu era neto de Genghis Khan e irmão de Berke, Orda, Shiban e Moval. Admita que você não sabia que Batu era neto de Genghis, como também só aprendi há pouco. Em 1964, Pelé marca oito gols nos 11 x 0 do Santos contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Em 1694 nasceu François Marie Arouet, que conhecemos como Voltaire.


Ruminanças
“O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.” (Antônio Vieira, 1608-1697)

Nenhum comentário:

Postar um comentário