terça-feira, 12 de novembro de 2013

Hillary, espionagem e eleições

Correio Braziliense - 12/11/2013

Hillary Clinton pediu que se façam “conversações sensíveis e adultas” capazes de estabelecer limites à ação dos aparatos estatais de vigilância. “Clinton diz que é necessário falar de espionagem” é o título da matéria do Guardian sobre a palestra de Hillary na Chattan House de Londres, também conhecida como Royal Institute off Foreing Affairs, de comprovado rigor e comprovada independência em seu palanque. O que disse Hillary teve como referências, avaliadas por ela como “questões muito importantes”, as fichas secretas subtraídas dos arquivos da Agência Nacional de Segurança, dos Estados Unidos.

O peso pesado da intervenção de Hillary tem comprovantes conhecidos. Foi secretária de Estado, a cargo de cuidar das questões externas dos Estados Unidos, com registros de incursões em quantidade superior a de quase todos os seus antecessores no cargo. Pesquisas constatam, desde já, que, mesmo sem declarar-se postulante, é a favorita numa disputa pela candidatura presidencial do partido Democrata em 2016. Mantêm um favoritismo capaz de torná-la a primeira mulher a ocupar a Casa Branca, com o controle, portanto, da Agência Nacional de Segurança.

De acordo com Hillary, é preciso que se faça bem recebido um debate sobre a vigilância na coleta de informações de inteligência. Ela evitou bater de frente com Obama, cujo approuach seria mais ou menos o mesmo. Mas o fato é que Hillary não deixa de insistir em que o “povo precisa ser mais bem informado”. O M-15, é significativo, é contra. Trata-se do serviço secreto inglês, que 007 tornou famoso. “A divulgação de informações secretas é um presente aos terroristas”, disse seu diretor, general Andrew Parker. Quanto a Hillary, em se tratando de conseguir vitalidade eleitoral, ela não perde tempo.

A volta de um democrata à prefeitura de Nova York, depois de longo reinado republicano, pode ajudá-la. Ela elegeu-se em dois mandatos senadora pelo estado de Nova York. Também o fato de tornar-se a primeira mulher a disputar a Casa Branca, embora seu marido, quando presidente, tenha enfrentado um processo de impeachment em razão de pecados inscritos na agenda feminista. Mas, mesmo nas primárias das eleições presidenciais passadas, Hillary conseguiu amplo apoio das mulheres, condição assentada com as disputas da senatoria por Nova York.

O feminismo, provavelmente, de novo se mobilizará em defesa da sua candidatura, desde que ela se imponha nas primárias e seja afinal a candidata presidencial do partido Democrata. Hillary nasceu em Massachussets, terra dos Kennnedy, e lançou-se em disputas nas urnas em Nova York. Optou por adotar o liberalismo, forte nesses dois estados, e não o conservadorismo do sul, onde seu marido foi governador. Mas saiu em defesa dele dizendo que foi vítima de uma conspiração de conservadores contra um liberal, tese bem aceita, mas não o suficiente para torná-la candidata do partido Democrata.

E agora, provavelmente, num segundo lance? É preciso retomar algumas preocupações tradicionais “do nosso partido, como níveis de vida, saúde e pleno emprego”. Fala de um ex-presidente partidário inspirada na tradição rooseveltiana. Adoção de ideias de intelectuais como E. J. Dionne, que querem “um novo progressismo para um novo século”. Hillary poderia encarná-lo? Ela foi ativa primeira-dama durante oito anos, tem experiência em trabalhos comunitários, atuou com competência como advogada e se elegeu duas vezes senadora por Nova York. Com Obama, como vimos, destacou-se como secretária de Estado, com uma agenda carregada nas costas.

Mas Hillary, em seu compromisso “inevitável” com a agenda de Obama, não terá de enfrentar somente conservadores, caso vá às urnas. Um dos expoentes da bancada democrata, o deputado Dick Gephardt, amigo de sindicalistas, foi um dos artífices da pior derrota de Bill Clinton no Congresso, a não aprovação do fast track, lei autorizando a Casa Branca a negociar acordos comerciais com outros países independentemente de sinal verde parlamentar. Gephardt não parou por aí.

Num discurso na Kennedy School of Government, em Massachussets, sobre “o coração dos valores democratas”, o líder do partido de Clinton na Câmara dos Deputados disse que “pragmatismo, por mais importante que seja, não pode substituir princípios que nos orientam e nos dão razão de ser”. Estratégia política, segundo Gephardt, não deve tomar o lugar da “verdadeira política”. É preciso retomar algumas preocupações tradicionais “do nosso partido, como níveis de vida, saúde e pleno emprego”. Um pedido com o dom da persistência.

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