sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis-Receptáculo‏


Receptáculo 

Nas pequenas cidades mineiras, não dá para fazer ideia do tanto que se bebe, sobretudo nas noites dos sábados
 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 20/12/2013 




Ninguém sabe onde fica a Zona Leste de Manaus, o que me faz supor que a humanidade ignore a existência de Puruquequara, bairro manauara. Quase todos os jovens brasileiros de hoje são apresentados pela mídia como universitários, mostrando que este país grande e bobo chegou à universidade sem passar pelos técnicos que faltam nas mais diversas áreas. Em contrapartida, há mais de 4 milhões (um Uruguai inteiro!) de bacharéis “advogando” mesmo reprovados nos exames da OAB. Aprovados ou reprovados, a tevê nos mostra figuras deliciosas no exercício da profissão. No interior de São Paulo, houve um crime recente de muito sucesso - e os crimes brasileiros, agora, podem ter sucesso de veiculação - e o advogado do suposto assassino fez admirável rotação capilar. No alto de sua testa, como que protegendo a careca que persiste na moleira, nasceu uma espécie de cerca de arame farpado, daquelas redondas que se põem nos muros. Em vez de arame, cabelos negros com raízes em África.

Voltemos à Puruquequara, para comentar o fato de o universitário Ivanildo Silva dos Santos, de 20 anos, ter sido preso na tarde de sábado, 16 de novembro, ao tentar entrar na Unidade Prisional do Puruquequara com dois celulares e quatro chips transportados em receptáculo dos mais originais. O universitário foi flagrado quando se assentou em uma cadeira em que há detector de metais. Pretendia visitar o detento Breno Rodrigues da Almeida, preso pelos crimes de tráfico, roubo e furto. Em dezembro de 2012, um rapaz de 19 anos foi preso ao tentar visitar um detento na mesma UPP transportando um BlackBerry e um carregador em receptáculo do mesmo tipo, prova provada de que já não se fazem manauaras como antigamente. O universitário Ivanildo admitiu sua homossexualidade informando que receberia R$ 300 pelo transporte anal dos celulares. E a informação do delegado Robson Siqueira, plantonista na 14ª DIP de Manaus, também foi admirável: como é crime de menor potencial ofensivo, o universitário passaria por um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) antes de ser liberado.

Alcoolização

Perfeita a matéria dos meninos do caderno Gerais sobre o problema da alcoolização - ato ou efeito de alcoolizar(se) - nos municípios mineiros, que certamente existe no resto do Brasil. Não conheço os 853 municípios de Minas e acho improvável que alguém já tenha visitado todos eles. Conheço boa parte do estado e o que vi, quando hospedado perto das praças principais das pequenas cidades, foi de horrorizar. Não dá para fazer ideia do tanto que se bebe, sobretudo nas noites dos sábados. Pior que isso: os que têm carros fazem questão de exibir seus carangos. E hoje, com carros zero custando pouco mais que 20 salários mínimos, é difícil deixar de ter automóvel. Na matéria em foco, aprendi que em Belo Horizonte é de 4,2% o percentual de motoristas alcoolizados em 91.959 testes com bafômetros. Nos testes feitos no interior do estado já encontraram 12,1% em Lavras; 11,1% em Pouso Alegre; 10,3% em Divinópolis; e 8,4% em Uberlândia, mas a quantidade de motoristas abordados ainda é pequena. Em Montes Claros, números diferentes da MOC que conheço bem e onde tenho bons amigos: só 1,2% em 403 medições. Com o passar dos meses, aumentando os testes com os bafômetros, presumo que os flagrantes se “normalizem” nos 4,2% motoristas embriagados, que deve ser a média estadual. No dia em que inventarem o barbeirômetro, ninguém se espante com 90% em Minas e no resto do Brasil. Dirige-se muito mal por aqui.

Suíte da matéria, dessa vez com os números de alcoolizados nos testes feitos em motoristas selecionados entre os abordados, mostraram que MOC teve 10,52% de pinguços entre os 95 testados, que representavam 5,52% dos 1.721 abordados. E mais uma coisa: 34 sem carteira de habilitação. Belo Horizonte abordou 553, testou 551 e encontrou 3,99% alcoolizados, número muito próximo dos 4,2% encontrados na capital em mais de 90 mil testes. Lavras abordou 104, testou 24 e encontrou espantosos 50% borrachos, como se diz em Espanha há não sei quantos séculos e em português desde 1712. Em Lavras, tomei um dos melhores e maiores pileques de minha vida, no dia em que comecei de Veuve Clicquot, em jejum, às oito da matina. Já relatei a proeza um sem conto de vezes. Qualquer dia conto de novo, porque foi pileque da melhor supimpitude.

O mundo é uma bola

20 de dezembro de 1766: são incorporadas à Coroa portuguesa todas as saboarias do reino. O conde Castelo Melhor, que perde o monopólio, é compensado com o título de marquês e importantes bens fundiários, o que significa dizer agrários. Em 1803, a Louisiana passa ao comando dos Estados Unidos. Morei lá dois meses tentando aprender inglês; voltei fluente em espanhol. Em 1838, Almeida Garret é nomeado cronista-mor do reino de Portugal. Homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal, separou-se da mulher, Luísa Midosi, com quem se casou quando ela tinha 15 anos, passando a viver em mancebia com Adelaide Pastor, até que ela foi a óbito em 1841. Viver em mancebia: o cronista-mor nunca foi de brincadeira. Hoje é o Dia do Mecânico.

Ruminanças

“Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

Nenhum comentário:

Postar um comentário