sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis-Verdade‏

O precedente da noite de 15 de novembro acena com um novo tipo de engarrafamento: o das sentenças tentando transitar


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/12/2013





“Tout va très bien, madame la marquise, / Tout va très bien, tout va très bien. / Pourtant il faut, il faut que l’on vous dise, / On déplore un tout petit rien: / Un incident, une bêtise, / La mort de votre jument grise. Mais à part ça, madame la marquise / Tout va très bien, tout va très bien.”

Estabelecido o fato que jument grise é égua tordilha, bêtise é besteira e mais existe em francês como conjunção mas, porém, além de advérbio e substantivo masculino, sem contar o maïs tremado, que é o nosso milho, convenhamos todos que o Palácio da Alvorada deve ter um mordomo parecido com o de madame la marquise para convencer madame la présidente de que as coisas vão todas muito bem.

Para início de conversa, as cenas transmitidas pelas televisões na noite do último dia 15 de novembro – brasileiros e brasileiras célebres se entregando à Polícia Federal em BH, em Brasília, na capital de São Paulo – me deixaram numa preocupação que o leitor nem pode imaginar.

Onde muitos comentaristas televisivos viram os sinais de um novo país, da “pedra fundamental da institucionalização das virtudes republicanas no Brasil’, em que ricos e famosos também vão para a cadeia, ainda que na maioria dos casos cadeia domiciliar, com direito ao champanhe noturno – o anoso philosopho viu o fim do Brasil tal como funcionou nos últimos cinco séculos.

Sim, porque se o precedente funcionar, milhões de brasileiros serão condenados e presos. Repito: milhões. Por mais que me esforce para ficar na casa dos milhares, acabo vendo milhões, muitos milhões com sentenças transitadas em julgado.

Transitadas... Vosso país já tem dois recordes em matéria de engarrafamentos de trânsito entre 167 cidades estudadas: o Rio de Janeiro tem o 3º pior trânsito do mundo e São Paulo o 7º pior. Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza e Porto Alegre também não fazem feio, mas só o Rio e São Paulo foram contemplados nos estudos da Tom Tom, empresa holandesa de tecnologia de transporte. O precedente da noite de 15 de novembro acena com um novo tipo de engarrafamento: o das sentenças tentando transitar. O resto é piu-piu, como vivia repetindo Ibrahim Sued, meu contemporâneo nas redações cariocas.

Horários

Anunciam-se modificações nos horários de muitas redações brasileiras, por causa da interação dos jornais impressos com os veiculados na internet. Dizem-me que os editores devem começar seus expedientes às sete da matina, deixando o fechamento dos jornais impressos por conta dos editores adjuntos ou subeditores, com expedientes depois das 18 horas. Assim, os editores podem cuidar do jornal on-line e encaminhar as matérias que serão impressas.

Grosso modo, o editor vai encarar a redação das 7h às 18h. Posso adiantar que esse horário não mata ninguém, porque já o encarei das 7h até depois das 21h. Nesse tempo, um dos secretários de redação chegava às seis da tarde para passar a noite no jornal. Quando me via saindo às nove da noite, não se esquecia de perguntar: “Já?”, brincadeira que se repetia várias vezes por semana.

Às sete da matina chegávamos ao jornal e já encontrávamos o Barros, secretário de redação, fazendo a barba na pia do laboratório fotográfico. Lá mesmo, com uma toalha enrolada no pescoço para proteger a gravata, ele pautava a rapaziada. Gravata... é claro: jornalista sério andava de gravata.

Meus expedientes de 12 horas, não raras vezes passando de 15 horas por dia, podem parecer estranhos, mas incluíam outro empreguinho que me tomava três horas diárias num banco oficial. Salários iguais, muito razoáveis tanto o jornalístico quando o bancário.

Situações divertidas nos dias em que o repórter, levando fotógrafo do jornal, entrevistava bancários importantes. O entrevistado, perplexo: “Tenho a impressão de conhecer o senhor”. Claro que conhecia: almoçávamos quase todo dia no bom restaurante do banco. O do jornal, também muito barato, era fracote.

O mundo é uma bola

Sexta-feira, 13 de dezembro de 2013: todo o cuidado é pouco. Ainda bem que só faltam 18 dias para acabar este ano. No dia 13 de dezembro, mas em 1545, teve início o Concílio de Trento, que se estendeu até 1563. Foi o 19º concílio ecumênico e tem sido considerado um dos três mais importantes da história do catolicismo. Convocado pelo papa Paulo III, foi atrasado e interrompido várias vezes na cidade de Trento, província autônoma de Trento, no Tirol italiano.

Em 1865, o Paraguai declara guerra ao Brasil. Deu-se mal, coitado. Em 1962, a Tanganica se torna independente da Inglaterra e adota o nome Tanzânia, que é um portmanteau de Tanganica e Zanzibar. Claro que não sei o que é um portmanteau e os dois dicionários que consultei não trazem a palavra. Para que o leitor não fique decepcionado com o philosopho, informo que Tanzania, um suaíli, é Jamhuri ya Muungano wa Tanzania e tem como lema Uhuru na umoja, que todos sabemos, ou deveríamos saber, significa “Liberdade e unidade”.

Hoje é o Dia do Pedreiro, do Marinheiro e de Santa Luzia, motivo pelo qual é feriado municipal em diversas cidades.

Ruminanças

“Só os fortes sabem ser indulgentes” (Victor Hugo, 1802–1885).

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