sábado, 14 de dezembro de 2013

Travessuras do Menino Jesus - Luiz Mott



A Tarde/BA - 14/12/2013

Luiz Mott
Professor titular de Antropologia da Ufba
luizmott@oi.com.br


Como toda criança, ao se encarnar, o Menino
Jesus não estava isento das infantilidades
inerentes à meninice. Sua infância
foi mais revelada pelos muitos evangelhos
apócrifos do que pelos quatro canônicos
– sendo os não oficiais que informamos nomes
dos avós de Cristo: Ana e Joaquim. Quando eu
era menino, minha mãe assim narrava o primeiro
milagre de Jesus: que ao fazer passarinhos
de barro, uns moleques despeitados
tentaram destruí-los, ao que o Filhinho de
Deus, comum sopro, fez comque as avezinhas
voassem miraculosamente.


Foram, contudo, as santas virgens o alvo
predileto das traquinagens do Divino Infante:
realizou seu casamento místico com a mártir
santa Catarina, colocando preciosa aliança no
dedo de sua esposa. Muitos foramos pintores
desde a Idade Média que reproduziram cenas
de Jesuzinho mamando no virginal seio de
Maria. E é nesta posição, no regaço de sua
mãe santíssima, que ele fez sua principal e
bem-aventurada travessura: ao apertar com a
mãozinha a santa teta da Virgem Santíssima,
espirrou um jato de seu abençoado leite que
caiu ipso facto no purgatório, resgatando diversas
almas penadas que voaram lépidas
para o céu. São Bernardo de Claraval, o doutor
Melífluo, teve o privilégio de receber diretamente
em sua boca tão precioso néctar
mais doce que o mel.


A barroca franciscana santa Veronica Giuliani
dava de mamar ao Filhinho de Maria em
seu próprio seio. Santa Rosa Egipcíaca (+1771), a
liberta africana considerada pelo clero carioca
como “a maior santa do céu”, proclamava ter
sua carapinha penteada pelo Menino Jesus. Foi,
entretanto, a santo Antônio a quem Jesus bebê
mais mimou: apareceu ao santinho em forma
de “deslumbrante menino, qual Ganimedes”,
cobrindo-o de beijos e abraços. Oh glória!
No nosso Museu de Arte Sacra há belíssima
escultura de Jesus Menino peladinho
deitado num bercinho barroco, devoção
muito cara às freiras e beatas de antanho.
Feliz Natal a minhas leitoras e leitores.
Que não percamos nunca a alegria e
inocência do Menino Jesus!

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