domingo, 12 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis - Amigos‏

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/01/2014 


Amigos

Guilherme de Figueiredo, saudoso amigo, escreveu o Tratado geral dos chatos, obra impossível de ser completada, como pedem os tratados, pela inimaginável quantidade de chatos que surgem no pedaço. Ando pensando escrever um Tratado geral dos amigos para falar dos muitos que tive e ainda tenho, com as suas diversas especialidades. Cícero disse que “o amigo certo se reconhece numa hora incerta”. Como não escrevia em português, língua que só passaria a existir 14 séculos depois de sua morte, caprichou no latim que manejava muitíssimo bem: Amicus certus in re incerta cernitur. Soares da Cunha, também saudoso amigo e confrade na Academia Mineira de Letras, definiu à maravilha certos amigos da onça: “Amigos são todos eles/ Como aves de arribação/ Se faz bom tempo eles vêm/ Se faz mau tempo eles vão”. Há milhares, milhões deles rodeando as pessoas que ocupam altos cargos. Lauro Müller (1863–1926), meses depois de deixar o ministério, encontrou no bonde um sujeito que vivia frequentando seu gabinete e nunca mais o procurou. O sujeito se desculpou pelo sumiço, mas foi tranquilizado pelo engenheiro, militar, político e diplomata nascido em Santa Catarina: “Não se preocupe, meu caro. Quando passei a pasta, passei com você dentro”. Vivenciei casos muito parecidos com parentes meus, que deixaram de ocupar altos cargos e foram abandonados pelos “amigos” que não saíam lá de casa, com exceção de uns poucos amigos de fatos. E os há, podem crer no anoso philosopho. Nas muitas vezes em que andei apertado, nunca me faltaram amigos que ofereciam empréstimos sem juros e sem prazo. 

Felizmente, em pouco tempo pude devolver o dinheiro emprestado. Claro que não vou revelar, aqui e agora, os tipos amigos que pretendo listar no tratado. Limito-me a um só deles: o amigo eficiente. É utilíssimo. Aparece nas horas complicadas, não necessariamente pela falta de dinheiro, mas nas doenças, nas complicações familiares, em todas as complicações – e resolve, porque é eficiente, descobre o caminho das pedras, parece ter nascido para isso. Os dicionários de citações incluem milhares nos verbetes amigo e amizade, que gosto de transcrever nas ruminanças de Tiro e Queda. Uma de cada vez, porque é humanamente impossível analisar e curtir, ou não, todas aquelas que certas revistas transcrevem numa página. Encerro este belo suelto com Shakespeare: “No que me tenho por mais feliz / É numa alma que se lembra dos bons amigos”.

Maluquearam 

Com as restrições feitas às internações manicomiais, que deram de ganhar bom dinheiro a diversos conhecidos meus, os brasileiros malucos foram às compras no exercício do seu esplendoroso malucar. Fico abismado com os preços que vejo nos jornais, sinal de que há gente comprando os produtos anunciados. Vejamos: pulseira Sara Joias, R$ 54,9 mil; saia R$ 2,1 mil e cinto Anne Fontaine, R$ 1.895; brincos Luli Martins, R$ 11 mil; brincos, R$ 51 mil; pulseiras a partir de R$ 51,3 mil; e anel por R$ 33,6 mil, tudo na Sara Joias. O vestido Dolce e Gabanna é baratinho: R$ 5,9 mil, talvez porque os dois rapazes romperam casamento de 20 anos, mas continuam muito amigos e sócios, dando uma lição de civilidade aos homens e mulheres que se divorciam e saem dizendo cobras e lagartos uns dos outros. Vestido Saint Laurent Paris na NK Store: apenas R$ 27.990. Que me diz o caro, preclaro e pacientíssimo leitor de um par de tênis por R$ 2.150? Pois é, existe e tem a grife Louis Vuitton. Há outro, baratinho, da mesma marca: R$ 1.540 – e ambos são feios à beça. Sabe aqueles armários comprados e montados em sua casa? Tenho um de R$ 890, que me parece da melhor supimpitude, mas você pode encontrar outros na Florence Barra a partir de R$ 45 mil. Combinam com a geladeira Smeg amarela, uma porta, à venda na Freicon por R$ 12.569. Isso mesmo: R$ 12.569, que é para você economizar um real e sair todo satisfeito ou toda satisfeita da loja, na hipótese de ter comprado uma penteadeira horrível, também amarela, por R$ 5,5 mil na Arquivo Contemporâneo.

O mundo é uma bola 

12 de janeiro de 1431: tem início em Rouen o processo contra Joana D’Arc, acusada de bruxaria. Em 1616, Francisco Caldeira Castelo Branco, nascido no Crato, distrito de Portalegre, Portugal, funda a cidade de Belém do Pará. Em 1759, Sebastião José de Carvalho e Melo, secretário de Estado do rei dom José I, manda expulsar os jesuítas de Portugal. Em 1807, parte da cidade de Leyden, na Holanda, é destruída pela explosão de um navio mercante que transportava pólvora. Em 1816, por lei do governo francês, toda a família Bonaparte é afastada da França. Em 1865, o marquês de Caxias assume o comando supremo das forças aliadas na Guerra do Paraguai. Em 1896, o médico Henry Louis Smith faz o primeiro exame de raios X depois de dar um tiro na mão de um cadáver. A chapa mostrou a bala alojada no defunto. Em 1923, lançamento nos Estados Unidos da revista Time.

Ruminanças
“A experiência é uma escola muito cara, mas é só nela que os tolos aprendem” (Benjamin Franklin, 1706–1790).

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