domingo, 12 de janeiro de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Castelos de areia‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Castelos de areia 


Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 12/01/2014


A insegurança é um dos males mais constantes da vida de qualquer ser humano. Ela tem uma causa bastante conhecida: nossa dependência infantil. Nascemos mal-acabados, se é que posso dizer isso! Nascemos prematuros seria o mais correto.

Nossa prematuridade nos faz absolutamente dependentes de cuidados alheios até muitos anos depois de nascidos. Se não houver boa vontade dos que cuidam de nós, estaremos em maus lençóis. Aliás, se não formos cuidados, morreremos.

Se formos malcuidados, sobreviveremos com as marcas dessa história. Se formos bem cuidados teremos chances melhores. Se formos muito paparicados, as marcas também estarão impressas em nós. Superproteção pode ser tão ruim ou pior que rejeição.

De qualquer jeito, o que importa além das marcas será o que fizemos e ainda faremos delas. Como interpretamos nossas histórias, as coisas que vivemos e os efeitos dessa nossa interpretação fizeram e farão de nós mais ou menos bem-sucedidos, felizes, seguros e de bem com a vida. Ou não.

Os fantasmas que criamos na subjetividade para entender ou explicar nossos medos e/ou talvez causá-los se tornam quase reais. Eles nos assombram constantemente apontando para uma ruína possível, para a arquitetura da destruição com requintes de detalhes.

Nos perdemos no labirinto onde a saída parece improvável de ser encontrada. Trombamos em paredes, assustados, vendo nelas muito mais que paredes; vemos quimeras criadas pela imaginação a partir de nossos maiores medos e atendendo a nossos piores temores, oferecendo uma consistência real a eles. Às vezes surreal.

Somos todos artistas, criacionistas no quesito fantasmas. Bem se vê que filmes de ficção contam com grande público, pois eles realizam nossos medos e nos oferecem saídas heroicas que na vida real nem sempre alcançamos.

As pessoas passam toda a vida girando em torno dos mesmos problemas, geralmente aqueles criados e estruturados dentro da nossa interpretação da família. Essas angústias se repetirão por toda a vida, em qualquer contexto em que estivermos inseridos.

Por isso, somos inseguros, temos medo do futuro, do prazer, de superar nossos pais, de ser melhores que o outro, de ir além dos que amamos e até de amar. Vivemos cheios de amarrações que não nos permitem desfrutar grande parte do que nos é oferecido.

Nem sempre temos liberdade de escolha, pois algumas de nossas escolhas foram feitas fora da nossa consciência e num tempo antigo. Foram escolhas forçadas e inconscientes. Algumas não podemos mudar. A sexualidade, por exemplo: quando escolhemos ser hétero ou homossexuais nem sabíamos que fazíamos tal escolha nem as consequências dela.

Se pudéssemos de fato escolher, sempre pegaríamos o caminho mais simples e fácil, que nos daria a felicidade sem conflitos. Nem por isso precisamos permanecer para sempre sem condições de que pelo menos algumas escolhas sejam por nossa decisão. E o futuro pode ser decidido a partir do desejo.

Isso não anula o fato de que nossa insegurança seja também por construirmos nossos castelos sobre a areia. A realidade não é como queremos. Nada nos garante a posse dos nossos amores para sempre. Não podemos prever o futuro. Podemos passar por adversidades e perder nossas posses. Perder a saúde. Ser vítimas de acidentes naturais. Nem sabemos por quanto tempo estaremos vivendo!

Tudo isso é verdade. Mesmo assim, temos de apostar no melhor, embora as chances de perder ou ganhar sejam idênticas. Mas como disse nosso querido Freud, em nosso socorro, “caso estejamos vivos, com saúde e nenhuma tragédia da natureza nos abata... podemos nos considerar felizes”, e é isso aí. Agora é viver! 

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