terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Maria Ester Maciel - Surpresas de viagem‏

Surpresas de viagem
Maria Ester Maciel
Estado de Minas: 21/01/2014


 Em Londres, o frio está ameno. De vez em quando uma chuva leve, que nem chega a molhar direito. No domingo, houve até sol e céu azul. E por conta disso, muita gente foi para as ruas aproveitar o dia. Comigo não foi diferente. Levantei-me cedo e, ao ver que a manhã estava luminosa, resolvi dar um rolê no Regent’s Park, que fica perto do meu hotel.

 No caminho, uma bela igreja capturou-me os olhos. Como gosto de ver o interior das igrejas nas viagens que faço, não hesitei em entrar nessa antes de seguir para o parque. Era uma igreja anglicana. Ao empurrar a porta central, vi que estava começando uma missa. Fui recebida por uma senhora muito simpática, que me deu as boas-vindas e se ofereceu para me conduzir a um assento. Ela também entregou-me um livro de salmos e um folheto com o roteiro da missa. Fiquei meio sem graça, é claro, pois não tinha pensado em ficar para a cerimônia. No entanto, diante da acolhida da tal senhora e das vozes afinadíssimas de um coral que começou a cantar Mozart, mudei de ideia. E quando me dei conta, já estava acomodada num dos bancos laterais, ao lado de um senhor grisalho que estava acompanhado de um cachorrinho magricela envolvido numa capa de lã xadrez.

A igreja estava cheia. Havia pessoas de todas as idades. Os religiosos, paramentados com roupas vermelhas, conduziam a missa com elegância e certa pompa. Há muito tempo não via uma cerimônia assim, tão solene. Atribuí isso ao gosto que os ingleses têm pelos rituais, todos impecavelmente organizados e realizados. A um certo ponto da missa, soube que haveria também uma cerimônia de batizado. Não só de criancinhas, mas também de adolescentes e adultos.

Acompanhei toda a missa, com certo fascínio. A música e os cantos estavam sublimes. A sensação foi estar numa sala de concertos. Por um instante, fechei os olhos e senti uma íntima (e inesperada) alegria. Nem acreditei quando, ao consultar o relógio, vi que já havia se passado mais de uma hora. Mas era como se o tempo não existisse, ou como se passasse sem passar. Saí de lá com a alma lavada e, como já estava quase na hora de ir encontrar meu filho, deixei o parque para depois.

No caminho de volta para o hotel, veio-me à mente uma outra igreja que tinha visto em Lisboa um dia antes de tomar o avião rumo a Londres. Uma igreja linda, em estilo barroco, decorada com pinturas, painéis de azulejos e talha dourada. O altar, esplendoroso, todo coberto de ouro (do Brasil, é claro). Fica no antigo Convento da Madre de Deus, fundado em 1504 pela rainha D. Leonor, e depois transformado no Museu Nacional do Azulejo. É um lugar meio fora da rota turística, no Bairro Xabregas. Para chegar lá, é só pegar um ônibus na Praça dos Restauradores, no Centro. E não é muito longe. Valeu muito a pena fazer o percurso para conhecer o prédio do antigo convento e a extensa coleção de azulejos que lá se encontra. Um museu tipicamente português, que diz muito da história do país. Ainda pretendo voltar lá outras vezes.

 Acho que amanhã, se não amanhecer chovendo, vou fazer o passeio (que não fiz no domingo) ao Regent’s Park, um dos maiores e mais interessantes de Londres. Aliás, se os ingleses são mestres em rituais e cerimônias, eles também sabem cuidar, com desvelo, de seus parques e jardins. 

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