sábado, 1 de fevereiro de 2014

Arnaldo Viana - Bom-dia, cavalo! (1)‏

Bom-dia, cavalo! (1)
Arnaldo Viana - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 01/02/2014



 (Arnaldo Viana/EM. D. A PRESS)

Bom dia! Não se avexe por causa daquela bobagem de que só quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Quero me apresentar. Tenho dono, se é que posso chamá-lo assim, mas não tenho um nome do qual posso me orgulhar. Fiquem à vontade para escolher um. Mas, cuidado, pangaré não recomendo. É que o homem criou normas de conceito que até viraram regras, das quais posso me aproveitar. Lexicógrafos dizem que pangaré é um indivíduo lento, desatento, panaca, matungo, baixo, gordo. Posso, assim, mover ação por bullying. Brincadeirinha, cavalo não goza de direitos assim.

Vocês estão perguntando agora: o que este animal está fazendo aí?. Folgado, hein? Primeiro, espero que estejam aplicando a palavra animal no bom sentido. Humanos têm mania de usá-la como sinônimo de bruto, burro. Aliás, quase tudo em mim é usado com sentido ruim. Vamos falar sobre isso depois. Primeiro, respondo à pergunta. Meu dono, ou patrão, sei lá, com certo desarranjo, intestino solto, encostou a carroça e me deixou meio largado no matagal ao lado da casa dele. O capim estava fraco e resolvi sair a campo. Em tempo de chuva, há muita erva viçosa e tenra no chão. E estou, é claro, na Linha Verde. Fui atraído pelo nome.

Como não achei refeição decente nessa avenida, parei para deliberar, sem a intenção de decidir, sobre questões da raça humana. Indesejado sou. Já ouvi: “Como pode um bicho desse tamanho à solta?”. Pera aí! Bicho desse não. Minha espécie está na história da humanidade. Não foi a primeira a arrastar veículo de carga, de transporte de pessoas, mas foi uma das mais usadas. Participou ativamente de grandes campanhas, de batalhas memoráveis. Lembro-lhes só de dois personagens que conquistaram fatias consideráveis deste planeta em cima de um de nós: Alexandre e Napoleão. Há até aquela brincadeira boba: “Qual era a cor do cavalo branco de Napoleão?”. Ohhhhh. Boba mesmo, de fazer doer inteligência de criança. Até porque, o francês não teve uma só montaria. Cavalgou até égua, burro. Ele queria era chegar e tomar posse.

Neguinho chega ao bar e mostra aos amigos o carro novo. “Tem 156 cavalos”, diz, cheio de prosa. Queria vê-lo fazer com o carrinho dele o que Gerônimo, o legendário guerreiro apache, com apenas 40 animais montados por magros e famintos companheiros, fazia com a cavalaria norte-americana. Queria ver. Portanto, mais respeito com a raça aqui. Agora mesmo, na saída daquele elevado, alguém fechou o carro de uma mulher. Ela gritou: “Cavalo!”. Ora, ora! Alguém já viu um cavalo desrespeitar alguém? Fazer grosseria? Nós, equinos, não temos esssa capacidade. Isso é privilégio humano.

Engraçada mesmo essa gente humana. Nas andanças com a carroça carregada de entulho, tijolo, areia ou de mudança de pobre, meu patrão gosta de ouvir futebol no radinho. Um jogador cheio de nhem-nhem-nhem reclamava da grama: “Está alta demais”. Pena que Deus não tenha dado asas a cavalo, exceto, claro, ao mitológico Pégaso. Mas foi outro deus, não o meu. Bem, fim de papo. Vou continuar com as minhas observações. Falamos depois.

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