quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Big brother do Facebook - Fátima Soares Rodrigues

Big brother do Facebook
Com as redes sociais, o privado já é mais do que público
Luciana Carvalho
Psicanalista, terapeuta bioenergética, historiadora

Fátima Soares Rodrigues
Escritora
Estado de Minas: 20/02/2014


Em 5 de fevereiro, a professora universitária e diretora da Coordenação Central de Cooperação Internacional da PUC Rio, Rosa Marina Meyer, publicou uma imagem em seu perfil, no Facebook, em que aparece um homem vestido com camiseta regata e bermuda lanchando antes do embarque no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Na legenda, uma pergunta irônica: “aeroporto ou rodoviária?”. O reitor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Luiz Pedro Jutuca, doutor em matemática, comentou: “O glamour foi pro espaço”. Rosa respondeu: “Para glamour falta muito! Está mais para estiva!”. Logo abaixo, a professora de português para estrangeiros completa: “O pior é que o Mr. Rodoviária está no meu voo! Ao menos, não do meu lado! Ufa!”. Outra professora da PUC Rio, também de letras, Daniela T. Vargas, também comenta: “O pior é quando esse tipo de passageiro senta exatamente do seu lado e fica roçando o braço peludo no seu, porque – claro – não respeita (ou não cabe) nos limites do assento”.

A postagem da foto e os comentários chegaram à página do Facebook da Dilma bolada, que divulgou e obteve mais de 6,5 mil visualizações. Indignadas, várias pessoas condenaram a atitude da professora e dos comentários do reitor e da professora da área de letras, afinal, professor é formador de opinião. É fato que as redes sociais tornaram possível a aproximação de pessoas. Graças a ela, o amigo, parente e até meliante podem ser mais facilmente localizados. Porém, também é fato que a privacidade nos foi roubada, pois, ainda que não nos exponhamos, somos expostos pelo outro. Vivemos um verdadeiro Big brother virtual. É possível falarmos de vida privada em uma época de exposição contínua de pensamentos e valores impermanentes, heterodoxos e duvidosos? Somos um amontoado de fragmentos, acontecimentos, fotos/fatos e compartilhamentos desnecessários, a menos que realmente estejamos perante a época de um individualismo exacerbado. Individualismo como conceito político que exprime a afirmação e a liberdade do sujeito perante o grupo. Observando as pessoas nas ruas, vemos um povo desnudado, sofrido, fracassado. Este é o real Facebook: um compêndio de livros de caras e histórias singulares e, no mais das vezes, sofridas.

Há uma confusão entre público e privado. Há uma confusão entre dinâmicas sociais que limitam, enquadram e que incitam o sujeito ao seu completo desnudamento. Há uma eterna confusão entre o que o sujeito deseja e o que ele deve (no sentido de dever público). Todos se expõem com tranquilidade, sem comprometimentos, deixando o privado nas mãos de outrem: quem? Acreditamos que o Facebook é a nossa mais nova catedral virtual! Não precisamos de padres, pastores e gurus. Temos estranhos a nos ouvir e amigos a nos redimir. Estamos lavando a roupa suja na tela de um computador, esquecendo-nos de que o privado atualmente é mais que público.

Nenhum comentário:

Postar um comentário