segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Inacreditável‏

Inacreditável 
 
Depois do almoço, acendo imenso puro de Havana e encaro o teclado ouvindo Beethoven. Gosto muito 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 17/02/2014




Telefonema de um amigo mineiro residente em Bangcoc, Tailândia, às 8h40 daqui, 17h50 de lá, dia 27 de janeiro de 2014. Na véspera e na antevéspera, em toda a semana anterior, a imprensa nos falou dos protestos tailandeses contra a primeira-ministra Yingluck Shinawatra, não raras vezes chamada primeiro-ministro, da “guerra” nas ruas de Bangcoc, essas coisas que embalam o telejornalismo brasileiro. Pausa para explicar que Yingluck Shinawatra é um pitéu, iguaria como raramente se viu ou se vê na condução dos destinos de um país. Dá de mil a zero nas outras. Pois muito bem: pergunto ao amigo mineiro como estão as coisas por lá e ele me diz que não há “absolutamente nada”, que faltam 10 minutos para as seis da tarde e sua mulher está na rua fazendo compras com uma amiga. Ele recomendou que as duas voltem para casa depois das seis, porque, às vezes, há uns apitinhos noturnos. E disse mais: perigosa, mesmo, é Belo Horizonte, onde nasceu e foi criado. Claro que a Tailândia tem problemas; não há país que não os tenha. Vou mais longe: nunca houve grupo humano que não os tivesse. Em defesa do antigo Reino do Sião, seja dito que tem uma administradora da melhor palatabilidade, um pitéu desejado pelos homens que ainda gostam de mulheres. A partir desse fato a gente pode ampliar o noticiário internacional e philosophar sobre a atração midiática pelo noticiário ruim, ainda que seja inventado ou aumentado. Será que vende revistas e jornais? Será do gosto dos telespectadores? Tenho minhas dúvidas e me despeço por aqui, deixando que o leitor tire suas conclusões a partir do episódio tailandês.

Influenciação

Com todo o respeito, pergunto ao leitor: qual é o seu nível de influenciação, de se deixar influenciar? Confesso que sou muito influenciável – no bom sentido, naturalmente. Até hoje não me deixei influenciar pela roubalheira que vai por aí. Nunca vendi uma linha das colunas que escrevo há quase meio século. Sei de casos de profissionais engavetados. Sempre que um amigo me manda um texto do fulano, deleto sem ler e pergunto ao remetente do e-mail: “Você acredita no fulano?”. Foi jornalista de talento, mas faz tempo que anda na gaveta. É hoje um talento engavetado e não é o único. Paciência. Não sou palmatória do mundo e me limito a deixar de ler seus textos. Mas sou influenciável, sim, como neste momento, em que vejo aqui na mesa do computador o CD de Beethoven: Symphony nº 9, regência de Carlo Piantelli. Já ouvi a Nona um caminhão de vezes. O motivo de o CD estar aqui foi o Manhattan connection, quando fiquei sabendo do documentário de 74 minutos sobre aquela sinfonia, produzido por um californiano que só tomou conhecimento da existência de Beethoven aos 20 anos. Até então ouvia rock. Tenho a Nona regida por maestros mais conhecidos que Piantelli, mas o CD dele foi o primeiro que encontrei nas estantes. Depois do almoço, acendo imenso puro de Havana e encaro o teclado ouvindo Beethoven. Gosto muito. É impossível não gostar de Beethoven. No tal documentário, segundo disseram no Manhattan, há grupos de 10 mil, 20 mil japoneses cantando a Nona, paixão quase universal. Ressalvado o aiatolá Ruhollah Khomeini, autor do Livro verde, deliciosa obra que ensina, entre outras coisas igualmente úteis, a posição que muçulmanos devem adotar na hora de fazer cocô. Perguntado sobre Beethoven e Bach, o santo homem respondeu: “Não conheço”.

O mundo é uma bola

17 de fevereiro de 1600: o papa Clemente VIII condena o filósofo Giordano Bruno à morte, na fogueira. Nascido Ippolito Aldobrandini, Clemente VIII era advogado e foi aluno de São Felipe Neri. Em 1602, com a bula Incrustabile Divine, Clemente VIII fundou a Congregatio de Propaganda Fide (Congregação para a Propagação da Fé). Também foi ele o responsável, em 1592, pela solução do conflito em torno do texto oficial da Bíblia publicando a Vulgata. Em 1596, reeditou o Index Librorum Prohibitorum, mas teve a virtude de liberar o consumo de café na Europa. Giordano Bruno foi teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano nascido em Nola, Reino de Nápoles, em 1548, churrasqueado em Roma em 1600. Donde se conclui que advogados e frades dominicanos sempre foram muito perigosos. Em 1800, desempatando o resultado das eleições norte-americanas, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos decide que Thomas Jefferson será o presidente e seu concorrente Aaron Burr Jr., o vice. Em 1867, o primeiro navio atravessa o Canal de Suez. Em 1941, mostrando que 17 de fevereiro não é dia bom para a fradaria, o frade franciscano polonês Maximiliano Kolbe é preso pela Gestapo, porque abrigava e protegia muitos refugiados, incluindo cerca de dois mil judeus. Em 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, hoje estado que tem fornecido brilhantes políticos ao Piscinão de Ramos. Em 1943, nasceu Fernando Gabeira, texto rápido e brilhante, pai de bela surfista.

Ruminanças

“Tenho um instinto para amar a verdade, mas é apenas um instinto” (Voltaire, 1694-1778).

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