segunda-feira, 10 de março de 2014

Obesidade e gravidez - Frederico Peret

Obesidade e gravidez 
 
Frederico Peret

Obstetra, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)

Estado de Minas: 10/03/2014


A gravidez é um dos momentos mais esperados e bonitos na vida da mulher. O corpo passa por diversas alterações nesse período, tanto emocionais quanto físicas, e requer cuidados especiais. A descoberta da gestação marca uma fase de mudanças na vida do casal, pois é quando surgem novos planos para a família. Contudo, ainda há quem encontre dificuldade em realizar o sonho de ser mãe, como no caso das mulheres com sobrepeso e obesidade, que, durante a gestação, está associada à morte prematura e ao nascimento de crianças com defeito no tubo neural, estrutura que dá origem ao cérebro e à medula.

A obesidade e a má alimentação geram uma série de mudanças no próprio DNA do feto, propiciando o aparecimento de doenças na fase adulta e na velhice. De acordo com um estudo publicado na revista científica British Medical Journal, os adultos cujas mães estavam obesas durante a gravidez têm 35% mais riscos de morrer antes dos 55 anos, devido a problemas cardiovasculares. A pesquisa alerta sobre a urgente necessidade de se construírem estratégias para controlar o peso antes da gestação. A recomendação de hábitos saudáveis de alimentação vai muito além do cuidado com o período gestacional, pois influenciará em todo o desenvolvimento da criança ao longo da vida.

O aumento excessivo de peso durante o período da gravidez pode acarretar diversas complicações maternas e perinatais, como o diabetes gestacional (DG), hipertensão arterial (HTA) induzida pela gravidez (pré-eclâmpsia, eclâmpsia), fenômenos tromboembólicos, infecções urinárias, parto pré-termo e distócicos, cesarianas, malformações do feto, macrossomia fetal, morte fetal e hemorragia maciça, sendo que a possibilidade da grávida com excesso de peso adquirir algumas dessas doenças é duas ou até seis vezes maior que as mulheres em forma.

O excesso de peso pode ocasionar infertilidade em algumas mulheres. A alteração no metabolismo da insulina e da glicose, comum em pessoas obesas, associada a alterações hormonais, pode levar a uma condição de infertilidade, conhecida com a síndrome do ovário policístico (SOP). Os sintomas são ciclos menstruais irregulares, anovulação (diminuição ou suspensão da ovulação) e níveis elevados de hormônios masculinos, diminuindo as chances de gestação. De acordo com pesquisa realizada por cientistas norte-americanos ligados ao Brighamand Women's Hospital e à Harvard Medical School, as mulheres com sobrepeso e obesidade apresentaram, a cada ciclo,  uma redução significativa nos níveis de estradiol (hormônio sexual responsável pela manutenção dos tecidos), ovócitos (células germinativas) e embriões. Outro hormônio afetado pelo excesso de peso é o gonadotropina (GnRH), importante regulador da ovulação.

É crucial que a mulher estando acima do peso e desejando engravidar, procure um médico para controlar a alimentação e atingir o peso ideal, facilitando a ovulação. O acompanhamento médico de pacientes com problemas de obesidade e alimentação deve ser iniciado, sempre que possível, antes da gravidez, a cargo de uma equipe multiprofissional, formada por obstetra, nutricionista, endocrinologista e educador físico, o que resultará em uma espera do filho tranquila e saudável. Devido à importância do tema, o assunto será discutido no 7º Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, entre os dias 14 e 17 de maio, no Minascentro.

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