quinta-feira, 6 de março de 2014

Tereza Cruvinel - A TV vale uma missa‏

Tereza Cruvinel - A TV vale uma missa
 
Quem pode ser deslocada para a pasta de Direitos Humanos é a ministra Ideli Salvatti, permitindo que Dilma tente arrumar a conturbada relação com o Congresso 
 
Estado de Minas: 06/03/2014



O pós-carnaval começou quente na arena política, com labaredas agora mais altas na crise entre o PT e o PMDB, viga importante da coalizão governista. Em uma rede social, o líder peemedebista Eduardo Cunha começou sugerindo o rompimento da aliança, embora depois tenha reinterpretado as próprias palavras. Com repensar, não quis dizer desistir, mas refletir. Compreendido, dirão os petistas, que também andam se perguntando se vale a pena manter a aliança. Nós, que assistimos a esse jogo interminável, mais uma vez nos perguntamos por que o PMDB sairia de uma aliança que lhe garante cargos e poder – ainda que não tanto quanto deseje – e que tem grandes chances de ser vitoriosa na eleição presidencial?
Isso vale para o PMDB e para os outros partidos aliados, que estão tratando de arrancar o que podem do governo, enquanto é tempo. Vale dizer, antes de empenharem a palavra e oficializarem o apoio a Dilma nas convenções de junho. É também por isso que ela vem cozinhando em fogo lento a reforma ministerial, na qual só resolveu até agora a substituição de alguns petistas. Não pode ela entregar as pastas ao PMDB e aos demais sem fechar alguns acordos eleitorais nos estados. Com o PMDB, a coisa vai de mal a pior. Hoje, aliança regional certa mesmo só existe em Brasília e em Minas, e, mesmo assim, no estado do senador e presidenciável tucano Aécio Neves são quase certas algumas dissidências, como a que deve ser liderada pelo senador e presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade. Fora disso, é olhar o mapa e constatar: PT para um lado, PMDB para outro, seja com candidato próprio ou com outras alianças. Como no Rio Grande do Sul, onde deve apoiar a senadora Ana Amélia, do PP.
Bem, dirão alguns, ainda que haja mais concorrência do que convergência eleitoral nos estados, o apoio do PMDB é importante para a governabilidade. Já foi. Desde que Eduardo Cunha tornou-se líder na Câmara, cada votação é um parto naquela Casa. E isso quando nem havia blocão. Com o PMDB liderando uma infantaria própria, composta pelas divisões de outros seis partidos, o governo é praticamente refém do maior aliado. Tanto que, na primeira votação que testou a força do blocão, para tirar de pauta um pedido de investigação sobre a Petrobras, o PT ficou sozinho e reuniu apenas 80 votos. Diante dos rumos da relação, os petistas cochicham entre si: se não há convergência eleitoral nos estados nem cumplicidade na ação parlamentar, está valendo a pena a aliança?
Na reunião de ontem com a presidente Dilma , é provável que, relativamente ao PMDB, o ex-presidente Lula tenha repetido o que tem dito a outros interlocutores: apesar de tudo, a aliança continua sendo importante. Dilma não precisa entregar os dedos, destinando a Secretaria de Portos a um indicado de Eduardo Cunha, mas precisa negociar os anéis. Não pode contemplar apenas o grupo do Senado nem deve concluir a reforma sem acertar os ponteiros em alguns estados, ainda que a demora faça aumentar a irritação dos peemedebistas. Apesar de todos os pesares na relação, e ainda que alguns grupos do PMDB façam com Dilma o que fizeram com o ex-governador José Serra em 2002 – deram-lhe apoio oficial mas descarregaram votos em Lula —, a aliança continua sendo importante, porque garantirá a Dilma o maior tempo de televisão. A coligação com o PMDB faz dobrar o tempo que seria destinado apenas ao PT. Esse seria o raciocínio de Lula, que, neste momento, está com todo o foco de sua ação na preparação da campanha.
Tanto é que ele se adiantou na montagem da estrutura, objeto da reunião de ontem, da qual participaram também o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o ex-ministro Franklin Martins, o publicitário João Santana e o chefe de gabinete Giles Azevedo, que vai para o comitê eleitoral. Segundo um petista de sua intimidade, Lula tem dito que fará tudo que estiver a seu alcance para que Dilma vença a eleição no primeiro turno, evitando o risco do segundo round: os adversários hoje não a ameaçam, mas em tempos trepidantes como os atuais, tudo pode acontecer. De resto, ele acha que é fundamental ganhar em pelo menos um dos dois estados do Sudeste, São Paulo ou Minas, enfrentando poderosas máquinas e forças tucanas.
A agenda dele ontem era, então, fundamentalmente eleitoral. Com tanta gente na reunião, dificilmente ele trataria do tão discutido estilo dílmico de governar e atuar politicamente, objeto de tantas queixas que lhe chegam, de políticos e empresários. A não ser que, pelo menos em uma parte do encontro, tenham ficado a sós. Nesta altura, não há mais separação entre ações de governo e de campanha, e por isso a temperatura anda tão alta. E vai subir mais, inclusive nas divisões da oposição, porque o tempo agora ficou mais curto para cada qual montar seu jogo.

Ideli em outra pasta
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, anseia por deixar o cargo, voltar à Câmara e cuidar de sua campanha. Há um forte lobby em setores do governo para que ela seja deslocada para a pasta da atual ministra-chefe da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci. Mas o deslocamento que agora Dilma examina é o da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela desgastou-se na relação com os congressistas e tem dificuldades para se eleger em Santa Catarina. Se for para os Direitos Humanos, com a promessa de ser mantida em um eventual segundo mandato, Dilma poderá escolher agora, em sintonia com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, outro mediador da relação com o Congresso, no momento em que a coalizão tem arestas para quase todo lado. 

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