sexta-feira, 11 de abril de 2014

A cidade de cada um - Carlos Herculano Lopes‏

A cidade de cada um
Carlos Herculano Lopes

carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 11/04/2014




Há alguns anos, os jornalistas José Eduardo Gonçalves e Silvia Rubião, num destes momentos de inspiração que às vezes costumam nos aparecer, tiveram uma ideia das melhores: fazer mapeamento físico e sentimental de prédios, instituições de ensino, bairros, acidentes naturais ou locais públicos importantes de Belo Horizonte, e convidar escritores, de preferência que morassem por aqui, ou tivessem ligação afetiva com o tema a ser abordado, para escrever a respeito.

Foi assim que, um após o outro, os livros da Coleção BH – A cidade de cada um foram surgindo, até chegar agora ao volume 25, Centro, escrito pelo poeta Antonio Barreto – lançado recentemente. Mineiro de Passos, no Sul do estado, há anos Barretão aportou em BH, cheio dos reco-recos, e fez sua a cidade da qual é cidadão por vontade e direito.

Corre a lenda de que Micítaus do Issás, o Macário, ao ficar conhecendo o recém-chegado, lá na Cantina do Lucas, onde imperava tomando conhaque e escrevendo versos em guardanapos, teria disparado, com sua verve ferina: “O moço não é interessante, mas interessado”. Foi o bastante para dar boas gargalhadas, tornarem-se amigos e cúmplices em sonhos literários. Estes costumavam se estender madrugada adentro, no Bar do Espanhol, Bar da Esquina, Pelicano, Bar do Chico, Gruta Metrópole, Scotellaro e incontáveis estabelecimentos, desde que a cerveja estivesse gelada.

Bem antes disso, já no distante 2004, para inaugurar a coleção, referência e tanto para quem quiser conhecer um pouco da história da capital mineira, foi chamado o jornalista e escritor Wander Piroli, este sim, belo-horizontino da gema. Nascido na Lagoinha, para a qual, nos idos da construção da cidade, chegaram levas de famílias italianas, entre elas a sua, coube ao autor de O menino e o pinto do menino a tarefa, que executou com a conhecida competência, de escrever sobre o bairro.

Para falar do Parque Municipal, que continua resistindo bem no coração de BH, com seus barquinhos no lago, os “mexicanos”, rodas-gigantes, carrinhos de pipocas que fazem a alegria da criançada e alguns lambe-lambes, cada vez mais raros, foi convidado o professor Ronaldo Guimarães. A propósito, o escritor – pasmem! – foi criado dentro do parque, brincando entre árvores, já que seus pais trabalhavam e moravam no local.

Coube ao compositor e cronista Fernando Brant, que dispensa apresentações, contar a história do Mercado Central. O Estádio Independência, que voltou a ser palco de grandes partidas de futebol, foi tema de Jairo Anatólio Lima. A Praça Sete, onde o improvável ocorre, serviu de inspiração para Ângelo Oswaldo. Celina Albano falou do Cine Pathé; Jorge Fernando dos Santos, do Bairro Caiçara; João Antônio de Paula, da Livraria Amadeu; Luis Giffoni descreveu a Serra do Curral; Márcia Cruz, nossa colega aqui no Estado de Minas, retratou o Morro do Papagaio, onde passou a infância tendo o horizonte a seus pés, e assim por diante, pois devido à limitação do espaço não dá para falar de todos.

Voltando ao Centro, livro de Antonio Barreto do qual tenho a honra de ser um dos personagens – e que tem como cenário, como o nome sugere, a região central BH nos anos de 1970/80 –, lê-lo, como fiz de uma sentada, é realizar inesquecível viagem, recheada de humor e boas histórias (o autor jura que todas são verdadeiras) à capital mineira daqueles tempos. Quando para a nossa geração (hoje homens e mulheres com muitos cabelos brancos e poucos sonhos) a vida estava apenas começando.

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