quarta-feira, 23 de abril de 2014

Eduardo Almeida Reis - Republiqueta‏

Republiqueta 
 
Não pense o leitor que vou gastar tinta e papel com a ignorância de muitos advogados e políticos


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/04/2014

Gleise Helena Hoffmann, nascida em Curitiba no ano de 1965, advogada e política brasileira, é senadora e foi ministra-chefe da Casa Civil desta republiqueta de bananas. Fisicamente não é figura repugnante, mas pronuncia “repuguina” em discurso lido, onde só podia haver “repugna” do verbo repugnar, que entrou em nosso idioma no século 14.

Não pense o leitor que vou gastar tinta e papel com a ignorância de muitos advogados e políticos, porque me sentei diante do computador para falar de assunto mais sério. Sei que os jornais não foram inventados para fazer terrorismo; prefiro cuidar de coisas amenas. “Repuguina-me”, como diz a senadora, assustar o leitor, mas os números pedem exame urgente.

Vejamos. Esta republiqueta deve ter 200 milhões de habitantes e o planeta, ao que se diz, 7,5 bilhões. Ora, 10% de 7,5 bilhões são 750 milhões, mas que três vezes a população brasileira. Enquanto isso, das 50 cidades mais violentas do mundo, 16 são brasileiras. Compete ao leitor, craque em matemática, descobrir a percentagem de 16 em 50 para calcular a “cordialidade” dos 200 milhões de brasileiros no universo de 7,5 bilhões de pessoas.

A ignorância de uma advogada e política deixa de ter sentido diante da gravidade dos números. Um jornalista pernambucano listou, em sua coluna de 31 de março, os nomes dos 362 mortos e desaparecidos durante os 21 anos de chumbo (sic) do regime militar. Admitamos que os desaparecidos tenham sido sumidos pelos militares, quando é sabido que muitos fogem da família e passam a viver noutros lugares com outras famílias.

Grosso modo, 21 anos são 7.665 dias, pelo que tivemos um morto ou desaparecido a cada 21 dias. Nunca imaginei que o tal jornalista fosse capaz de louvar o regime militar com tamanho entusiasmo, considerando que só no último carnaval, na Grande Fortaleza, 70 pessoas foram despachadas desta para a pior, 14 mortos por dia – no entorno da capital do estado pertencente aos irmãos Gomes. No Brasil atual mata-se mais gente do que na guerra civil da Síria. Ainda quando seja possível tentar ensinar português a certas políticas e advogadas, penso que é mais importante pensar na violência que vai por aí para ver se ainda há tempo de sair dela.

Aeroportos

Circulam na internet as fotos dos 10 maiores aeroportos do mundo, numa faixa de 66 a 97 milhões de passageiros/ano. Pelo mais movimentado circulam 8 milhões de passageiros/mês ou 266 mil/dia, número expressivo de pessoas.

Sou do tempo em que os aviões do Lloyd Aéreo Boliviano não conseguiam decolar de Corumbá nos dias quentes. Parece que nos dias muito quentes, normais naquela cidade, certos aeroplanos não têm sustentação para decolar. Correm pela pista, o piloto sente que não têm sustentação e aborta a decolagem. Descem todos os heróis esperando que uma chuvinha refresque o aeroporto ou que o clima do final da tarde permita a decolagem.

A propósito dos aeroportos brasileiros, Confins, Galeão, Guarulhos & Cia., que estão sendo enfeitados para a Copa, philosophemos. Grosso modo, um aeroporto se divide de duas áreas: técnica e social. A social inclui acessos, transportes, estacionamento, banheiros, refrigeração, restaurantes, lojas, escadas rolantes etc. A técnica diz respeito às pistas, torres de controle dos voos, sistemas de pouso por instrumentos, apoio em terra e tudo mais necessário para os pousos e as decolagens.

Como andará a área técnica dos nossos aeroportos? A social, sabemos todos, não tem jeito mesmo. Repugna-me (ou “repuguina-me” como diz a senadora Gleise Hoffmann) escrever certas palavras, mas jornalistas cultos, educados e respeitados têm dito que o Galeão é um “aeroporto de merda”. A sinonímia serve para os demais aeroportos: abessi, badalhoca, barro, borradela, boseira, bosta, bozerra, caca, cacá, cagalhão, cascarria, cíbalo, cocô, coprólito, cultivo, cunca, curuzu, dejeção, dejeto, esterco, estrabo, estrume, feitio, fezes, frago, marinheiro, sorete, sujidade, tapagem, titica, tolete, trampa, troçulho, vidro-mole.

O mundo é uma bola 

23 de abril de 1936: abertura do campo de concentração português do Tarrafal, em Cabo Verde. A Colónia Penal do Tarrafal, situado no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal da Ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi o tipo do campo de concentração à portuguesa, onde, ao que presumo, não faltaram bacalhoada e vinhaça. Pelas fotos do Google tem ótimo aspecto.

Em 18 de outubro de 1936 partiram de Lisboa os primeiros 152 detidos, entre os quais os participantes do 18 de janeiro de 1934 na Marinha Grande e alguns dos participantes da Revolta dos Marinheiros, que ocorreu a bordo de navios de guerra no Tejo em 8 de setembro de 1936.

Ditador exemplar, culto, incorruptível, António de Oliveira Salazar (1889-1970) fez o que era possível fazer na Europa daquele tempo. Morreram 32 presos políticos no Tarrafal, mas é a tal história: morre gente a montões, todos os dias, no mundo inteiro. Em Manaus, ainda agora em março um só desastre de ônibus matou 16 pessoas. No dia 23 de abril de 1616 morreram Shakespeare e Cervantes, figuras solares da literatura universal. Hoje é o Dia do Choro, do Escoteiro e do Serralheiro.

Ruminanças
“Mirabeau, capaz de tudo por dinheiro, até de uma boa ação” (Rivarol, 1753-1801).

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