domingo, 20 de abril de 2014

EM DIA COM A PSICANáLISE » O desejo da mulher

EM DIA COM A PSICANÁLISE » O desejo da mulher O Rei Arthur sai então em busca da resposta para se livrar da dívida com o vizinho


Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 20/04/2014



Depois do último artigo sobre o misterioso e indiscernível desejo feminino, recebi de um leitor uma lenda sobre o rei Arthur, que caçava em terras vizinhas e foi pego pelo proprietário, que resolveu perdoá-lo pela invasão caso ele respondesse a uma pergunta: o que quer uma mulher?

Segundo o leitor, essa pergunta e a tentativa de respondê-la se repetem sempre. Em 2012, Stephen Hawking, conhecido por desvendar algumas das questões mais complexas na física moderna, em entrevista à revista New Scientist, respondeu que o mistério do universo que o deixava mais perplexo era o das mulheres: “Elas são um mistério completo".

Concordo com o leitor sobre a repetição da pergunta e sobre a impossibilidade de respondê-la, e remeto à Grécia Antiga o desejo de entender as mulheres. Desta vez, foi em Ovídio que encontrei a história de Tirésias, o sábio profeta cego de Tebas, muito conhecido como aquele que vaticina o destino trágico do rei Édipo.
Tirésias foi transformado em mulher durante sete anos, como castigo por ter separado com uma pancada de seu cajado duas serpentes unidas. No oitavo ano, ele reencontra as serpentes e diz: “Se tamanho é o poder de uma pancada que recebestes, a ponto de mudar o destino de quem a deu, vou vos atingir de novo”. E assim o fez, retornando ao sexo masculino. Aindanão era cego.

Por esse motivo, foi tomado como árbitro da disputa entre Júpiter, alegrado pelo néctar, e Juno, numa divertida conversa. Perguntaram a Tirésias, posto ser ele o único a ter vivido de um e outro lado. Júpiter afirmava que o prazer sentido por uma mulher seria maior que o do homem. Juno nega. Tirésias confirma a opinião de Júpiter. Furiosa, Juno, filha de Saturno, dizem, muito mais despeitada do que o caso merecia, condenou os olhos do juiz à noite eterna. Saturno, pai onipotente de Juno, não podendo desfazer a obra de outro deus, o compensou com o dom de predizer o futuro, abrandando sua pena.

Volto ao leitor curioso com o mistério que se repete: afirma ele que a lenda do rei Arthur salvou a vida do genro dele. Continuação da lenda: o Rei Arthur sai então em busca da resposta para se livrar da dívida com o vizinho. Depois de percorrer muitos campos do saber, inutilmente, ficou sabendo de uma bruxa, que cobrava caro, mas respondia a qualquer questão. Foi até ela e o preço cobrado seria casá-la com um de seus melhores amigos e cavaleiro da Távola Redonda. Ora, a bruxa era horrível, fedorenta e soltava uns sons estranhos e, assim sendo, o rei não quis sacrificar o amigo. Este, ao saber do que ocorria, veio se oferecer em sacrifício, topando casar com a bruxa para salvar o rei.

E assim foi. Gentilmente, ele recebeu a bruxa como legítima esposa. Na noite de núpcias, ela apareceu linda, maravilhosa e perfumada e disse: “Como você foi gentil, vou ser metade bruxa e metade beldade”. E permitiu que ele decidisse qual metade preferia para o dia e para a noite. Ele respondeu então que a decisão era dela; e assim, por ser tratada com tal gentileza, ela decidiu ser bela sempre, pois ele teria permitido que ela fosse soberana sobre seu destino. Final feliz.

O papel aceita tudo e a estrutura psíquica de cada um é dura. Mas, sim, o respeito ao sujeito que é cada um ajuda muito diante das diferenças intransponíveis. E seria essa sensibilidade masculina a salvação da dificuldade de lidar com os mistérios caprichosos das mulheres? Tal atitude pode ajudar muito, mas ainda assim continuamos sem saber o que quer uma mulher. E podemos afirmar: quer ser desejada. Agora, outro mistério: é possível se fazer desejar?

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