quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dores do frio - Anna Marina

Estado de Minas: 14/05/2014 



Frio chegando e corpo doendo. Acontece quase sempre e a dor, difusa, é difícil de identificar sem ajuda médica. Essa canseira se chama fibromialgia e é uma síndrome clínica, crônica, caracterizada por dor difusa e outros sintomas associados, principalmente fadiga (cansaço), sono não reparador, alteração de memória e concentração. De cada 10 pacientes com fibromialgia, de sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão pela qual isso acontece. Não parece haver uma relação com hormônios, pois a fibromialgia afeta as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa. Talvez os critérios utilizados hoje no diagnóstico da fibromialgia tendam a incluir mais mulheres. A idade de aparecimento da síndrome é, geralmente, entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes.

Ela foi classificada como doença reumática em 1990, quando foram lançados os critérios de diagnósticos que até hoje são utilizados pelo Colégio Americano de Reumatologia. A síndrome é associada à sensibilidade diante de um estímulo doloroso, que é descrito por pacientes como dores pelo corpo todo. Com linguagem bastante simples e de fácil compreensão, a cartilha educativa desenvolvida pelos reumatologistas da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que tem como objetivo conscientizar sobre a doença e levar o paciente ao diagnóstico e tratamento com mais rapidez, está disponível para download ou pode ser encontrada nas unidades públicas de saúde.

Para o coordenador da Comissão de Dor, Fibromialgia e outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia, o reumatologista Marcelo Cruz Rezende, existe uma associação muito forte com o aspecto psicológico, com quadros depressivos e ansiedade, mas não é possível afirmar que se trata somente de fundo emocional. “Hoje, sabemos que é um distúrbio relacionado à alteração nos sistemas de controle de dor, devendo ser considerado como síndrome de amplificação dolorosa.” O especialista explica ainda que a fibromialgia pode ter patologias associadas, como tendinites, bursites e neuropatias, entre outras, que podem ser detectadas por métodos complementares. Como raio-x e ultrassonografia.

O diagnóstico é eminentemente clínico. Em 2010, foram lançados novos critérios critérios, retirando a necessidade da contagem de pontos dolorosos e colocando um índice de dor generalizado e de grau de severidade de sintomas, mas que ainda estão sendo questionados pelos especialistas. Não existem exames complementares que ajudem na identificação da fibromialgia, somente para diagnósticos diferenciais e de patologias associadas.

Por se tratar de uma condição médica crônica, ela não tem cura. “Existe um controle da sintomatologia. Entretanto, pode ser confortador saber que a fibromialgia é uma doença benigna”, destaca Resende. Existem várias medicações com fortes evidências científicas que melhoram os sintomas da fibromialgia, como a amitriptilina. Fluoxetina, duloxetina e pregabalina são algumas substâncias utilizadas para o controle de dor, ansiedade e depressão. Para distúrbio de sono, a própria amitriptilina e o uso de alguns benzodiazepínicos podem ajudar. Existem alguns trabalhos isolados sobre o uso de ritalina para fadiga.

A fibromialgia é um problema bastante comum, presente em pelo menos 5% dos pacientes que vão a um consultório de clínica médica e em 10% a 15% dos pacientes que vão a um consultório de reumatologia. A maior dificuldade a respeito do diagnóstico e do tratamento da síndrome está no desconhecimento da doença pelas várias especialidades médicas, pois elas não consideram os critérios necessários para diagnóstico. 

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