sexta-feira, 6 de junho de 2014

Eduardo Almeida Reis - Leitorado‏

Leitorado 
 
Quando minha visão é contrária à de um articulista ou de um cronista, deixo de ler os escritos de um e outro, que é para não me aborrecer 

 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/06/2014


Maria S., advogada, escreveu-me informando que está em vias de se tornar ex-leitora. Num segundo e-mail, justificou sua ameaça ao dizer que ando politizando meus escritos e criticando o atual governo, irritando e desgostando meus leitores que, como ela, consideram o avanço social nos últimos anos fato da maior importância: “O fato de um ‘analfabeto’ inteligentíssimo e carismático ter ocupado, e bem, a Presidência, é imperdoável para você. Temos posições políticas contrárias /.../”.

O analfabeto entre aspas é dela, pois não costumo aspear o boquirroto. Em seguida, Maria S. diz que a presidência FHC foi a maior decepção de sua vida, mete o pau no Aécio e no Antônio Augusto, e termina: “Prefiro você como escritor de amenidades com seu senso de humor inusitado e surpreendente”.

Obrigado, Maria S., pelo senso de humor inusitado e surpreendente. Também acho que o Aécio e o Antonio Augusto obraram mal quando não me ofereceram um lugar no conselho fiscal do BDMG. Informo que não aceitaria, mas ficaria muito sensibilizado. Foi grave falha nas carreiras políticas dos dois.

No que respeita às nossas posições políticas, Maria S., devem continuar contrárias, a não ser que você mude de opinião e passe a enxergar o país com lucidez. Gostaria que você soubesse que não digo do Lula e do atual governo a milésima parte do que penso: os fatos e os números falam por mim.

Tenho um truque, Maria S., que funciona muito bem: quando minha visão é contrária à de um articulista ou de um cronista, deixo de ler os escritos de um e outro, que é para não me aborrecer. Bastam-me os aborrecimentos inevitáveis, como o frio que está fazendo no dia em que componho estas bem traçadas.

O pouquinho que falo do Lula e do petismo, diante do que penso, é dever da consciência de um sujeito que tem espaço na mídia impressa e acha que ficar calado seria uma indignidade. Você não perde por esperar, Maria S., porque tenho pensado num blog em que possa falar deles tudo que penso. Registrado o domínio do blog, sei que você não vai perder uma postagem.

Especializações

Há mais de 50 anos, um professor norte-americano, acho que da Universidade de Colúmbia, disse que o homem se especializava em saber cada vez mais sobre cada vez menos, devendo atingir a perfeição no dia em que soubesse tudo sobre coisa alguma. Naquele tempo havia cursos de engenharia que formavam engenheiros. Hoje, as escolas diplomam brasileiros em engenharia elétrica, eletrônica, mecânica, aeronáutica e outras especialidades fantásticas, como a engenharia de tempos e movimentos.

Um dos jornais que assino salpicou suas páginas de cavalheiros e damas especializados em diversos assuntos. De quinze em quinze dias o colaborador escreve sobre rolantins do tip-top, almorreimas, algoritmos ou muscovita, que, como sabe o leitor, é o aluminossilicato básico de potássio monoclínico do grupo das micas, muito usado como isolante. Junto com os especializados, muitos jornais estão sendo transformados em publicações médicas, tantas são as páginas dedicadas à medicina.

Roubos

O Brasil inteiro teve notícia do roubo, em Monte Azul Paulista, de um leão de 300 quilos, peso destacado por toda a mídia. Roubo que talvez tenha sido uma recuperação, porque em Maringá, PR, o autor da proeza se dizia proprietário do animal. Estranhei o peso: tenho aqui The Encyclopedia of Mammals, editada pelo Dr. David Macdonalds, livro imenso que me custou uma fortuna, onde fui conferir a espécie Panthera leo, confirmando que o peso dos machos vai de 150 a 240 kg, enquanto as fêmeas pesam de 122 a 182 kg. A julgar pelo noticiário, o leão padece de obesidade mórbida.

Muito mais “notícia” foi o roubo, no Rio, de quatro vigas de aço especial do desmonte da Perimetral. Cada viga pesava 40 toneladas e aquele aço, produzido para durar 300 anos, não pode ser fatiado como queijo de Minas. As quatro vigas foram roubadas numa única noite e no centro da cidade, operação que exigiu guindaste e carretas especiais. Ficou tudo por isso mesmo e ninguém voltou a falar do assunto.

O mundo é uma bola

6 de junho: faltam 208 dias para acabar o ano e pouquíssimos dias para começar a Copa das Copas. Em 1523, Gustavo I é eleito rei da Suécia e marca o fim da União de Kalmar, que ninguém sabe o que foi, mas a Wikipédia ensina: em dinamarquês, norueguês e sueco a Kalmarunionen foi uma série de uniões pessoais ocorridas entre 1397 e 1521, que unificaram os três reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia sob monarca único. E dizer que chegamos a 1914 sem a mais mínima noção da existência da finada Kalmarunionen.

Em 1654 Carlos X sucede a sua prima Cristina, que abdicou do trono da Suécia. Nas pinturas que nos chegaram, a rainha parece um rapazinho. Era taciturna, inteligente e se interessava por livros, manuscritos, religião, alquimia, ciência e mocinhas. Queria que Estocolmo se tornasse a “Atenas do norte”. Seu estilo de vida nada convencional e comportamento masculino seriam tema de vários romances, peças de teatro, óperas e filmes. Por hoje, que é o Dia Nacional de Triagem Neonatal (teste do pezinho), basta de Suécia.

Ruminanças

“Todo o papel higiênico produzido no mundo é insuficiente para a obra do venezuelano Nicolás Maduro” (R. Manso Neto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário