terça-feira, 29 de julho de 2014

A fertilidade depois do câncer

Estado de Minas: 29/07/2014 



Os pacientes que lutam contra o câncer passam por uma série de efeitos colaterais ao longo do tratamento, decorrentes da quimioterapia. Os inconvenientes podem comprometer a estética, como a perda dos cabelos, e ainda provocar indisposição, náuseas e vômitos, causando doenças como anemia e infecção, entre outras. Outra consequência, ainda pouco divulgada e relativamente comum, é a infertilidade, que pode acometer os homens e as mulheres. Entretanto, existem técnicas modernas de reprodução assistida que contribuem para a prevenção da fertilidade, para que esses pacientes tenham condições de gerar filhos após o tratamento.

O câncer é muito frequente entre jovens, estima-se que aproximadamente 10% dos casos da doença ocorram na infância e na idade fértil, considerada entre os 15 e os 45 anos. A maioria dos tumores que afeta essa faixa etária apresenta alta taxa de cura, principalmente os germinais, linfomas e leucemias. A infertilidade nas mulheres acontece quando a quimioterapia compromete a quantidade de óvulos existentes nos ovários, podendo levar à menopausa precoce. Nos homens, ela pode afetar as células que dão origem aos espermatozoides, reduzindo a produção dos gametas masculinos. Contudo, não são todos os pacientes de câncer que enfrentarão esse problema.

Em um passado muito recente, algumas mulheres em tratamento oncológico tinham suas chances de gravidez reduzidas em mais de 90%. Atualmente, uma técnica chamada vitrificação, conhecida popularmente como congelamento de óvulos, permite a mudança desse cenário. Trata-se de um processo bem mais rápido e com menor risco de lesão celular. A vitrificação vem sendo aplicada de forma rotineira tanto para a criopreservação de óvulos quanto de embriões, isolando-os e mantendo-os em baixas temperaturas para que sua integridade permaneça inalterada por tempo indeterminado.

O procedimento deve ser feito antes do tratamento de quimioterapia e consiste na coleta e congelamento dos óvulos, após uma estimulação ovariana. Dessa forma, é possível obter vários óvulos sadios de forma segura e sem interferir no tratamento oncológico. Os óvulos serão mantidos em laboratório até que o câncer tenha sido combatido e a mulher queira se tornar mãe. Nos homens, é feita a coleta e criopreservação dos espermatozoides.

As taxas de sucesso são muito boas, com uma sobrevivência dos óvulos congelados de cerca de 90% e índices de gravidez em torno de 50%, em pacientes com idade até 35 anos, sendo que esses resultados são praticamente os mesmos obtidos com óvulos não congelados. A mesma técnica também pode ser aplicada em pacientes que passarão por algum tipo de cirurgia mutiladora na região da pelve, tal como a endometriose. Pode ser utilizada ainda em mulheres portadoras de doenças autoimunes, por exemplo, lúpus, que serão submetidas a tratamento com medicações que podem comprometer a reserva ovariana. Por fim, vem sendo aplicada com sucesso em mulheres solteiras que desejam adiar a gravidez para depois dos 35 anos. Nesse caso, a vitrificação é uma opção a ser considerada porque, após essa idade, a quantidade e qualidade dos óvulos ficam reduzidas e aumentam as chances de o bebê nascer com problemas, como a síndrome de Down.

É preciso esclarecer os médicos de todas as áreas sobre a segurança do método, levando informações sobre sua disponibilidade e importância. Muitos especialistas não sabem que é possível preservar a fertilidade, mesmo depois de um câncer, e, por isso, não alertam os pacientes. Assim, muitas mulheres e homens perdem a chance de se tornar pais por desconhecerem os tratamentos alternativos.  

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