sábado, 26 de julho de 2014

Brasil/África e a segurança alimentar - Evaldo Vilela

Brasil/África e a segurança alimentar
Evaldo Vilela
Coodenador do Projeto InovaDefesa, professor da UFV, diretor de CT&I da Fapemig

Geraldo Callegaro
Coodenador do Projeto InovaDefesa, professor da UFV, diretor de CT&I da Fapemig e membro da Academia Brasileira de Ciências e do Fórum do Futuro

Geraldo M. Callegaro
Ph.D. em economia agrícola, bolsista do CNPq
Estado de Minas: 26/07/2014


O desenvolvimento da agricultura africana não é uma opção, mas uma inexorável etapa da estratégia de segurança alimentar mundial. Análises da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam para um forte crescimento da demanda por alimentos, como resultado do aumento da população e de sua longevidade, do incremento da renda na Ásia, na África e na América Latina. O grande potencial para produção de alimentos no mundo encontra-se, além do Brasil, nas terras agricultáveis africanas, que representam cerca de 60% do seu continente e ainda não foram incorporadas ao sistema produtivo.

Nesse cenário, o papel desenhado para a África deverá passar, necessariamente, pela adoção de tecnologias para a agricultura tropical desenvolvida pelo Brasil. Isso em função não apenas de similaridades geoclimáticas, mas também pela experiência empresarial e diplomática para a mobilização conjunta de recursos humanos e financeiros entre Brasil e países africanos, iniciada pela Embrapa para o desenvolvimento das savanas da África. Assim, está aberta uma auspiciosa agenda de convergências, a começar pelo fato de que a África necessita estruturar um eficiente e efetivo sistema de defesa agropecuária, para assegurar a sanidade dos produtos de origem animal e vegetal, com sensível melhoria da qualidade e segurança dos alimentos e matérias-primas comercializados nos mercados interno e internacional.

Com suas fartas reservas de recursos naturais, a cooperação em defesa agropecuária com a África surge como uma excelente oportunidade para assegurar a presença brasileira, com uma parceria indutora da inclusão social e do desenvolvimento sustentável, em um continente com imenso potencial produtivo que ainda é grande importador de alimentos para satisfazer uma demanda crescente.

Depois de mais de 40 anos da independência, os países africanos, incluindo os de língua portuguesa, carecem de efetivos e eficientes serviços de sanidade vegetal e animal. Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe poderão se valer de cooperação com o Brasil, onde a sanidade dos produtos animais e vegetais – defesa agropecuária – está adiantada e tende a melhorar ainda mais. Vale enfatizar a exitosa experiência do Projeto Inovação Tecnológica para a Defesa Agropecuária – InovaDefesa –, financiado pelo Fundo Setorial do Agronegócio/MCTI e CNPq e executado pela Universidade Federal de Viçosa, em parceria com a Embrapa, o Ministério da Agricultura e instituições públicas e privadas. Nesse sentido, a agricultura brasileira suporta um ambicioso horizonte de relações institucionais, comerciais e científicas, que deve ser levado a cabo mediante acordos entre governos, para capacitar profissionais e criar infraestruturas para a agropecuária. O potencial é evidente, como constatado no documento Intercâmbio comercial do agronegócio, por principais mercados de destino, preparado pelo Projeto InovaDefesa.

O governo de Moçambique, por exemplo, no Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Setor Agrário, 2010-2019, definiu como prioridade elevar a qualidade dos produtos agropecuários por meio de tecnologias e serviços como sementes melhoradas, certificação e vigilância sanitária, com prevenção e controle de doenças de plantas e animais. Metrologia e tecnologias da informação são desafios e oportunidades para cooperação. Os países de língua portuguesa da África podem contar com os excelentes resultados do Projeto InovaDefesa (www.inovadefesa.com.br) que têm contribuído para uma nova consciência da defesa agropecuária aqui no Brasil, com promoção da capacitação, inclusive em nível mestrado; disseminação de conhecimentos, tecnologias e intercâmbio de experiências por meio da Rede de Inovação Tecnológica para Defesa Agropecuária (RITDA), com mais de 7 mil participantes; preparação do diretório de profissionais e de inovações tecnológicas em defesa agropecuária; e criação da Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA).

A cooperação é preponderante para o fortalecimento dos serviços de apoio da sanidade animal e vegetal de países em vias de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, pode atender ao apelo do presidente Obama, quando da sua visita ao Brasil, em 2010, ao enfatizar a importância da participação efetiva das regiões tropicais no aumento da oferta necessária para fazer frente à crise alimentar anunciada. O sucesso da agricultura tropical praticada no Brasil é o nosso passaporte. Essa agenda não pode esperar.

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