quarta-feira, 9 de julho de 2014

CRÔNICA » Ladrões de bola - Arnaldo Viana‏

CRÔNICA » Ladrões de bola
Fica triste não, galera! Torça pela Alemanha. É ela que joga o legítimo futebol brasileiro

Arnaldo Viana
Estado de Minas: 09/07/2014


 (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 O papai e a menininha aí do lado, desolados, nem desconfiavam de que estão nos furtando. Há muito os europeus estão levando nossos jogadores. Os melhores. Devagarinho, sugam deles o futebol. O futebol herdado dos craques dos anos 1950, 1960, 1970, aquele que está abaixo de pai e filha, nos pés de Müller. E quando devolvem algum, ele vem murcho como uma laranja chupada. A torcida brasileira sofreu no Mineirão sem desconfiar que os europeus sabem virar a bola de um lado a outro do campo. Que sabem fazer tabelinha, do tipo Pelé-Coutinho (deveria ter sido patenteada), dar passe de trivela e até esnobam nos lançamentos de 40 metros. E o toque de bola dos europeus? Está aprimoradíssimo. Entendem agora por que pagam 10, 20, 30 milhões de euros por um mínimo de talento que brota neste país? Levam, espremem e devolvem a mamucha. Esse é o motivo pelo qual 99% dos jogadores brasileiros repatriados não jogam mais nem um terço do que jogavam antes de atravessar o Atlântico. Nem é preciso citar exemplos. “Mas a maioria dos convocados ainda joga lá”, afirma o distraído. Jogam e já estão sugadinhos da Silva. Só o Neymar ainda conserva alguma seiva, porque saiu há pouco tempo. É isso. Estão furtando nossa capacidade de jogar bola. “Que bola?”, pergunta o lateral Marcelo. “Aquela que os alemães estão jogando”, responde o Fred. E é um furto confessado. Lembram-se da frase do Josep Guardiola, quando ele dirigia o Barcelona? “Estamos jogando como o Brasil jogava nos anos 1970.” E onde está o Pep Guardiola agora? No Bayern de Munique, inocente!

E os europeus estão se revezando no uso do nosso futebol. Em 2010, foi a Espanha. E o praticou com sabedoria para dobrar a Holanda. Este ano, emprestaram-no à Alemanha. E ela vem exibi-lo exatamente contra nós, numa falta de respeito sem tamanho. Tabelinhas, finalizações precisas, passada de bola para ninguém botar defeito. “Tabelinha, passe correto, finalização precisa, o que é isso”, pergunta Felipão. “É aquilo que os alemães estão fazendo lá no campo”, responde Thiago Silva, encolhidinho no banco de reservas. Os argentinos ficam aí nas esquinas, com essa cantoria boba de “Maradona es mejor que Pelé”. Eles que se cuidem. Quando os europeus se cansarem da nosso estilo vão cair em cima deles. E com essa gringaiada na cidade é bom as vovós e as comadres em geral esconderem bem as receitas de pão de queijo. Eles gostaram tanto que podem sugar a fórmula. É sabido que é impossível copiar o pão de queijo mineiro. Mas é bom evitar. Um genérico pode dar muito trabalho.

Bom, tá certo. Furtaram nosso jeito de jogar e vem aqui nos humilhar. Mas, não houve a menor resistência. A Alemanha simplesmente desfilou, como se estivesse passeando na Pampulha. É aí que entra o Felipão. Ele esta no rádio com uma autoimitação: “Os convocados são Neymar, Fred, Bernard, Jô e o colchão xis-xis”. O repórter pergunta: “Por que o colchão xix-xis Felipão?”. O técnico responde: “Para que os jogadores durmam bem e entrem em campo descansados”. Pois então. Ou o dito  colchão é muito bom e os 23 da galera canarinho de tão relaxados continuam dormindo até quando entram em campo, ou é danado de ruim para deixá-los sonolentos e incapazes de correr atrás da bola. “Que bola?”, perguntam em coro 21 dos 23 da galera canarinho (noves fora o Neymar, que estava em casa doente, e o Marcelo, que já perguntou isso lá atrás). “É esta redondinha que estamos jogando”, respondem em coro os alemães Thomas Müller, Klose, Özil, Schuerrle, Khedira, Schweinsteiger, Hummels… 

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