quinta-feira, 31 de julho de 2014

Eduardo Almeida Reis - Vergonha‏

Vergonha

Passei o último fim de semana apavorado com a previsão televisiva, que ameaçou os telespectadores com uma semana "gélada"no Sudeste

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 31/07/2014






Escrevo numa sexta-feira de inverno, às nove da matina, sol de fora. Temperatura mínima durante a noite dentro do apê, que é frio porque dá para a mata e os lagos de um seminário: 21ºC. Passei o último final de semana apavorado com a previsão televisiva daquela jornalista baiana, linda moça de sotaque horrível, casada com o dono da Friboi, que ameaçou os telespectadores com uma semana ‘gélada’ no Sudeste.

As previsões do tempo na tevê estão desmoralizando a meteorologia, estudo científico dos fenômenos atmosféricos, cuja análise permite a previsão do tempo: ciência complicada, mas séria. Por enquanto, é impossível fazer previsões num país do tamanho do Brasil. Portugal tem 90 mil km² e faz previsões para diversas áreas; Minas Gerais tem 586 mil km² (6,5 vezes a área de Portugal) e está “englobada” numa só previsão para todo o Sudeste brasileiro. Só pode ser piada.

Houve tempo em que a GloboNews consultava o Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, onde um técnico mostrava os mapas, as fotos dos satélites, e o telespectador tinha noção do que poderia esperar para as próximas horas. Como tudo que é bom dura pouco, aquele canal parou com as consultas, mas acabo de descobrir que posso consultar o Instituto pela internet. Vou ficar livre das ‘géladas’ da bela baiana.

Verdade

Sempre bem-informado, nosso Fontana citou matéria da Time: “...que desmente uma teoria sobre os males que o consumo de manteiga produz no ser humano, teoria que até agora nunca tinha sido contestada nem pelos médicos nem pela ala científica. O título da matéria, que aparece na primeira página, já é impactante. Diz o seguinte: “Coma manteiga! Cientistas rotularam a manteiga como inimiga. Por que eles estão errados.” Na continuação, a reportagem faz uma condenação da margarina.

Com todo o respeito pelos médicos, pelos cientistas e pela revista, a superioridade da manteiga de vaca sobre a indecorosa margarina é assunto que defendo na mídia impressa há meio século. Claro que manteiga, margarina, azeite, gordura de coco e banha de porco fazem mal. Alimentos orgânicos, agrotóxicos, exercícios, sedentarismo, tabaco, maconha, água poluída, água mineral – tudo faz mal e a explicação é óbvia: viver faz mal à saúde. No caso específico das margarinas, é preciso lembrar que são produzidas por empresas gigantescas, que têm imenso poder de fogo midiático. Comercial como aquele dos corações vermelhos, que entope os intervalos televisivos, deveria ser proibido por lei.

O caro, preclaro e assustadíssimo leitor de Time e do Estado de Minas bem pode imaginar a diferença entre o poder de fogo de uma empresa multinacional produtora de margarinas se comparado a uma fabriqueta, uma cooperativa que produz manteiga a partir de 100 litrinhos de leite comprados ali, mais 150 acolá. É comparar as torcidas do Atlético e do Cruzeiro, somadas, com a meia dúzia de torcedores do Boa.

Rapinagem

Circula na internet um vídeo em que jovem cavalheiro ensina como abrir a porta de um carro usando uma bola de tênis. Aparentemente simples, o processo consiste em fazer um furo de cerca de um centímetro na bola, encostar a parte furada ao buraco da porta trancada à chave e pressionar a bola, buraco contra buraco. No vídeo, a porta abriu e o vosso philosopho, antes de continuar falando de roubos e furtos, admite que usou o sinal de crase em “à chave” sem muita convicção. Depois que me disseram que educação a distância não tem crase, fiquei muito desconfiado e me lembrei da lição de Abgar Renault: “Em matéria de linguagem, quem não desconfia está perdido”.

No capítulo dos roubos e dos furtos, continuo fascinado pela subtração das vigas da Perimetral, cada uma pesando 40 toneladas de aço especial suposto de durar 300 anos. Uma coisa é roubar milhões de dólares da Petrobras através de transferências bancárias em paraísos fiscais. Outra, muito diferente, é roubar peças de aço de 40 toneladas, no centro de uma cidade, subtração que exige guindastes e carretas especiais. Transcorridos nove meses, ouvidas dezenas de pessoas, ninguém sabe, ninguém viu. Leiloadas, outras 384 vigas renderam R$ 4,7 milhões. O leitor, que sabe matemática, pode calcular o valor de cada uma e multiplicar por 4, para obter o valor das peças roubadas.

O mundo é uma bola

31 de julho de 904: Salônica, a segunda maior cidade do Império Bizantino, é conquistada pelos corsários sarracenos liderados por Leão de Trípoli e saqueada nos 10 dias seguintes. Que se pode esperar dos sarracenos, povo nômade pré-islâmico, que habitava os desertos situados entre a Síria e a Arábia?

Em 1769, alvará que cria em Lisboa uma fábrica de cartas de jogar, pertença do monarca, que não era bobo de deixar por conta dos outros a instalação de uma fábrica lucrativa. Em 2006, depois de 46 anos no poder, o comandante Fidel Castro transfere o cargo de presidente de Cuba a seu irmão Raúl Castro, sem que a brilhante administração da “única democracia das Américas” (sic) sofra solução de continuidade.

Ruminanças

“Um país governado por um déspota é um cone invertido” (Samuel Johnson, 1709-1784).

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