quarta-feira, 30 de julho de 2014

Outro sertão Céu de Luiz, livro de fotografias de Tiago Santana

Outro sertão 
 
Céu de Luiz, livro de fotografias de Tiago Santana inspirado em Gonzagão, revela a riqueza humana, a cultura forte e a sabedoria do povo que vive no semiárido brasileiro 
 
Walter Sebastião
Estado de Minas: 30/07/2014


Fotografias de  Tiago Santana, no livro Céu de Luiz, fogem do estereótipo da seca e da pobreza da região nordestina (Tiago Santana/Divulgação)
Fotografias de Tiago Santana, no livro Céu de Luiz, fogem do estereótipo da seca e da pobreza da região nordestina


O fotógrafo cearense Tiago Santana, de 38 anos, nasceu em Crato, divisa com Pernambuco. Lugar que, explica, pela riqueza cultural e humana, é quase uma síntese do Nordeste brasileiro. Ouviu desde a infância as músicas do cantor e compositor Luiz Gonzaga, também nascido na região e que tem na área fonte de inspiração. “Imaginei, então, uma interpretação visual livre do universo de Gonzaga, o sertão”, conta Santana. Ele se refere ao livro Céu de Luiz, com fotografias feitas por ele e texto do jornalista Adaúlio Dantas, que será lançado hoje no projeto Foto em pauta, às 19h30, no Oi Futuro, com projeção das fotos e bate-papo.
“Priorizei na seleção imagens que tivessem força, com algum mistério, mais simbólicas, que contassem uma história”, explica Tiago Santana. “Vou além do documental clássico”, avisa, observando que são fotos que se abrem para o imaginário, o subjetivo e o emocional. Criou fotos que rompem com olhar que só vê seca, pobreza e inferno no sertão. “É uma visão rasteira. Temos riqueza humana, cultura forte, muita sabedoria, fruto da vivência no semiárido”, afirma. São imagens em preto e branco, feitas com negativo, “que estouram um pouco o fotômetro”, para mostrar “o drama que a luz traz” e reforçar os traços humanos, acrescenta.

Céu de Luiz é o quarto título dedicado ao Nordeste. Ele lançou: Benditos (2001), Chão de Graciliano (2003) e O sertão dentro de mim (2011), que abarcam desde consideração sobre os romeiros de Juazeiro do Norte até reverência ao poeta Patativa do Assaré, passando por tradução visual do universo do autor de Vidas secas.

“O livro é uma história em quatro capítulos sobre esse lugar onde nasci, que me talhou como ser humano e fotógrafo”, conta. O motivo é recorrente, mas houve transformações na forma de abordá-lo: “As primeiras fotos foram feitas bem de perto, coladas no rosto, sentindo o cheiro da pessoa. Hoje, tenho usado linguagem panorâmica para ampliar espaços intensos, silenciosos, que existem junto das pessoas”, observa. O uso do negativo vem de encanto pelo processo e paixão por laboratório. “É como fazer papel artesanal. Não uso porque teria qualidade melhor, mas por implicar outro tempo de trabalho, alargado, como é o do sertão”, observa.

Perfil Tiago Santana é cearense, tem 47 anos, fotografa desde 1989. Ele credita a dedicação à fotografia, primeiro, “à riqueza visual” do lugar onde nasceu. Foi com o pai, fotógrafo e cineasta amador, que tomou contato com a prática. E com a engenharia, curso que começou, mas não concluiu, depois de se envolver com a Semana Nacional de Fotografia, realizada na universidade. “Descobri que fotografia era mais do que câmera, hobby, como pensava. Ela é campo de conhecimento, reflexão, mundo maior inclusive do que a minha vida. E se tornou minha forma de superar a timidez, de falar da minha história sem usar palavras”, explica.

O fotografo criou e mantém, há 15 anos, a Editora Tempo de Imagem, com cerca de 40 títulos lançados, todos sobre fotografia, sejam edição de imagens ou de texto. “Livro, para mim, é o lugar onde a fotografia se pereniza, ganha outros mundos, vai para a casa das pessoas, para as bibliotecas, oferecendo ao observador possibilidade de mergulhar no realizado”, defende Tiago Santana. “Considero exposições espaços virtuais necessários, mas o livro é incomparável no que se refere ao alcance perceptivo”, acrescenta.

A atenção, no momento, está voltada para recuperação e pesquisa do acervo de Leocádio Ferreira, fotógrafo cearense dos anos 1950, já falecido. Material que se tornará livro e exposição. A primeira mostra de Tiago Santana foi O chão de Graciliano, de 2003, no Sesc Pompeia (SP). Trabalho que, transformado em livro, recebeu, em 2006, o Prêmio ConradoWessel de Fotografia. É do cearense o volume Sertão, da coleção francesa Photo Poche. As imagens do fotógrafo estão ainda nos livros Mar de luz; Brasil, bom de bola; Acts of Faith: Contemporary brazilian photography, editado por Elizabeth Edwar e publicado pelo Pitt Rivers Museum University of Oxford, em conjunto com Brasil Connects.


FOTO EM PAUTA
Lançamento do livro Céu de Luiz com projeção de fotos e bate-papo com o autor, Tiago Santana. Hoje, às 19h30. Oi Futuro, Avenida Afonso Pena, 4.001, térreo, Mangabeiras, (31) 3229-3131. Entrada franca. 

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