quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sanção contra a Rússia tira o brilho do Brics‏

Sanção contra a Rússia tira o brilho do Brics 
 
EUA e União Europeia anunciam fortes medidas para penalizar o país um dia depois dos representantes dos emergentes criarem banco próprio e declararem apoio ao presidente russo
 
Rosana Hessel e Grasielle Castro

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que as sanções dos EUA vão causar graves danos às relações com os americanos (Ueslei Marcelino/Reuters)
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que as sanções dos EUA vão causar graves danos às relações com os americanos

Brasília, Moscou, Bruxelas e EUA –Um dia depois de o Brics, grupo que reúne Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, dar uma demonstração de força às potências ocidentais, criando um banco de desenvolvimento para competir com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e de apoiar, explicitamente, o presidente russo, Vladimir Putin, na disputa com a Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa reagiram.

O presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou as mais duras sanções, até agora, contra a economia russa, mirando importantes empresas, como a Gazprombank e a Rosneft Oil, além de companhias das áreas de energia e defesa.

Washington tem aumentado constantemente as sanções financeiras contra a Rússia pelo que considera ser uma interferência de Moscou na vizinha Ucrânia e a anexação da Crimeia. Obama disse que os EUA poderiam impor novas punições se a Rússia não tomar medidas concretas para atenuar o conflito. O presidente russo, Vladimir Putin, que está em visita ao Brasil, disse em Brasília que precisava ver os detalhes das sanções para avaliar o que significam. Ele afirmou ainda que as sanções normalmente têm efeito bumerangue e que levarão a um beco sem saída. E destacou que “sem dúvida alguma neste caso, (as sanções) levam as relações entre russos e americanos a um impasse (e) causam graves danos”. “E estou convencido de que isso vai comprometer os interesses a longo prazo do Estado e do povo americanos.”

As empresas atingidas pelas sanções também incluem a segunda maior produtora de gás da Rússia, a Novatek, a Vnesheconombank, ou VEB, um banco estatal que atua como agente de pagamento para o governo russo, e oito empresas de armas. O Departamento do Tesouro dos EUA, que publicou as sanções na sua página na internet, disse que as medidas efetivamente suspenderam o financiamento em dólares a médio e longo prazos para os dois bancos e empresas de energia. Mas as sanções não congelam os bens dessas quatro companhias. “São significativas, mas também são destinadas e projetadas a ter o máximo impacto sobre a Rússia, mas ao mesmo tempo limitar qualquer impacto que possam causar em empresas norte americanas ou de nossos aliados”, disse Obama a jornalistas. As novas medidas foram anunciadas no mesmo dia em que os líderes da União Europeia reuniram-se em Bruxelas e concordaram em ampliar as suas próprias sanções à Rússia.

“Enfatizamos a nossa preferência para resolver esse problema diplomaticamente”, disse Obama. “Temos que ver ações concretas, e não apenas palavras, de que a Rússia, de fato, tem o compromisso de tentar acabar com este conflito.” Ele disse que a Rússia continuou a apoiar os separatistas no leste da Ucrânia, enviando combatentes e armas através da fronteira.

ARGENTINA A presidente Dilma Rousseff demonstrou solidariedade para com a Argentina, que perdeu a apelação contra a cobrança da dívida de US$ 1,3 bilhão por fundos norte-americanos na Corte Suprema dos Estados Unidos em junho. A chefe de governo considerou o tema importante e propôs que o assunto fosse levado ao G-20, grupo das 19 principais economias emergentes e desenvolvidas do planeta mais a União Europeia (UE), nos dias 15 e 16 de novembro em Brisbane, Austrália.

A presidente formalizou o apoio ao principal destino das exportações brasileiras de manufaturados durante suas considerações finais na segunda sessão de trabalhos da VI Cúpula do Brics – grupo integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, no Palácio do Itamaraty, de acordo com fontes palacianas. O encontro foi fechado à imprensa e reuniu os cinco líderes do Brics mais os chefes de Estado de 11 países da América do Sul.

Na abertura, Dilma destacou a criação do New Development Bank e do Arranjo Contingente de Reservas (CRA), anunciados em Fortaleza (CE), e fez questão de frisar que um dos pontos centrais do encontro do Brics foi “fortalecer a coordenação em prol de uma ordem internacional que favoreça nossos processos de desenvolvimento”. Ela ainda defendeu uma maior integração regional. “A América do Sul é uma região de extraordinária pluralidade e extraordinária riqueza. Nós, de fato, optamos por modelos políticos e econômicos diversificados, o que sempre faz com que tenhamos de exigir diálogo respeitoso e consensos cuidadosamente construídos”, disse Dilma antes de dar a palavra aos convidados.

A primeira a falar antes do almoço foi a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Ela reiterou suas queixas em relação aos fundos americanos. “Estamos pagando mais do que recebemos. A Argentina, por mais que a difamem e digam que não quer negociar, os únicos que não querem negociar são os fundos abutres que querem que lhes paguem por US$ 48 milhões, US$ 1,6 bilhões em seis anos”, disse Cristina. Ela negou que o país entrará em default. “A Argentina vai continuar pagando, vai continuar cumprindo com suas obrigações porque é um país solvente e porque está convencida de que deve honrar seus credores de forma justa, equitativa e global”, completou. A mandatária também sugeriu a criação de uma “ordem financeira global que permita o desenvolvimento sustentável e que seja justo e qualitativo”. Na saída, Cristina elogiou a reunião e afirmou que ela foi “excelente”.

Além de Dilma, todos os países sul-americanos demonstraram apoio em relação à situação da Argentina, de acordo com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. “(Essa situação) é irracional e insólita”, afirmou.

BANCO Todos os presidentes sul-americanos elogiaram a iniciativa dos países do Brics em criar o New Development Bank, no primeiro dia da Cúpula, anteontem. A instituição deverá ser lançada oficialmente em 2016, de acordo com as autoridades brasileiras, se não houver contratempos na aprovação dos recursos para o banco pelos congressos de cada país. Inicialmente, o capital da instituição será de US$ 50 bilhões, sendo dividido igualmente entre os países do grupo.

A Argentina, que foi convidada para ser observadora da reunião da capital cearense pela Rússia pode ser um dos primeiros a tomar empréstimo da instituição. Para Dilma, essa possibilidade não é descartada, desde não descartou a possibilidade de a Argentina ser um dos primeiros tomadores de empréstimo do banco do Brics, desde que “peça ajuda”. “O banco é uma boa ideia, mas é como se fosse uma vaca vai precisar comer muito para dar leite em 2017”, disse o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica. “Quanto mais alternativas existem, melhor”, reforçou.

O encontro dos líderes terminou por volta das 17h sem declarações oficiais ou atos concretos. 

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