sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Antipatias‏

Abgar Renault, gênio barbacenense que nos deixou em 1995, dizia que certas pessoas não mentem, mas têm muitas verdades para o mesmo fato


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 29/08/2014



Não aprendi a guardar ódios, mas não consigo me livrar das antipatias. Um exemplo: nunca mais dei crédito a um jornalista que, narrando GP de Fórmula 1, falou: “Se ele manter a posição”. Com os escribas é a mesma coisa: “Maria se senta diante de mim”. E Maria, coitada, anda pelos 20 aninhos. Só entrará nos sessenta daqui a 40 anos. O negócio vai por aí com a notícia de que o Brasil ocupa o 5º lugar na lista dos obesos com ê fechado e boca aberta, quando seria melhor fechar a boca para emagrecer e abrir o é. Houaiss abona (ê) e (é), problema dele, afamanado lexicólogo. Sou pelo (é) em obeso, acervo e obsoleto.

Que me diz o leitor de uma professora de português que ensina: “Pela nova ortografia, plural de forno é fornos” /ô/. No duro mesmo: professora de português no melhor e mais caro colégio de uma cidade brasileira de 600 mil habitantes. Primeiro, não se trata de “nova ortografia”, pois ortografar é escrever de acordo com as regras ortográficas estabelecidas e a professora cuidava da ortoépia, isto é, da boa pronúncia. Aqui e alhures, plural de forno é fornos, /ó/. Têm a vogal tônica fechada (ô), entre outros: adornos, almoços, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros.


Internet

Em 20 minutos, não mais que 20 minutinhos, a internet me proporcionou dois espetáculos que não têm preço: o corte para aumentar o tamanho de um transatlântico e a complexidade da fabricação dos ladrilhos hidráulicos. No corte do navio transformaram o Norwegian Crown no Balmoral, cortando ao meio gigantesco Norwegian, separando a proa da popa, para soldar entre as duas partes um pedaço que já estava pronto. Dá para imaginar a loucura que deve ter sido reajustar corredores, escadas, elevadores, tubos, cabos e o mais que havia para reformar, modernizar e pintar tudo aquilo, trocar o nome e lançar ao mar. Ficou faltando o preço da ampliação comparado ao de um navio novo. De qualquer maneira, o resultado renomeado Balmoral é quase tão espetacular quanto os barcos de fibra óptica inventados pela vossa presidenta (sic). Mais demorado, menos moderno e tão interessante quanto o vídeo do transatlântico foi o da fabricação dos ladrilhos hidráulicos. Só vendo para acreditar no trabalho que dá a produção dos ladrilhos um a um.

Pois muito bem: a louvação que você acaba de ler vem a propósito das críticas que têm sido feitas à internet pela divulgação, com o consequente repasse por milhares para milhões de internautas, de um monte de mentiras sobre os mais diversos assuntos. Há sites especializados em apurar a verdade dos e-mails que pipocam na rede. Trabalho dificílimo porque começa pela definição de verdade.

Abgar Renault, gênio barbacenense que nos deixou em 1995, dizia que certas pessoas não mentem, mas têm muitas verdades para o mesmo fato. Como a coluna Tiro&Queda é uma espécie de bíblia da imprensa brasileira, vejamos o que nos diz a outra Bíblia sobre a verdade: “A noção bíblica de verdade provém de pontos de vista muito diferentes dos da noção ocidental, que remonta principalmente à terminologia grega. Para os gregos, a verdade é a concordância entre o pensamento e a realidade, ou então a própria realidade enquanto se revela ao espírito. Nisto se manifesta a obsessão grega quanto à clareza, à compreensão teórica e intelectual”.

A concepção bíblica da verdade, contudo, é existencial: corresponde a um desejo prático de conhecimento para a vida. Na própria Bíblia a noção passou por uma evolução: no judaísmo e no Novo Testamento, o termo verdade é cada vez mais relacionado com a lei, a revelação, a palavra de Deus. Como deu para perceber, só aí temos cinco verdades: a do leitor, a minha, a da internet, a grega e a bíblica explicando a mentirada informática.


O mundo é uma bola

29 de agosto de 1526: Solimão, o Magnífico, vence Luís II da Hungria na Batalha de Mohács. A julgar pela Wikipédia, nada aconteceu antes de 29 de agosto de 1526. Cuidemos de Solimão I (1494-1566), Sua Majestade Grande Sultão Imperial, Comandante dos Fiéis e Sucessor do Profeta do Senhor do Universo, que tinha um prestígio danado. Foi o décimo sultão do Império Otomano e o de mais longo reinado, iniciado em 1520 até morrer, em 1566. Sob seu reinado, a frota otomana dominava as águas do Mediterrâneo ao Mar Vermelho e ao Golfo Pérsico.

Dentro do império, era conhecido como justo e incorruptível, tendo sido o mecenas de artistas e filósofos, além de ter sido um dos maiores poetas islâmicos e destacado ourives. A filha de um sacerdote ortodoxo russo, Aleksandra Lisowska, também conhecida como Roxelada, Khourren ou Hürrem, foi incluída em seu harém e se tornou a favorita, para surpresa dos súditos e da comunidade internacional. Com ela, Solimão teve seis filhos. Hoje, tesconjuro, é o Dia Nacional de Combate ao Fumo.


Ruminanças
“Tudo está em ter gênio aos vinte anos e talento aos oitenta” (Camille Corot, 1796-1875).

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