domingo, 1 de fevereiro de 2015

Assuntos - Eduardo Almeida Reis

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/02/2015 




Aquilo sobre o que se conversa ou se discorre (verbalmente, por escrito, em artes plásticas etc.), assunto é coisa que não falta por aí. Tanto assim que, para fugir da violência e da corrupção, a mídia impressa, falada e televisada focou seus comentários nas artes e no aparelho reprodutor externo do macho da espécie Homo sapiens sapiens. Vamos por partes antes de chegar às partes baixas. Lucia Koch, nascida em Porto Alegre, no ano de 1966, é doutora em poéticas visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Artista multimídia, escultora e fotógrafa, expôs até 31 de janeiro na Galeria Nara Roesler.

Em vez de esculpir bobagens como Alfredo Ceschiatti, Amílcar de Castro e outros gênios, Lucia Koch expôs Dupla Basculante (2014), “obra que não leva a lugar nenhum, mas gera reflexão”, na opinião meditada dos atuais críticos de arte. Trata-se uma porta metálica com oito vidros acima da metade, os três últimos de cima basculantes. Vidros de cores educadas: dois cinzentos, um branco, dois azuis e três bege. Porta perpendicular à parede de um salão: você olha de um lado, olha do outro, passa ao lado e “gera reflexão”. Talvez parecida com a reflexão gerada pela estátua de bronze, com 2,10m de altura, do atleta Cristiano Ronaldo inaugurada no final do ano na Ilha da Madeira, onde nasceu.

Toda a mídia comentou o tamanho do pênis do atleta esculpido em bronze sob o calção que usa para jogar futebol. A ser verdade, o tamanho da peça não o impediu de ser o jogador mais premiado de todos os tempos. Mais adiante, Jô Soares entrevista um professor de direito civil, autor de obra jurídica que esgotou sua primeira edição em poucos dias, e o mestre leva xerox de uma sentença de anulação de casamento por jumentismo, quando a jovem recém-casada descobriu que a peça de seu marido, em posição de sentido, exigiria túnel maior que o Rebouças do Rio. Em descanso, não é peça de assustar: tem 16 centímetros de comprimento por não sei quantos de circunferência. Animada, impede aquilo que o jurista chamou de congresso sexual, talvez inspirado na discussão entre os deputados Bolsonaro e Maria do Rosário. Assustada, a recém-casada ganhou na primeira instância e por unanimidade no tribunal, anulando seu casamento.

O Google, que sabe tudo, diz que jumentismo é anomalia biológica em que o homem nasce com o pênis de até 1 metro. Na verdade, ao nascer deve ser menor, mas aumenta com o passar dos anos e serve de assunto para entrevistas na tevê.

Philosophares
Circulam na internet, na tevê e noutras telas fotos e filmes de um casal ou mais pessoas ligadas em seus smartphones, sem conversar, sem trocar ideias com os circunstantes. A cena é vista como sinal do fim dos tempos e dizem que foi prevista por Einstein. Como tudo hoje tem que ser em inglês, dizem que cada uma das pessoas está wired (que tem instalação elétrica ou telefônica, ligada à internet etc.). Muitíssimo a propósito, aprendi outro dia mais um significado de fio terra, que, numa instalação elétrica, é o fio neutro. Em inglês é ground wire e no submundo da indecência brasileira significa dedo enfiado num lugar que não posso especificar.

Enquanto philosopho, peço licença para explicar e justificar as cenas em que as pessoas, de olho nos respectivos smartphones, se desinteressam dos outros. Em primeiro lugar, temos a falta de educação, que já acabou com o obrigado, o bom-dia, o boa-noite e outros cumprimentos civilizados. Mas há outras explicações que só um philosopho supimpa pode trazer à colação, o que significa “citar a propósito, referir”.

Participando do grupo, o sujeito está vendo e sentindo o que os outros veem e sentem, enquanto wired sabe de coisas que os outros não estão sabendo, vê coisas que os circunstantes não veem. Além do mais, a proximidade dá ideia de posse, enquanto a distância alcançada pelo smartphone dá ideia de viagem, de aventura, desbravamento, pioneirismo. Era o que me cabia explicar à luz do mais sério philosophar.

O mundo é uma bola

1º de fevereiro de 1718: erupção na Montanha do Pico na Praia do Almoxarife, Açores. Notas açorianas interessam-me sobremaneira, porque recebo queijos daquele arquipélago trazidos pelo excelente amigo Artur Bettencourt, advogado em Pouso Alegre.

Em 1908, o rei Carlos I, de Portugal, e seu filho mais velho Luís Filipe, duque de Bragança, são assassinados no Terreiro do Paço em Lisboa por dois membros da Carbonária, Manuel Buiça e Alfredo Costa. A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que atuou em Itália, França, Portugal e Espanha nos séculos 19 e 20. No mesmo dia, Manuel II, de Portugal, ascende ao trono.

Em 1918, a Rússia adota o calendário gregoriano e em 1924 o Reino Unido reconhece a União Soviética, enquanto o papa Pio XI elevava a diocese de Belo Horizonte a arquidiocese, diocese que exerce jurisdição sobre outras e que se encontra sob o controle oficial de um arcebispo.

Hoje é o Dia do Publicitário.

Ruminanças
“Que fim levou a brilhante publicidade brasileira?” (R. Manso Neto). 

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