domingo, 1 de fevereiro de 2015

O app que funciona como um psiu

 Aplicativo para celulares criado por pesquisador da Unicamp avisa o deficiente auditivo que seu nome está sendo chamado


Vilhena Soares
Estado de Minas: 01/02/2015




Aplicativos de celulares têm facilitado muitas tarefas do cotidiano. Disponibilizadas de maneira prática, em grande parte das vezes gratuitamente, essas ferramentas tecnológicas se mostram também muito úteis às pessoas com algum tipo de deficiência. Pensando nesse público, um pesquisador brasileiro desenvolveu um programa que usa o smartphone para chamar a atenção de surdos. Com o invento, o telefone se torna o ouvido do usuário, identificando quando o nome dele é chamado.

O dispositivo utiliza um sistema de reconhecimento de voz e, ao ser instalado no telefone, emite alertas vibratórios e sonoros sempre que o nome do dono do aparelho é pronunciado. Assim, é possível simplesmente chamar o deficiente auditivo pelo nome, como se faz com pessoas ouvintes, que ele saberá que alguém quer conversar com ele.

Autor do trabalho, Marcos Sodré conta que a ideia de desenvolver um projeto voltado para comunidade surda surgiu da observação das dificuldades pelas quais esse público passa no dia a dia. “Notei que não existia um dispositivo que facilitasse a vida de pessoas que sofrem com surdez em uma situação simples e corriqueira, como alguém chamando o seu nome. Outros recursos utilizados para isso é o uso da língua de sinais, a leitura labial e o toque no ombro. Quis buscar algo que complementasse e fosse mais eficientes que essas técnicas”, diz o técnico em informática e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para concretizar sua ideia, nada parecia mais eficaz que um aplicativo de celular, uma vez que os smartphones se tronam cada vez mais acessíveis à população. Ao isntalar o app — que recebeu o nome de TAADA (sigla para Tecnologia Assistiva para Auxilio ao Deficiente Auditivo) —, o usuário seleciona seu nome a partir de uma extensa lista cadastrada no programa. A escolha serve de comando para o celular: se alguém pronunciar o nome escolhido próximo do aparelho, ele vibra e pisca para avisar o dono de que alguém chamou seu nome.

“Quando o nome escolhido é pronunciado por qualquer locutor, o sistema reconhece a palavra e gera um alerta vibratório e luminoso no aparelho, para que a pessoa com deficiência auditiva tenham a percepção de que alguém está chamando por ela”, explica Sodré. O pesquisador ressalta que o sistema utilizado é bastante simples, assim como sua instalação no aparelho. “A relação de nomes que aparece no celular é muito semelhante a uma lista de contatos. E, depois de o nome ser registrado, o microfone do smartphone realiza a captação do som”, destaca.

Testes O aplicativo foi testado com a ajuda de surdos e obteve sucesso a uma distâncias de até 5m entre o aparelho e a pessoa que chamava pelo nome do usuário. O programa se mostrou eficiente até mesmo em ambientes externos. O novo software ainda passará por modificações, mas o objetivo de Sodré é que, em breve, ele possa ser disponibilizado na internet. “A ideia é que possamos liberar esse aplicativo na web para ser baixado gratuitamente. Ele poderá ser baixado em qualquer celular com sistema Android”, antecipa o autor.

O técnico em informática está certo de que o TAADA fornece um serviço inédito para os deficientes auditivos. “Antes de começar a desenvolver esse trabalho em meu mestrado, visitei a Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade (ReaTech), que acontece anualmente em São Paulo e que integra todas as tecnologias existentes voltadas para auxílio a deficiências de forma geral. Quando conversei com associações de deficientes auditivos e com empresas que trabalham com produtos voltados para a audição nesse vento, percebi que não existia nada parecido com o que eu pensei em criar”, conta.

Para Gláucio Siqueira, professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o trabalho de Sodré é interessante e pode auxiliar a vida desse público no cotidiano. “É uma ideia bastante simples, que utiliza recursos já existentes em celulares, como reconhecimento de voz, mas direcionada para uma tarefa que representa uma dificuldade para pessoas surdas. Ela pode ser de grande utilidade para essa parcela da população”, avalia.

Segundo o especialista, o desenvolvimento de produtos tecnológicos voltados para ampliar a acessibilidade de pessoas com deficiência tem aumentado bastante, o que é bastante positivo. “Temos muitas pessoas trabalhando nessa área, e acho que a tecnologia pode ajudar muito essas pessoas. Quando usamos a internet, isso é ainda melhor, já que o acesso à web tem aumentado consideravelmente. E o celular é uma ferramenta muito interessante, que pode auxiliar na popularização e no acesso a esses novos dispositivos”, afirma Siqueira. 

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