sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Estudo aumenta precisão ao simular clima


Estudo aumenta precisão ao simular clima

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Pesquisadores americanos acabam de achar um meio de determinar quais modelos da mudança climática parecem ser os mais precisos. E a má notícia: os melhores são os que predizem modificações mais drásticas no clima para as próximas décadas.
O segredo do trabalho, conduzido por John Fasullo e Kevin Trenberth, do Centro Nacional Para Pesquisa Atmosférica em Boulder, Colorado, foi se concentrar naquilo que se podia ver -no caso, a umidade relativa em regiões subtropicais- para compreender o que é muito mais difícil de medir: a dinâmica das nuvens.
As nuvens são um dos elementos-chave na interpretação do fenômeno do aquecimento global. Isso porque elas têm um efeito duplo.
Por um lado, por serem claras, elas refletem a luz solar para o espaço, resultando em resfriamento. Por outro, o vapor d'água nelas é um poderoso gás do efeito estufa, podendo gerar aquecimento.
Os modelos de computador têm dificuldade em lidar com as nuvens e seu papel na evolução do clima.
Gabo Morales/Folhapress
Nuvem cobre céu na zona oeste de São Paulo
Nuvem cobre céu na zona oeste de São Paulo
INCERTEZA, EM TERMOS
Já é possível simular, ao menos em parte, o efeito delas, e existe um consenso mais ou menos claro de que a soma de tudo que elas fazem resulta em suave resfriamento. Entretanto, ainda há muita incerteza sobre o que isso significa para o futuro.
Tal incerteza é o grande mal a afetar a ciência do aquecimento global. Os detratores costumam apontá-la como a prova de que o medo da mudança climática é muito mais um movimento ideológico do que uma conclusão científica inescapável.
Ao que tudo indica, porém, a incerteza diz respeito ao nível de aquecimento para as próximas décadas, mas não ao fenômeno em si.
Alguns modelos sugerem que, nos próximos cem anos, veremos um aumento da temperatura média da ordem de 4,5 graus Celsius. Já os mais modestos preveem que tudo não passará de uma variação de 1,5 grau Celsius.
Foi aí que entrou em cena o lampejo de Fasullo e Trenberth. Como é difícil observar diretamente as propriedades das nuvens e compará-las com o que os modelos oferecem, eles decidiram estudar a umidade relativa do ar, sobretudo nas regiões subtropicais, em geral mais secas.
A vantagem é que dados de umidade relativa são obtidos com confiança a partir de satélites, de forma que é possível contrastar as previsões dos modelos para o presente com observações reais.
Também há forte correlação entre a umidade relativa e o processo de formação de nuvens, de forma que, a partir de um, é possível inferir o efeito de outro.
O chato é que os modelos que parecem estar mais corretos são justamente aqueles que preveem mudanças mais fortes, da ordem de 4,5º C.
A questão das nuvens, porém, não é a única fonte de incertezas. "Esse trabalho é só uma das peças do quebra-cabeças da sensibilidade climática", afirma Karen Shell, da Universidade Estadual do Oregon (EUA), que comentou a pesquisa na mesma edição da revista "Science" na qual os resultados saíram.

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