sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Protesto reúne milhares em Buenos Aires - Sylvia Colombo


Oposição estima manifestantes em 500 mil; panelaço é o maior realizado contra Cristina desde que assumiu a Presidência
Manifestações ocorrem também no exterior; governo não comenta e diz ver 'sabotagem' no apagão de anteontem
Carlos Sarraf/”Clarín”
Manifestantes tomam a avenida 9 de Julio, a principal via da capital argentina, Buenos Aires; protestos levaram às ruas milhares de pessoas no país
Manifestantes tomam a avenida 9 de Julio, a principal via da capital argentina, Buenos Aires; protestos levaram às ruas milhares de pessoas no país

SYLVIA COLOMBODE BUENOS AIRESUm megapanelaço organizado por opositores da presidente Cristina Kirchner -o "8N", como foi batizado pelos organizadores em alusão à data (8 de novembro)- reuniu ontem à noite dezenas de milhares de pessoas na capital argentina, Buenos Aires.
A organização do protesto estimou em 500 mil o total de participantes -a polícia não divulgou dados até ontem à noite. Ainda assim, a manifestação é a maior realizada contra o governo desde que Cristina assumiu a Presidência argentina, há cinco anos.
Diante do obelisco da capital iluminado com as cores da bandeira (azul e branco), os manifestantes pediram mais segurança e liberdades democráticas e rejeitaram a "re-reeleição" de Cristina, ideia lançada por intelectuais, mas não encampada oficialmente pelos governistas.
Durante o protesto, ouviam-se slogans como "não votei nela", "isto é para Cristina, que está assistindo pela TV" e "está muito mal, mentindo para o povo em cadeia nacional". Os participantes do ato eram principalmente de classe média e alta.
O protesto transcorreu de maneira pacífica, apesar dos ônibus cheios e da falta de táxis para transportar os participantes da manifestação.
Políticos de oposição ao kirchnerismo não compareceram, com a exceção da senadora Maria Eugenia Estenssoro, da Coalición Civica.
À Folha Estenssoro disse que a manifestação era um "momento de virada". A administração de Cristina, eleita para seu segundo mandato em outubro do ano passado, vem sendo alvo de mais críticas devido às medidas tomadas para tentar conter a crise e às restrições à mídia.
Membros da cúpula do governo evitaram comentar o panelaço, intensamente anunciado por meio de cartazes e spots publicitários.
Marchas semelhantes foram realizadas em outras cidades argentinas, como Rosario, Córdoba e Mendoza.
Houve manifestações de argentinos também na Austrália, nos EUA e em países da Europa. Em SP, um pequeno grupo se reuniu diante do Banco de la Nación Argentina, na avenida Paulista.
'SABOTAGEM'
O governo argentino fez uma denúncia na Justiça para que seja investigado o apagão que, anteontem, deixou 3 milhões de pessoas sem luz em Buenos Aires, um dia antes do megapanelaço.
Tentando esquivar-se das acusações de responsabilidade do governo em lidar com as consequências do apagão -houve suspensão dos transportes públicos municipais e nacionais e da distribuição de água- o ministro do Planejamento, Julio De Vido, falou em "sabotagem".
"Não podemos jogar a culpa no calor. Nos chamam a atenção a hora, o lugar e a demanda", disse. O apagão começou por volta das 18h (19h de Brasília) e só terminou às 22h (23h), afetando o regresso dos portenhos às suas casas em bairros da região central, Recoleta, Belgrano, Palermo e parte do "conurbano" (periferia).
Em discurso no começo da tarde, Cristina não comentou o caso do apagão e preferiu evocar o marido, seu antecessor Néstor Kirchner (1950-2010), como exemplo de valentia em momentos difíceis.
"Ninguém poderá recordá-lo jamais fugindo, nem deixando de assumir responsabilidades, nem baixando a cabeça, ainda que na derrota. Pelo contrário. Isso foi o que transmitiu para mim: não relaxar nunca. Nem nos piores momentos, porque é nos piores momentos que se conhecem os verdadeiros dirigentes de um país", disse.

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