sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Barbara Gancia

FOLHA DE SÃO PAULO

Maldito Congresso Nacional
Eu me disporia a deportar todo o Congresso para o Mali, ninguém ia sentir a menor falta, quer apostar?
JÁ QUE esta é a última coluna do ano, que tal falar sobre o as­sunto que deveria ser o mais comentado nas festinhas da firma?
A manobra dos congressistas para fraudar as regras dos royalties do pré-sal não fez a ficha cair? A esta altura eu me disporia a deportar todo o Congresso para a costa do Mali, ninguém ia sentir a menor falta, quer apostar? Bem, talvez do Romário quando a TV mostrasse replays de gols da Copa de 1994.
A esta altura, até aquele ajudante de Papai Noel que nunca saiu de sua toca coberta de neve lá na Lapônia já conseguiu perceber que se não fos­se este Congresso de quinta não te­ria havido mensalão, certo?
Pessoal fala que a construção da usina de Belo Monte é um escânda­lo ou que FHC deixou o país à beira do colapso energético, mas alguém por acaso já analisou a regulamen­tação para consórcios de energia?
Sujeito precisa ter licença disto e daquilo, tem de ser dono de uma terra das dimensões da Suíça, pre­cisa do consentimento da turma do ambientalismo... Ou seja, o em­preendedor entra com o panetone e o governo com a mandioca. Em valores corrigidos pela taxa Selic. Por isso nada anda ou anda apenas para conseguir arrancar uma grana do BNDES lá pra frente.
Nestes dias, um empresário tipi­camente Fla-Flu, ou seja, que con­sidera todo petista corrupto, acha que houve aparelhamento de Esta­do etc, veio me dizer que acha um escândalo as "cláusulas sigilosas" nos contratos das obras da Copa.
Cito o exemplo por ser uma argu­mentação típica de "torcedor" que não prima pela objetividade. Veja: obras podem levar até cinco anos para começar depois de licitadas porque quem perde vai lá e impug­na o processo. O que se tentou evi­tar neste caso foi o atraso, isso não quer dizer que não tenha havido li­sura. Mas o pessoal já sai misturan­do tudo e bradando "Rosemary!", "Mutreta!", tudo na mesma frase.
Ninguém está dizendo que quem não abusou não deva se explicar diante do juiz -não é mesmo, Rosemary? Mas é equivocado procurar um bicho-papão a cada esquina. A revista "The Economist" pediu a cabeça de Mantega e a galera vibrou. Isso tem algum significado especial? Ué? Os ventos da crise de 2008 finalmente bateram e os preços das commodities caíram. Al­guém achou que iam ficar eterna­mente em alta? Muito pior do que o Mantega ou a atual gestão linha "gerentona" é a qualidade do nosso Congresso -e contra isso ninguém faz Fla-Flu.
Já se vão décadas das eleições diretas e até hoje nenhum presidente conseguiu passar nem sequer pacotes básicos 1.0 de reformas fiscal, previdenciária e do Judiciário.
Não fossem as tais medidas provisórias e a moeda de troca dos cargos, diga-me, meu dileto leitor: como o/a presidente governaria?
Já me vejo processada por desacato por algum excelentíssimo que se dirá ofendido, me chamará de antidemocrata e invocará o respaldo dos votos recebidos. Um beco sem saída criticar parlamentares.
Só não estamos totalmente perdidos porque, apesar das forças ocul­tas que operam dentro e fora do Congresso, temos um país tão pujante que vai deixando a capitania para trás para assumir seu posto como potência -e isto a despeito de nossas toscas regrinhas eleitorais, de um Legislativo inominável e de um Judiciário composto por umas loucas de Chaillot que pudemos ver neste ano do que são capazes para ser empossadas.
Tivemos quatro presidentes que magistralmente seguiram em frente promovendo a continuidade do trabalho do antecessor. Não faz sentido ficarem nossos empresá­rios e a elite de picuinha num Fla-Flu sem fim. Por que não miram no entorno em vez de centrar sempre no mesmo alvo?

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