domingo, 16 de dezembro de 2012

Mulher faz mais sacrifício para ascender na carreira

Folha de São Paulo

Entre executivos, estudo indica mais mulheres separadas do que homens
Segundo pesquisadora, há dificuldades de conciliar profissão e família, apesar de desejo das executivas
MARIANNA ARAGÃODE SÃO PAULOApesar de estarem aumentado sua presença em cargos de comando em empresas no Brasil nos últimos anos, as mulheres ainda pagam um preço alto para ascender ao topo das corporações.
O desafio de conciliar carreira e vida pessoal se reflete em um percentual maior de executivas separadas, sem filhos e com pouco tempo para hobbies, em comparação com o universo masculino, segundo estudo recente da consultora e pesquisadora da PUC-Minas Betania Tanure.
De acordo com a pesquisa, o percentual de mulheres em cargos de presidência, diretoria ou gerência que não têm filhos é de 40% -o de homens, 19%. A proporção de executivas com apenas um herdeiro (44%) também é maior que entre seus pares masculinos (29%). Já a quantidade de executivas separadas ou solteiras nos altos escalões é de 35%, sendo que a carreira foi o principal motivo para a separação (64%). O percentual de executivos separados ou solteiros é de 14%.
EQUILÍBRIO
"Mesmo ascendendo na carreira, elas não querem abrir mão dos papéis que lhe são atribuídos, como cuidar da casa, da família e do relacionamento. E isso é extremamente custoso", diz Betania.
A dificuldade de chegar ao balanço ideal entre essas missões é revelada por outro indicador: 74,7% das mulheres estão insatisfeitas com a distribuição do seu tempo. Só 18% conseguem se dedicar a atividades de lazer, ante 82% dos homens.
Paradoxalmente, a maioria das profissionais que alcançaram o topo não abandonaria a carreira para se dedicar à família.
"Elas se sentem apaixonadas pelo que fazem, apesar da 'culpa'", diz Betania.
Hoje, as mulheres representam 5% do total de executivos na presidência de empresas no Brasil, ante 1% dez anos atrás. Na diretoria, já são 19% do total, ante 10% há uma década (veja quadro).
NOVA AGENDA
Diretora em um grupo de mídia digital, a executiva Luciana Ribeiro, 35, diz que adiou a maternidade para se dedicar à profissão.
Com 28 anos, a advogada tornou-se diretora jurídica e, após um MBA no exterior, migrou da área técnica para a de negócios da empresa, o que exigiu mudar de cidade.
"Tive muitas promoções quando jovem, o que me fez priorizar esse aspecto. Mas ainda pretendo ter filhos."
A executiva Juliana Azevedo, 37, diretora de marketing de uma multinacional de bens de consumo, conta que aprendeu a "repensar" sua agenda a partir do nascimento de Rafael, 3.
"Comecei a criar espaços no meio do dia para ficar com ele e a levá-lo a viagens de trabalho. Mas continuo trabalhando muito, inclusive em finais de semana", diz.
Participaram do estudo 965 executivos, sendo 222 mulheres, no início deste ano.


    Para americanas, ter marido e filhos 'não é tudo'
    DE SÃO PAULOPara mais de um terço das executivas americanas, ter filhos e um casamento estável não significa realização total, revela uma pesquisa feita pelo banco Citi em parceria com a rede profissional LinkedIn nos Estados Unidos.
    O estudo mostrou que, para 36% das entrevistadas, o casamento não está na lista de realizações incluídas no "ter tudo". Para 27%, ter filhos também não.
    A definição de sucesso na carreira também varia entre elas -e não se resume a atingir cargos altos em grandes empresas.
    Apenas 17% das mulheres afirmaram que atingir o topo de uma organização era um fator em sua avaliação de "ter tudo".
    Para a maioria (68%), o sucesso foi definido como ter um emprego do qual goste e no qual seu trabalho é valorizado. Para outras 15%, ser bem-sucedida significa ser sua própria chefe.
    Outra aspecto da pesquisa mostra que mulheres jovens valorizam o sucesso profissional mais que outras.
    Entre as entrevistadas com menos de 35 anos, 26% relacionam "ter tudo" a atingir o topo da carreira. Para aquelas com mais de 35, esse percentual é de 11%.
    Para o estudo, foram entrevistadas 520 mulheres em agosto deste ano.
    DIFERENTE
    No Brasil, no entanto, mostrar-se bem-sucedida também no plano pessoal ainda faz parte dos desejos das mulheres -e da expectativa da sociedade, avalia a pesquisadora da PUC-Minas Carolina Maria Santos.
    "É um traço bastante forte da cultura latina. Espera-se que as mulheres tenham um marido e cuidem dos filhos e da família", afirma Carolina, que conduziu o estudo sobre as executivas brasileiras ao lado da consultora Betania Tanure.
    "São elas também que costumam assumir o cuidado com os pais quando ficam idosos ou adoecem."

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